CENÁRIO AGRO

Brasil investe no Agave da tequila para impulsionar produção de etanol no Semiárido

2025 word2
Grupo do Whatsapp Cuiabá


Foto:
Alexandre Oliveira

A planta Agave tequilana, amplamente cultivada no México para a produção de tequila, está ganhando novos usos no Brasil. Uma pesquisa coordenada pela Embrapa Algodão (PB), em parceria com a empresa Santa Anna Bioenergia (BA), busca avaliar o potencial da espécie para a produção de etanol, alimentação animal e captura de carbono, com foco no desenvolvimento de um sistema de cultivo adaptado ao Semiárido brasileiro.

A proposta é ampliar o uso do Agave como fonte de energia renovável, contribuindo para a transição energética, ao mesmo tempo em que fortalece a bioeconomia e propõe soluções sustentáveis para regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Aproveitamento de outras espécies de Agave e combate ao desperdício de biomassa

Além da Agave tequilana, a pesquisa inclui outras variedades do gênero Agave conservadas no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa, como a Agave sisalana (sisal), tradicionalmente utilizada na produção de fibras para cordas e tapetes.

Atualmente, apenas 4% da biomassa das folhas da sisalana é aproveitada no processo industrial. O estudo propõe o uso integral da planta, tanto para fins energéticos quanto alimentares, promovendo maior eficiência e sustentabilidade.

Bahia e Paraíba lideram produção de sisal no Brasil

O Brasil é o maior produtor mundial de Agave sisalana, com 95 mil toneladas de fibra registradas em 2023, segundo o IBGE. A Bahia responde por 95% dessa produção, especialmente na região do Território do Sisal. A Paraíba é o segundo maior produtor, com cerca de 5 mil hectares cultivados.

Planta resistente e adaptada ao clima semiárido

O pesquisador Tarcísio Gondim, da Embrapa Algodão, destaca que o uso da Agave pode reduzir desigualdades regionais e combater a precarização nas áreas produtoras de sisal. Segundo ele, o objetivo é utilizar plantas xerófitas, adaptadas a ambientes secos, com múltiplos propósitos: produção de etanol, forragem animal e captura de CO₂.

Apesar do ciclo mais longo — cerca de cinco anos até a colheita —, o escalonamento das áreas plantadas permitirá estabilizar a produção de biomassa e garantir competitividade no mercado de energia renovável. Para isso, é necessário avançar em estudos sobre cultivares, manejo, fertilidade do solo, mecanização e processamento da biomassa.

Missão técnica ao México fortalece cooperação científica

Em março, pesquisadores da Embrapa visitaram o México para estreitar parcerias com o Instituto Nacional de Investigações Florestais, Agrícolas e Pecuárias (Inipaf) e instituições ligadas à cadeia produtiva da tequila. O objetivo foi compartilhar experiências e buscar colaboração em pesquisas sobre biomassa, biocombustíveis, carbono e aproveitamento de resíduos para alimentação animal.

Unidades de referência tecnológica já estão em operação

As primeiras 500 mudas de Agave tequilana Weber var. Azul, importadas do México pela Santa Anna Bioenergia, passaram pela quarentena e já começaram a ser estudadas no município de Jacobina (BA), onde foi implantada a primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT). Outras duas URTs serão instaladas nos municípios de Alagoinha e Monteiro, na Paraíba. Ao todo, serão 1.800 mudas nesta etapa inicial.

Projeto terá duração de cinco anos e foco em etanol e ração

O projeto, com duração de cinco anos, prevê a realização de ensaios agronômicos, com foco em arranjos de plantio, adubação e tratos culturais, além do desenvolvimento de uma metodologia para quantificação de carbono e análises das propriedades químicas da biomassa para produção de etanol e ração.

O pesquisador Everaldo Medeiros, responsável pelo laboratório de Química da Embrapa Algodão, destaca que estão sendo utilizadas metodologias inovadoras que permitirão criar um painel abrangente de dados para avaliar o aproveitamento energético e ambiental do Agave.

Já o zootecnista Manoel Francisco de Sousa ressalta que os resíduos da produção de etanol a partir da Agave poderão servir como importante suplemento forrageiro para ruminantes, especialmente no período de escassez de forragens no Semiárido.

Desafio: mecanização do cultivo e colheita

Um dos principais desafios é tornar o cultivo da Agave totalmente mecanizado. Segundo o pesquisador Odilon Reny Ribeiro, também da Embrapa Algodão, no México diversas etapas já são mecanizadas, como preparo do solo, adubação, capina e aplicação de defensivos, mas o plantio ainda é manual.

A visão da equipe é cultivar grandes áreas com Agave no Brasil, o que exigirá tecnologia agrícola e soluções adaptadas à realidade do Semiárido.

A aposta na Agave tequilana representa uma estratégia promissora para alavancar a bioeconomia, gerar renda, diversificar matrizes energéticas e valorizar áreas semiáridas brasileiras. Com apoio da ciência e investimentos estratégicos, a planta símbolo da tequila pode ser uma nova aliada na produção de etanol sustentável e ração animal, além de contribuir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Fonte: portaldoagronegocio

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.