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Juliana Sussai
Pesquisa realizada pela Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), revelou que sistemas silvipastoris (SSP), que integram árvores e pastagem, conseguem neutralizar as emissões de metano entérico de mais de dois bovinos adultos por hectare. O estudo, publicado na revista Agricultural Systems, considerou o carbono fixado especificamente no tronco das árvores, usado para produtos de alto valor, como móveis.
Mais produtividade e sustentabilidade por hectare
No Brasil, a média nacional de lotação é de um animal adulto por hectare. No entanto, o sistema com eucaliptos permitiu uma taxa de lotação mais que o dobro da média, comprovando que a integração de pecuária com componente arbóreo promove maior produtividade e sustentabilidade por área.
Metodologia e comparação entre sistemas
Os pesquisadores compararam uma área com pastagem sombreada por eucaliptos com outra área de manejo intensivo a pleno sol. As emissões de metano foram calculadas segundo diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), enquanto a fixação de carbono foi medida por altura e diâmetro dos eucaliptos.
Importância das árvores na mitigação do metano
O metano, liberado durante a digestão dos bovinos, representa 65% das emissões agropecuárias em equivalente de CO2 e tem um potencial de aquecimento global 27 vezes maior que o CO2. A presença das árvores absorve o dióxido de carbono da atmosfera, armazenando-o em sua biomassa, especialmente nos troncos, que têm maior estabilidade ao longo do tempo.
Conforto térmico animal e produtividade
Além de neutralizar o metano, o sistema silvipastoril proporcionou sombra e conforto térmico aos animais, reduzindo o estresse pelo calor em comparação ao sistema a pleno sol. Isso favorece o bem-estar dos bovinos e pode resultar em ganhos de produtividade, especialmente em regiões de clima quente.
Resultados quantitativos do balanço de carbono
Segundo o pesquisador José Ricardo Pezzopane, considerando o carbono fixado nos troncos das árvores, o sistema teve um balanço líquido negativo de -14,28 Mg CO2 equivalente por hectare ao ano, o que significa que o sistema sequestra mais carbono do que emite metano, tornando-se uma importante ferramenta climática.
Detalhes do experimento com eucaliptos
O sistema foi implantado em 2011 com espaçamento inicial de 15×2 metros (333 árvores por hectare), reduzido em 2016 para 15×4 metros (167 árvores por hectare). A compensação das emissões de metano atingiu 77%, equivalendo à emissão de 2,3 bovinos adultos por hectare, em uma lotação real de 3,01 animais por hectare.
Contribuições para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O estudo reforça práticas alinhadas aos ODS, especialmente o ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), ao propor a mitigação das emissões na pecuária. Também contribui para o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis), ao apresentar um sistema com menor pegada de carbono e maior atenção ao bem-estar animal, e para o ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), ao apoiar uma produção de carne sustentável e resiliente.
Importância da adaptação climática para a pecuária
Com o aumento das temperaturas, o conforto térmico dos animais tende a diminuir, o que pode afetar negativamente o desempenho e aumentar a emissão de gases por produto. A integração de árvores nos sistemas pastoris oferece uma alternativa eficaz para melhorar o conforto térmico e mitigar os impactos das mudanças climáticas.
A pesquisa completa está disponível em:
- Silvopastoral system as a climate-smart alternative for beef production: Enteric methane emission neutralization and animal thermal comfort increase – ScienceDirect
- Autores: Henrique B. Brunetti, Patrícia Anchão Oliveira, José Ricardo Pezzopane, Alberto Bernardi, Alexandre Rossetto Garcia, Alexandre Berndt, André Pedroso, Sergio Raposo Medeiros (Embrapa Pecuária Sudeste) e Ana Lelis (Universidade Estadual Paulista – Unesp).
Fonte: portaldoagronegocio