A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros causou forte repercussão no agronegócio nacional. A medida, anunciada nesta quarta-feira (9), ainda gera dúvidas sobre seus desdobramentos práticos e preocupa produtores, analistas e autoridades.
Especialistas apontam que o movimento carrega um peso político considerável e pode afetar não apenas a economia, mas também as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.
Resposta do Brasil será estratégica e diplomática
Diante do cenário, o governo brasileiro articula uma resposta coordenada. Segundo o consultor Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, há uma mobilização das equipes ministeriais e diplomáticas, com orientações aguardadas do Palácio do Planalto. A prioridade, segundo ele, é garantir a competitividade dos produtos brasileiros e preservar o bom relacionamento com o segundo maior parceiro comercial do país, atrás apenas da China.
Em pronunciamento oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que o Brasil não pretende retaliar economicamente neste momento. A estratégia do governo é usar os próximos dias para construir uma posição diplomática que evite a escalada do conflito.
Análise dos argumentos de Trump sobre déficit comercial
Trump justificou a taxação com base em “déficits comerciais insustentáveis” dos EUA com o Brasil. No entanto, Cogo rebate essa alegação, explicando que os dados mostram o oposto: nos últimos 17 anos, o Brasil acumulou déficits comerciais nas trocas com os norte-americanos, incluindo o desempenho parcial de 2025.
Bolsonaro também busca diálogo com os EUA
A CNN informou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende iniciar negociações diretas com a Casa Branca na tentativa de reverter a medida. A movimentação evidencia a dimensão política do impasse e o interesse de diferentes lideranças em proteger os setores exportadores brasileiros.
Setores mais afetados pela tarifa
Entre os principais segmentos impactados estão:
- Sucroenergético, com destaque para o etanol
- Suco de laranja
- Ovos e café
- Carne bovina
Produtos florestais, como celulose, papel e madeira
Esses setores têm nos Estados Unidos um mercado relevante e correm risco de perda de competitividade.
Riscos e efeitos indiretos para o agronegócio
A medida, acompanhada da abertura de investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, pode desencadear consequências amplas. Carlos Cogo alerta para o impacto imediato na economia, além da necessidade de diversificar mercados e defender os interesses do Brasil nas negociações internacionais.
O economista Roberto Dumas Damas, professor do Insper, também critica a politização da decisão, destacando que ela dificulta uma negociação pragmática entre os países. Dumas acredita que a tarifa pode ser revista no futuro, mas afirma que o prejuízo já está posto, inclusive no ambiente político brasileiro.
Efeitos da tarifa sobre o câmbio e a inflação
Além do impacto direto da tarifa de 50%, há efeitos colaterais, como a valorização do dólar frente ao real. Isso pode encarecer insumos e custos de produção, afetando não só o agronegócio, mas toda a cadeia de commodities. Segundo Dumas, essa pressão cambial tende a dificultar a queda dos juros no país, o que compromete o controle da inflação.
No dia seguinte ao anúncio, o dólar subiu quase 1% e voltou a ser cotado em torno de R$ 5,55, com possibilidade de alcançar R$ 6,00.
Comportamento dos mercados
A instabilidade foi sentida nas bolsas de commodities. Na quinta-feira (10), os preços oscilaram: soja e milho encerraram estáveis em Chicago, enquanto o café subiu mais de 1% e o açúcar caiu quase 2% em Nova York.
De acordo com o analista Pedro Vasconcelos, da Pátria Agronegócios, alguns setores podem tirar proveito da alta do dólar nas exportações, mas os custos também sobem, o que gera preocupação.
Setor florestal corre risco de perder mercado nos EUA
Os produtos florestais foram os principais itens agroexportadores do Brasil para os EUA em 2024, somando US$ 3,72 bilhões e 4,87 milhões de toneladas exportadas. Com a nova tarifa, esses itens se tornam menos competitivos frente a fornecedores do Canadá, Chile e Europa.
A Cogo Inteligência em Agronegócio alerta que esse cenário pode levar à perda de contratos, suspensão de investimentos e redirecionamento de produção para outros mercados. Empresas como Suzano, Klabin e Arauco podem ter suas margens reduzidas e enfrentar desafios logísticos e regulatórios para exportar a novos destinos, como Ásia e América Latina.
Além disso, o setor florestal é importante gerador de empregos em regiões como Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com a queda na demanda externa, há risco de demissões, cortes de contratos com fornecedores e queda na renda local.
Momento é de cautela e articulação
O agronegócio brasileiro enfrenta um cenário de incertezas e volatilidade. As próximas semanas serão decisivas para o governo definir uma estratégia clara e evitar impactos mais profundos. A mobilização do setor produtivo e das autoridades será fundamental para proteger a competitividade dos produtos nacionais e garantir a estabilidade das relações comerciais com os Estados Unidos.
Fonte: portaldoagronegocio