Durante coletiva de imprensa sobre o Relatório de Política Monetária, realizada nesta quinta-feira (27) em Brasília, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, manifestaram preocupação com o cenário de desancoragem das expectativas de inflação no país. O tom da entrevista reforçou a cautela expressa na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Galípolo enfatizou que conduzir um processo desinflacionário torna-se significativamente mais complexo quando as expectativas de inflação não estão bem ancoradas. Segundo ele, o Banco Central está analisando cuidadosamente o ambiente macroeconômico para avaliar se a taxa de juros atual é suficientemente restritiva para conter a alta dos preços.
Guillen, por sua vez, apontou que a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025 foi revisada de 2,1% para 1,9%, impactada por fatores internos e externos. Ele destacou ainda que a política monetária contracionista já apresenta reflexos no mercado de crédito, com sinais de desaceleração na concessão de empréstimos. Nesse contexto, a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2025 é de 5,1%, enquanto as estimativas de inflação para o período entre 2026 e 2029 voltaram a subir.
Autonomia do Banco Central e Cenário Global
Galípolo fez questão de reiterar a autonomia e a imparcialidade do Banco Central. Questionado sobre se encontros com personalidades poderiam comprometer sua atuação ou gerar conflitos de interesse, o presidente foi enfático: “Os jantares atrapalham a minha forma física, mas não o meu trabalho”.
Além do contexto doméstico, as preocupações do BC se estendem ao cenário internacional. Segundo Guillen, a elevação das expectativas inflacionárias não é um fenômeno exclusivo do Brasil, mas afeta diversas economias emergentes. Galípolo acrescentou que as incertezas no comércio global atingiram um novo nível de complexidade, especialmente devido às recentes medidas tarifárias dos Estados Unidos. “O choque de tarifas pode resultar em um choque de oferta, e ainda não há clareza sobre a dimensão desse impacto”, avaliou o presidente do BC.
Com um cenário econômico incerto e múltiplas variáveis em jogo, a autoridade monetária brasileira reforçou que as próximas decisões sobre a taxa Selic serão tomadas com base na evolução dos indicadores econômicos e na resposta do mercado às políticas já implementadas.
Fonte: portaldoagronegocio