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Agronegócio

Brasil pode ser líder mundial na busca por uma matriz energética sustentável

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O país bateu recorde histórico de exploração e produção de petróleo, no início de 2023, o que gerou um crescimento exponencial na demanda de serviços e conservação, não apenas nas plataformas de petróleo, como também na área de refino, com unidades privatizadas e mistas, onde há grandes oportunidades nas paradas de manutenção de plataformas de petróleo, bem como em flotéis (embarcação acoplada às plataformas para assistência aos colaboradores).

Em relação ao segmento de energia elétrica, a demanda é ainda maior, pois o país vem recebendo muitos investimentos para o desenvolvimento de sua matriz energética, especialmente no campo das energias limpas e renováveis. Segundo a Aneel, 80% de todos os projetos em desenvolvimento são destinados à geração limpa. Isso representa uma virada sem precedentes na matriz energética brasileira.

De acordo com o IPCC, sigla que representa o Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas, as maiores causas do aumento exponencial dos níveis de gases com efeito estufa na atmosfera são, além da queima de combustíveis fósseis, as alterações ao nível da utilização dos solos e das florestas, bem como os processos industriais. Com isso, os níveis de dióxido de carbono (CO2) aumentaram 47,3% e atingiram médias anuais de 410 partes por milhão. O metano (CH4) atingiu uma média de 1866 partes por mil milhões, até 157,8%.

A dependência dos combustíveis fósseis está na origem das alterações climáticas: em 2019, o carvão, o petróleo e o gás contribuíram para mais de 80% de todas as emissões de CO2 relacionadas com a atividade humana. Certamente, os altos investimentos em geração de energia solar promovem enorme oportunidade para as empresas atuarem na descarbonização e, consequentemente, na transição para a energia limpa. O mercado é muito promissor, com mais de 35% de energia eólica e 28% de fotovoltaica. Ano passado, o país registrou expansão de mais de 8 mil MW em sua matriz energética. A energia eólica e solar podem proporcionar mais de um terço dos cortes de emissões necessários até 2030 para limitar o aquecimento global a 1,5 graus.

Os mercados de crédito de carbono também permitem que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de redução de emissões e/ou de captura de carbono.

A ideia por trás deles é transferir o custo social das emissões para os agentes emissores, ajudando a conter o aquecimento global e as mudanças climáticas. Há dois tipos de mercado de carbono: o regulado (preço definido pelo órgão regulador), e o voluntário (preço negociado em contrato, por projeto).

Apenas em 2022, o país gerou 89% de sua eletricidade a partir de fontes limpas, o que inclui 63% de energia hidrelétrica, 12% de energia eólica e 3% de energia solar. Os combustíveis fósseis foram responsáveis por 11% da geração do Brasil, sendo a maior parte em gás (7%). Os dados são da quarta edição anual da Global Electricity Review. Fato é que o Brasil tem potencial para liderar a corrida global pela matriz energética limpa.

Uma significativa transformação tecnológica está em curso e importantes empresas e novos empreendedores em setores de equipamentos de geração, mineração, metalurgia e automotivo, entre outros, vêm aproveitando as oportunidades e investindo pesadamente em P&D e novos projetos.

As baterias e células de combustível de hidrogênio estão no centro da transição energética, pois são necessárias para estabilizar a corrente elétrica produzida por meio de fontes solar e eólica, além de acumuladores de energia para locomoção de veículos. Exigem, juntamente com novos equipamentos de geração de energia, o emprego de minerais como lítio, grafite, cobalto, níquel, manganês, elementos de terras raras e cobre.

O Brasil possui importantes reservas desses minerais: lítio 8%; grafite 27%; cobalto, ainda pouco representativo; níquel 15%; manganês 18%; terras raras 20%; cobre: o Brasil é o 10º produtor, mas as reservas são pouco expressivas. Esse cenário deve ser considerado nas análises sobre novas oportunidades e novos negócios nos setores de energia e mineração.

A viabilização do uso do hidrogênio como energético, dentre outros desafios, depende de sua produção com baixa emissão de carbono, uma vez que é derivado de elementos como a água e o metano, maior componente do gás natural. A produção ocorre por meio da eletrólise da água, que requer uma fonte de eletricidade limpa, como solar e eólica. É o chamado hidrogênio verde.

A região Nordeste do Brasil possui potencial para esse tipo de geração, com capacidade de exportação para o mercado europeu, o que daria uma vantagem competitiva ao país nesse tipo de produção. No entanto, ainda são necessários investimentos tecnológicos para viabilizar uma produção em larga escala.

Outra via de produção é derivada da reforma do gás natural, que respondeu por mais de 80% de todo o hidrogênio produzido no mundo em 2020. Como esse processo emite CO2, precisa estar atrelado ao uso de CCUS – Carbon capture, utilisation and storage, que, em português, podemos traduzir para captura, utilização e armazenamento de carbono, garantindo a produção do hidrogênio com baixos níveis de emissão e a custos competitivos. Essa via é estratégica, pois permite escala ao uso do hidrogênio como energético e, consequentemente, promove a transição para uma economia de baixo carbono. As enormes reservas de gás natural do pré-sal favorecem que o Brasil também seja um grande produtor de hidrogênio a partir dessa rota.

Por fim, é importante ressaltar que o padrão de emissões brasileiro é muito diferente do cenário global. Na média mundial, 80% das emissões vêm do setor de energia. Como o Brasil possui uma matriz energética bastante limpa, o setor é responsável por apenas 19% das emissões. Assim, a chance de potencializar inúmeras oportunidades competitivas que impulsionem o mercado de energia limpa e renovável no Brasil são imensas e podem posicionar o país como um dos principais atores no enfrentamento do aquecimento global.

Ricardo Moreira é CEO da Manserv Industrial, formado em Ciências Jurídicas, MBA em Administração de Negócios (Ohio) e especialista em Agile Transformation pela Harvard Business School.

Fonte: portaldoagronegocio

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