Com o encerramento de fevereiro, termina também a janela considerada ideal pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a semeadura do milho na maior parte dos municípios de Mato Grosso. Diante disso, os produtores que não conseguiram semear o cereal a tempo encontram nos consórcios forrageiros uma alternativa viável para otimizar suas lavouras.
A Embrapa Agrossilvipastoril, em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), desenvolve diferentes opções de consórcios forrageiros para a segunda safra. Essas alternativas promovem benefícios como aumento da matéria orgânica no solo, ciclagem de nutrientes, descompactação, controle de nematoides e melhoria da microbiota do solo.
Entre os exemplos estudados, destaca-se o Sistema Gravataí, um consórcio de braquiária com feijão-caupi. Esse sistema pode ser utilizado tanto para a formação de palhada em plantio direto quanto para o pastejo animal dentro do modelo de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Entre os principais benefícios desse consórcio está a fixação biológica de nitrogênio, o que favorece o incremento na produtividade da safra seguinte ou, no caso do pastejo, maior ganho de peso dos animais.
A Embrapa disponibilizou recentemente um curso online gratuito sobre o Sistema Gravataí, abordando os métodos de implantação, manejo adequado e os resultados esperados. Outras combinações estudadas incluem o sorgo granífero BRS 373 com estilosantes Bela, além da braquiária com Crotalaria spectabilis, ambos com bons resultados na mitigação de nematoides e fixação de nitrogênio no solo. Já para a ciclagem de nutrientes, consórcios de capim com nabo forrageiro ou trigo mourisco demonstraram eficiência, disponibilizando mais de 340 kg/ha de potássio na palhada.
Para a descompactação do solo e o aumento da matéria orgânica, consórcios múltiplos, compostos por até seis espécies vegetais de diferentes famílias, vêm apresentando resultados positivos. Esses estudos estão sendo realizados tanto na Embrapa Agrossilvipastoril quanto em áreas comerciais. Um projeto financiado pelo Programa REM Mato Grosso avaliou sete consórcios de plantio direto e seis voltados à ILP durante três safras na Fazenda Santana, em Sorriso. Os resultados foram apresentados em um workshop e estão disponíveis no canal da Embrapa no YouTube.
O pesquisador e chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agrossilvipastoril, Flávio Wruck, ressalta a importância de um diagnóstico detalhado da área antes da escolha do consórcio mais adequado. “O produtor deve selecionar os consórcios que possam mitigar os problemas identificados na área, verificando disponibilidade e custo das sementes, além da infraestrutura necessária para implantação”, explica Wruck.
Consórcios ocupam espaço onde o milho não foi semeado
Segundo o boletim divulgado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) em 24 de fevereiro, apenas 67% da área prevista para o cultivo de milho em Mato Grosso havia sido semeada até aquela data. Ainda que esse percentual alcance os 100%, a área total plantada com milho será aproximadamente metade dos 12,6 milhões de hectares cultivados com soja na primeira safra, conforme estimativas do Imea.
Na região médio-norte do estado, onde o milho ocupa cerca de 71% da área de soja e o algodão outros 11,7%, ainda restam 17,3% da área disponível para outras culturas ou consórcios. Isso representa mais de 270 mil hectares que podem ser aproveitados de forma estratégica.
“O milho é uma cultura altamente competitiva, e não queremos que os produtores deixem de plantá-lo na segunda safra. No entanto, sabemos que há áreas onde o tempo para semeadura não é mais viável. Normalmente, são talhões menos produtivos, as últimas lavouras de soja a serem colhidas. Nessas regiões, indicamos o uso de consórcios”, explica Arthur Behling, professor da UFMT.
Os produtores interessados em conhecer mais sobre os consórcios forrageiros estudados pela Embrapa poderão observá-los nas vitrines tecnológicas das feiras Show Safra, em Lucas do Rio Verde, e Norte Show, em Sinop. Além disso, em maio, a Embrapa Agrossilvipastoril promoverá mais uma edição do Workshop de Integração Lavoura-Pecuária, em parceria com o Clube Amigos da Terra de Sorriso.
Zoneamento Agrícola de Risco Climático
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) determina os períodos ideais para a semeadura de mais de 40 culturas em cada município brasileiro. Esse estudo leva em conta fatores como o clima da região, o tipo de solo e o ciclo das cultivares, estabelecendo três faixas de risco de perdas: 20%, 30% e 40%.
O Zarc é utilizado como referência para a concessão de crédito rural e para a cobertura do seguro agrícola. Para consultar a janela ideal de plantio de cada cultura em diferentes municípios, os produtores podem acessar o aplicativo Zarc – Plantio Certo, disponível gratuitamente nas lojas de aplicativos.
Fonte: portaldoagronegocio