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Gisele Rosso
A mensuração da área basal dos troncos, que quantifica a ocupação florestal por meio da seção transversal das árvores por hectare, revela-se uma ferramenta crucial para o manejo eficiente de sistemas silvipastoris. Um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa, publicado na revista internacional Agroforestry Systems, destaca a importância desse indicador para otimizar a integração de árvores e pastagem, com vistas à maximização da produção de madeira, pastagem e à promoção de benefícios ecológicos.
O papel da área basal no manejo silvipastoril
A área basal, que mede a ocupação florestal por meio da seção transversal dos troncos das árvores por hectare, é essencial para a combinação sustentável de árvores e pastagens em sistemas integrados. Segundo o pesquisador José Ricardo Pezzopane, da Embrapa Pecuária Sudeste, o manejo adequado dessa métrica pode elevar a produtividade das árvores e das pastagens, além de favorecer o ambiente. O estudo revelou que a área basal ideal para esses sistemas é de 8 m² por hectare, o que mantém níveis de produção de pastagem semelhantes aos de um sistema a pleno sol, além de otimizar o crescimento das árvores.
“Há uma relação direta entre a transmissão de luz pelas árvores e a produção de pasto, e essa relação está associada à área basal. Essa métrica influencia positivamente tanto a produtividade agrícola quanto a conservação ambiental”, explica Pezzopane.
Benefícios ambientais e bem-estar animal
A pesquisa também destacou a contribuição dos sistemas silvipastoris para a mitigação das mudanças climáticas, incluindo o aumento da biodiversidade e do sequestro de carbono. A manutenção de uma área basal equilibrada preserva a qualidade do solo e a microbiologia, fatores essenciais em tempos de intensas variações climáticas.
Além dos ganhos ambientais, há também impactos positivos sobre o bem-estar animal. “Os animais em áreas com uma densidade adequada de árvores experimentam menor estresse térmico, resultando em melhor ganho de peso e saúde”, acrescenta Pezzopane.
Aplicações práticas e políticas públicas
O estudo fornece diretrizes para agricultores e gestores florestais, sugerindo o monitoramento contínuo da área basal e a adaptação das práticas de manejo conforme as especificidades locais. O pesquisador Valdemir Laura, da Embrapa Gado de Corte, reforça que, independentemente do número de árvores por hectare ou da espécie utilizada, o valor de 8 m² por hectare é uma referência segura.
Os pesquisadores também defendem que políticas públicas devem incentivar práticas sustentáveis que incluam o monitoramento da área basal. “É essencial criar subsídios para essa prática, além de promover programas de capacitação para pecuaristas e gestores florestais”, ressalta Pezzopane.
Desafios no equilíbrio de densidade de árvores e produtividade
Um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores é manter a densidade de árvores em equilíbrio com a produção de pastagem. A competição excessiva por recursos, como luz e água, pode prejudicar a produtividade tanto das árvores quanto da pastagem. No entanto, a densidade muito baixa pode reduzir os benefícios ambientais e produtivos.
A prática do desbaste, ou remoção de árvores para evitar competição, é uma solução importante nesse contexto. Entretanto, a execução dessa técnica muitas vezes esbarra na falta de mão de obra qualificada e no alto custo para a retirada e aproveitamento das árvores.
Metodologia do estudo
Os experimentos foram conduzidos nas unidades da Embrapa em São Carlos (SP), em uma área de Mata Atlântica, e em Campo Grande (MS), no Cerrado. As áreas de estudo abrigavam sistemas silvipastoris com diferentes práticas de manejo e condições ambientais, incluindo árvores dos gêneros Eucalyptus e Corymbia. Esses locais foram escolhidos pela representatividade de regiões com sistemas silvipastoris, permitindo uma análise abrangente dos efeitos da área basal.
Resultados: otimização da produção e qualidade das pastagens
Os dados coletados mostraram que a área basal ideal para maximizar a produção de madeira e pastagem é de 8 m² por hectare, com transmissão de radiação solar em torno de 70%. Acima dessa densidade, a competição por recursos aumentava, reduzindo o crescimento tanto das árvores quanto da pastagem.
A qualidade da forragem também foi influenciada pela densidade de árvores, com pastagens em áreas equilibradas apresentando melhor conteúdo nutricional. Nos experimentos em que a densidade de árvores superava 333 por hectare, a produção de pastagem diminuiu significativamente antes do desbaste. Após essa prática, a biomassa da pastagem aumentou, comprovando a eficácia do manejo da área basal.
Esses resultados reforçam a importância de um manejo cuidadoso da densidade de árvores para equilibrar a produção agropecuária e a sustentabilidade ambiental.
Fonte: portaldoagronegocio