O governo chinês anunciou, em 4 de março, a suspensão das licenças de importação de soja de três empresas dos Estados Unidos: CHS Inc., Louis Dreyfus Co. e EGT, esta última parcialmente controlada pela Bunge Global SA. A medida foi tomada após a alfândega chinesa detectar a presença de ergot e agentes de revestimento de sementes nos carregamentos do grão.
A decisão veio em um momento de crescente tensão comercial entre os dois países, coincidindo com a elevação de tarifas impostas pelos EUA sobre produtos chineses. A nova taxa de 10% sobre mercadorias da China fez com que Pequim reagisse, aplicando tarifas adicionais sobre commodities agrícolas americanas, incluindo soja (10%), sorgo (10%) e trigo e milho (15%). As novas tarifas incidirão sobre um total de US$ 21 bilhões em produtos e entram em vigor a partir de 10 de março, com exceção das cargas já em trânsito, que terão até 12 de abril para desembarque.
Mesmo antes dessa escalada tarifária, as importações agrícolas da China provenientes dos EUA já estavam em declínio, totalizando US$ 29,25 bilhões em 2024, uma retração de 14% em relação ao ano anterior. Apesar dessa queda, o país asiático continua sendo o principal destino da soja americana, com compras estimadas em US$ 11 bilhões.
Diante desse cenário, produtores norte-americanos manifestaram preocupação com uma possível nova guerra comercial. Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja, alertou para os impactos desproporcionais ao setor agrícola, ressaltando que concorrentes como o Brasil estão bem posicionados para suprir a demanda chinesa.
A última grande disputa comercial entre EUA e China, em 2018, resultou em prejuízos de US$ 27 bilhões para a agricultura americana, sendo a soja responsável por 71% desse montante. “Sabemos que produtores estrangeiros, especialmente no Brasil, esperam uma safra abundante este ano e estão prontos para atender à demanda chinesa. Ainda não recuperamos totalmente o mercado perdido na guerra comercial anterior, e essa nova tensão pode agravar ainda mais as dificuldades dos agricultores”, concluiu Ragland.
Fonte: portaldoagronegocio