CENÁRIO AGRO

Tarifas de Trump ameaçam exportações de açúcar orgânico do Brasil para os EUA: setor em alerta

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Indústria de açúcar orgânico no Brasil sob pressão com nova política dos EUA

A imposição de tarifas e o fim de uma cota especial por parte do ex-presidente americano Donald Trump colocaram a indústria brasileira de açúcar orgânico em risco. O mercado norte-americano é o destino de cerca de metade da produção nacional desse tipo de açúcar, o que torna o setor especialmente vulnerável às mudanças comerciais.

Nova tarifa pode chegar a 98% para o açúcar orgânico brasileiro

Trump não apenas impôs uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, como também encerrou a cota de 210 mil toneladas criada há duas décadas, que permitia a entrada do produto orgânico sem taxas. Com o fim da cota, o valor a ser pago passa a ser de US$ 357 por tonelada — equivalente a uma tarifa de 48%. Somando esse valor à Tarifa Brasil de 50%, a carga tributária pode alcançar 98%, tornando as exportações para os EUA praticamente inviáveis.

Quatro empresas dominam o setor de açúcar orgânico no Brasil

As companhias Native (Grupo Balbo), Jalles Machado, Goiasa e Adecoagro são responsáveis pela produção nacional, com capacidade total de 280 mil toneladas por ano. Em 2023, 140 mil toneladas foram exportadas apenas para os Estados Unidos.

Dependência mútua entre Brasil e EUA

Apesar da dependência brasileira do mercado norte-americano, os EUA também precisam do produto: o país importa todo o açúcar orgânico que consome, sendo o Brasil o principal fornecedor, com 46% do volume em 2023. Em seguida vêm Colômbia (85 mil toneladas), Argentina (51 mil toneladas) e Paraguai (28 mil toneladas).

Mercado europeu também foi perdido por barreiras comerciais

A experiência recente com o mercado europeu preocupa os produtores. A União Europeia passou a importar açúcar orgânico colombiano sem tarifas, após acordos de livre comércio com Colômbia, Peru e Equador, enquanto o Brasil continua pagando uma tarifa de 414 euros por tonelada. Isso retirou a competitividade brasileira no bloco europeu.

Plinio Nastari, da consultoria Datagro, alerta que o mesmo cenário pode se repetir nos EUA se a tarifa for mantida.

Colômbia avança mesmo com custo maior

Mesmo com preços cerca de 30% superiores aos do Brasil, os colombianos vêm ampliando sua participação na Europa, evidenciando a importância do acesso livre de tarifas. Esse crescimento tem impulsionado a produção local de açúcar orgânico.

Produtores brasileiros falam em desespero e injustiça

Segundo Leontino Balbo, do Grupo Balbo, o Brasil foi responsável por abrir e desenvolver o mercado de açúcar orgânico nos Estados Unidos há três décadas. Na época, indústrias americanas procuraram fornecedores brasileiros para estabelecer relações de longo prazo e, desde então, a produção passou a ser feita sob demanda, ajustada às projeções fornecidas pelas empresas dos EUA.

Adaptação para o mercado internacional exige alto custo

A produção de açúcar orgânico é regulada por certificações específicas para cada país consumidor, o que aumenta os custos e exige adaptações constantes nos processos. Além da eliminação de químicos na produção agrícola, as usinas passaram por mudanças estruturais — com substituição de materiais industriais e personalização de empacotamento para diferentes mercados.

Mercado interno ainda é pequeno e sem incentivo

De acordo com Nastari, o consumo de açúcar orgânico no Brasil é “relativamente pequeno”, girando em torno de 12 mil toneladas ao ano — apenas 0,2% do consumo nacional. Segundo Balbo, as indústrias alimentícias brasileiras ainda não têm interesse no produto.

Preço do orgânico sobe, mas não compensa perda de mercado externo

Nos últimos meses, o açúcar orgânico tem apresentado um “prêmio” de até 50% sobre o açúcar convencional, frente aos 30% a 35% históricos. No entanto, Balbo afirma que, sem a exportação para os EUA, o modelo de negócios não se sustenta, já que o mercado externo ajuda a cobrir os altos custos fixos da produção orgânica.

Setor teme paralisação em até seis meses

A curto prazo, os estoques nos EUA estão baixos e os demais países fornecedores ainda não estão em safra, o que obriga os americanos a continuar comprando do Brasil. Porém, caso a tarifa seja mantida por mais tempo, Balbo estima que a produção deva ser interrompida em cinco a seis meses.

Segundo ele, a estrutura da Usina São Francisco, da Native, é incompatível com a produção de açúcar convencional. A usina emprega 2 mil trabalhadores — o dobro de uma planta tradicional — e não teria como se adaptar rapidamente à nova realidade de mercado.

A medida anunciada por Donald Trump coloca em risco não apenas a competitividade do açúcar orgânico brasileiro nos EUA, mas também a sustentabilidade de todo um setor que investiu por décadas na adaptação e no atendimento a nichos de mercado exigentes. Sem alternativas comerciais de peso e com baixa demanda interna, o futuro da produção orgânica de açúcar no Brasil permanece incerto.

Fonte: portaldoagronegocio

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