CENÁRIO AGRO

Sanções à Rússia: impactos no agronegócio brasileiro e desafios nas relações comerciais com os EUA

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A intensificação das tensões geopolíticas envolvendo a guerra entre Rússia e Ucrânia tem colocado o Brasil em uma posição delicada no cenário internacional. De acordo com relatório da Consultoria Agro do Itaú BBA, divulgado em julho de 2025, os países da OTAN, com apoio dos Estados Unidos, ameaçam impor sanções secundárias a nações que mantêm relações comerciais com a Rússia — entre elas, o Brasil. A medida visa pressionar Moscou por um cessar-fogo no conflito e poderá ter efeitos relevantes sobre o agronegócio brasileiro.

Tarifas norte-americanas e prazo curto para cessar-fogo

O presidente dos EUA, Donald Trump, propôs tarifas de até 100% sobre produtos russos e sanções adicionais aos países que continuarem negociando com o governo de Vladimir Putin. O prazo dado por Washington para o cessar-fogo foi drasticamente reduzido de 50 para 10 dias, encerrando-se em 8 de agosto.

Dependência do Brasil em relação à Rússia

O Brasil tem forte dependência da Rússia para o fornecimento de fertilizantes (26% das importações) e combustíveis (15%), que juntos representam 84% do valor total importado do país. Essa concentração torna o setor agrícola nacional altamente vulnerável a mudanças repentinas no fluxo comercial com a Rússia.

Além disso, produtos como níquel, ferro, aço e cereais também integram a lista de itens importados do país euroasiático. Caso sanções sejam impostas, o aumento de custos e a dificuldade de reposição desses insumos podem comprometer a competitividade do agronegócio brasileiro.

Exportações ameaçadas: destaque para amendoim, ervilha e amido

O impacto das sanções não se limita às importações. A Rússia é destino importante para diversas exportações do agronegócio brasileiro. Cerca de:

  • 27% do amendoim
  • 22% da ervilha
  • 11% do amido

são exportados ao mercado russo. Em caso de sanções, esses produtos podem enfrentar barreiras tarifárias elevadas, além de dificuldades logísticas para redirecionamento a novos compradores, o que ameaça os ganhos e a estabilidade dos exportadores.

Fertilizantes: principal ponto de atenção para o setor agrícola

A Rússia é uma das principais fornecedoras de fertilizantes potássicos e nitrogenados ao Brasil, sendo o segundo maior produtor global desses insumos. Em 2024, os russos responderam por:

  • 53% do MAP
  • 40% do cloreto de potássio (KCl)
  • 20% da ureia

As importações brasileiras de fertilizantes russos somaram US$ 3,7 bilhões em 2024, o que representa 27% do total gasto com fertilizantes naquele ano.

Possibilidades de substituição exigem tempo e investimento

Embora existam alternativas como Canadá, Marrocos e países do Oriente Médio, a substituição dos fertilizantes russos exigirá tempo, investimentos em infraestrutura, negociações diplomáticas e poderá gerar custos adicionais no curto prazo. A produção nacional de fertilizantes ainda está distante de atender à demanda do setor agrícola de forma autônoma.

No caso dos combustíveis, o impacto imediato pode ser o aumento no custo do frete, mas há espaço para estímulo ao uso do biodiesel como alternativa.

Trigo: risco moderado com chance de substituição

Apesar da Rússia ser o maior exportador global de trigo, o Brasil importa apenas 11% do cereal russo. A maior parte vem da Argentina (63%) e do Uruguai (12%), o que facilita a substituição do produto em caso de sanções. No entanto, o Brasil pode enfrentar concorrência acirrada por trigo de outras origens, caso diversos países passem a evitar o produto russo.

Amendoim: redirecionamento do mercado é um desafio

O mercado de amendoim é um dos mais expostos. Em 2024, a Rússia foi responsável por quase 27% da receita com exportação do grão brasileiro, somando US$ 92,7 milhões. Com os principais compradores concentrados em poucos países (Rússia, Argélia e Holanda), e o mercado internacional atualmente abastecido por boas safras, encontrar novos destinos para o produto se mostra uma tarefa complexa.

Riscos elevados e necessidade de monitoramento constante

O relatório do Itaú BBA alerta que o Brasil enfrenta riscos comerciais elevados diante da ameaça de sanções secundárias. A forte dependência de fertilizantes e combustíveis da Rússia, aliada à exposição de produtos de exportação como o amendoim, evidencia a vulnerabilidade do agronegócio nacional.

Ainda que existam opções para diversificar fornecedores e destinos, a transição não ocorrerá sem impactos. A competitividade do setor agrícola pode ser pressionada, afetando as margens dos produtores e, em última instância, os preços ao consumidor final.

O cenário segue incerto e requer atenção contínua por parte de empresas, produtores e autoridades brasileiras.

Fonte: portaldoagronegocio

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