A Índia está muito próxima de atingir sua meta de mistura de 20% de etanol na gasolina, conforme dados dos últimos meses. Em fevereiro de 2025, o teor médio da mistura alcançou o recorde de 19,7%, levemente acima dos 19,6% registrados em janeiro e um salto expressivo em relação à média de fevereiro de 2024, que era de 13,4%. No bimestre, o consumo médio mensal de etanol foi de 810 milhões de litros, o que representa um crescimento de 44,1% frente ao mesmo período do ano anterior.
Apesar das restrições impostas pelo governo na safra 2023/24 — como a limitação do uso de caldo de cana e melaço rico na produção de etanol para evitar escassez de açúcar no mercado interno —, o país tem adotado diversas políticas de estímulo à expansão da capacidade produtiva. Entre as iniciativas estão linhas de crédito subsidiadas para construção e modernização de destilarias e a fixação de preços mínimos para o etanol.
Essas medidas têm contribuído diretamente para os compromissos climáticos assumidos pela Índia no Acordo de Paris, especialmente no que se refere à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A evolução da mistura é expressiva: em 2014, o teor médio era de apenas 1,5%, subindo para 10% em 2022 e agora praticamente atingindo os 20%, meta originalmente prevista para 2026.
Como reflexo desse esforço, a produção de etanol no país mais que triplicou nos últimos cinco anos, passando de 3,02 bilhões de litros na safra 2020/21 para uma projeção de 9,30 bilhões de litros em 2024/25. Ainda que a proposta inicial envolvesse maior diversificação da cadeia da cana-de-açúcar, os grãos se consolidaram como a principal matéria-prima, respondendo por 63,7% da produção estimada para a atual temporada.
A tendência é que o protagonismo dos grãos continue crescendo. Isso porque o governo indiano lançou o programa Esquema de Subvenção de Juros do Etanol, que prevê incentivos à conversão de usinas originalmente voltadas à cana para o processamento de grãos durante a entressafra, por meio de novos financiamentos com juros subsidiados.
Além disso, a política de preços administrada pelo governo favorece economicamente a produção a partir do milho. Atualmente, o etanol de milho é comercializado por INR 71,86/litro (cerca de R$ 4,71/litro), enquanto o etanol obtido diretamente do caldo da cana recebe INR 65,61/litro (R$ 4,30/litro). Quando os valores são convertidos para equivalentes ao mercado doméstico de açúcar cristal, o etanol de milho apresenta rentabilidade superior, não apenas em comparação às demais rotas de produção, mas também frente aos preços internacionais do açúcar. Mesmo com o contrato futuro do açúcar bruto em Nova York rondando os US$ 20 centavos por libra-peso, o etanol de milho na Índia ainda está 13,2% acima da paridade de exportação do açúcar.
Com a meta de 20% praticamente alcançada, o governo indiano começa agora a traçar novos horizontes. Estão em discussão políticas para incentivar o uso de veículos flex-fuel (FFVs) e híbridos elétricos (HEVs), além de reformas tributárias e investimentos em tecnologias de etanol de segunda geração (2G) e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF). Para este último, a Índia estabeleceu a meta de incluir 1% de SAF no combustível de aviação para voos internacionais até 2027, com previsão de aumento para 2% em 2028.
Também estão em avaliação planos que consideram elevar o percentual de mistura do etanol na gasolina para além dos atuais 20%, reforçando o compromisso do país com uma matriz energética mais limpa e diversificada.
Fonte: portaldoagronegocio