O ano de 2024 foi marcante para o setor de carne bovina do Brasil, que consolidou sua posição como líder global em exportações. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o Brasil exportou 2,89 milhões de toneladas de carne bovina, um crescimento superior a 26% em comparação a 2023. A China seguiu sendo o principal destino, com 1,33 milhão de toneladas exportadas, gerando uma receita de US$ 6 bilhões. Outros mercados de destaque incluem os Estados Unidos (229 mil toneladas e US$ 1,35 bilhão), os Emirados Árabes Unidos (132 mil toneladas e US$ 604 milhões), a União Europeia (82,3 mil toneladas e US$ 602 milhões), o Chile (110 mil toneladas e US$ 533 milhões) e Hong Kong (116 mil toneladas e US$ 388 milhões).
Apesar dos resultados positivos, para que o Brasil continue a se destacar no mercado internacional em 2025, os produtores e a indústria terão de enfrentar desafios significativos. Segundo Vanessa Silva, gerente de operações da Ramax Group, multinacional brasileira com filiais na China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos e Líbano, a continuidade do crescimento depende de uma gestão eficiente, especialmente diante de fatores internos que impactam a competitividade do setor. A disparidade entre os preços do boi no Brasil e as cotações internacionais é uma das principais dificuldades, pois tem dificultado a compra e encarecido a operação. “A compra está muito apertada, e muitas vezes a conta não fecha. A solução é focar na eficiência operacional”, afirma Silva.
Além disso, o setor enfrenta desafios logísticos, com altos custos operacionais. A combinação de distâncias longas, estradas de qualidade inferior e altos preços de frete, pedágio e combustível onera as operações, o que tem levado muitos frigoríficos a priorizar a exportação, especialmente diante das dificuldades do mercado interno, impactado pela desvalorização do real.
A Demanda da China e Oportunidades para o Mercado Brasileiro
A Ramax Group produziu 74 mil toneladas de carne em 2024, com 80% desse total destinado ao mercado externo, sendo a China o principal destino. Mariana Inocente, gerente de exportação para a Ásia, destaca que o consumo per capita de carne bovina na China tem crescido consideravelmente, impulsionado pelo aumento da renda e melhoria no padrão de vida. No entanto, a diferença de consumo é significativa: enquanto no Brasil o consumo per capita é de aproximadamente 25 kg por ano, na China esse número é de cerca de 6 kg.
Em 2024, a produção de carne bovina na China alcançou 7,7 milhões de toneladas, com um crescimento de 3,59% em relação ao ano anterior. Esse aumento na produção interna reflete o fortalecimento da segurança alimentar chinesa e a redução da dependência de importações, o que tem impactado diretamente os frigoríficos brasileiros, tornando as margens mais apertadas.
Diversificação de Mercados e Novas Estratégias Comerciais
Com o aumento da produção local, a dinâmica comercial global tem se alterado, com outros mercados, como Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, oferecendo preços mais competitivos. Mariana Inocente alerta para a necessidade de diversificar as estratégias e explorar novas oportunidades para garantir margens mais sustentáveis. “Apesar do crescimento da produção interna da China, seu consumo per capita ainda é muito abaixo de outros países, o que mostra o grande potencial inexplorado desse mercado”, observa.
Além da China, outros mercados asiáticos oferecem boas perspectivas para a carne bovina brasileira, como Indonésia, Taiwan e Japão. Recentemente, uma comitiva brasileira liderada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) visitou o Japão com o objetivo de fortalecer laços comerciais. A parceria Brasil-Japão, que celebra 130 anos de diplomacia em 2025, tem o potencial de abrir novas oportunidades para os produtores brasileiros, dado que a Ásia, por não ter grande produção de carne bovina, tende a oferecer preços mais atrativos. “Essa aproximação é excelente para o Brasil, pois amplia as opções de compradores e reduz a dependência de um único mercado”, conclui Mariana.
Em 2025, a exportação de carne bovina brasileira precisará enfrentar novos desafios, mas também explorar as oportunidades emergentes para continuar sua trajetória de crescimento no mercado global.
Fonte: portaldoagronegocio