No câmpus de Dracena, pesquisadores da Unesp avançam no uso de microrganismos que podem reduzir impactos ambientais na agricultura sem comprometer a produtividade. O Brasil já é referência mundial em microbiologia do solo, substituindo insumos químicos por alternativas mais sustentáveis, especialmente na fixação biológica do nitrogênio.
Importância e desafios da fertilização nitrogenada
O nitrogênio é um dos principais macronutrientes para o desenvolvimento das plantas, junto com fósforo e potássio (NPK). Apesar de essencial, o fertilizante nitrogenado é o mais caro e representa grande investimento para o produtor rural. Sua eficiência raramente ultrapassa 50%, devido a perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação, causando impactos ambientais como emissão de óxido nitroso — um gás com potencial de aquecimento global 265 vezes maior que o CO2 — e eutrofização de rios e lagos.
Brasil lidera uso de bactérias para redução de fertilizantes na soja
Desde os anos 1960, o Brasil vem destacando-se na redução do uso de fertilizantes nitrogenados na soja, graças ao uso das bactérias do gênero Bradyrhizobium, que fixam nitrogênio da atmosfera. Essa tecnologia evita a emissão de milhões de toneladas de CO2 e reduz custos para os produtores. A pesquisadora Mariangela Hungria, uma das pioneiras nesse campo, recebeu em 2025 o Prêmio Mundial da Alimentação, reconhecido como o “Nobel da Agricultura”.
Estudo inovador com bactérias no cultivo do milho
O engenheiro agrônomo Fernando Shintate Galindo, da Unesp Dracena, lidera pesquisas para aplicar essa tecnologia em outras culturas, como o milho. Seu estudo avaliou o uso combinado de duas bactérias: Azospirillum brasilense, que fixa nitrogênio e estimula o crescimento da planta, e Bacillus subtilis, que promove o crescimento radicular e aumenta a resistência a pragas e doenças.
Metodologia do estudo e resultados
O experimento durou dois anos, com plantios em três localidades, envolvendo quatro grupos: controle (sem bactéria), um com Azospirillum brasilense, outro com Bacillus subtilis e um último com ambas as bactérias, testando também diferentes doses de fertilizantes nitrogenados.
Os resultados mostraram que a combinação das bactérias, aliada a uma dose ideal de nitrogênio, melhorou a eficiência do uso do nutriente, promoveu crescimento das plantas (aéreo e radicular), aumentou a fotossíntese, a assimilação de CO2, a transpiração e a eficiência no uso da água, além de reduzir o estresse oxidativo.
Redução de custos e aumento da produtividade
Segundo Galindo, a inoculação bacteriana complementa, mas não substitui a adubação nitrogenada. Uma aplicação excessiva de nitrogênio prejudica a ação das bactérias, indicando a necessidade de equilíbrio.
O estudo indicou que a dose ótima de nitrogênio pode ser reduzida de 240 kg N/ha para 175 kg N/ha, reduzindo custos e aumentando a produtividade do milho em 5,2%. Essa redução também diminui em 682,5 kg CO2e por hectare a emissão de gases de efeito estufa.
Impacto econômico e ambiental potencial
A redução de 25% na aplicação de fertilizantes nitrogenados pode gerar uma economia de cerca de R$ 130 por hectare para o produtor. Considerando a área total cultivada com milho no Brasil, estimada em 22 milhões de hectares, a economia anual pode alcançar R$ 2,86 bilhões.
Além dos ganhos financeiros, o pesquisador destaca que os benefícios ambientais e climáticos ainda são difíceis de mensurar, mas são essenciais para a sustentabilidade da agricultura.
Essa pesquisa reforça o potencial da microbiologia do solo para aliar produtividade, redução de custos e preservação ambiental no agronegócio brasileiro.
Fonte: portaldoagronegocio