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O cânhamo, uma variedade de cannabis com baixo teor de THC, apresenta um enorme potencial para o agronegócio e para diversos setores industriais no Brasil. Com aplicações que vão desde a produção de fibras mais sustentáveis e resistentes que o algodão até o uso na construção civil e na fabricação de plásticos biodegradáveis, a planta pode ser uma alternativa viável para a promoção de práticas agrícolas regenerativas e sustentáveis. No entanto, sua regulamentação é um obstáculo que precisa ser superado para que esse mercado floresça no país.
Durante a coletiva de apresentação da ExpoCannabis Brasil 2024, a maior feira do setor no Brasil, especialistas destacaram as inúmeras possibilidades que a regularização do cânhamo poderia trazer para a economia nacional. O evento, que ocorrerá em novembro em São Paulo, discutirá o desenvolvimento de uma cadeia produtiva capaz de transformar o cânhamo em uma alternativa sustentável para a indústria.
Potencial Econômico e Ambiental
No Uruguai, a planta já é legalizada para diversos usos, e os dados indicam que o Brasil possui cerca de 15 mil hectares com potencial para o cultivo de cânhamo. Segundo o relatório “Impacto Econômico da Cannabis”, produzido pela Kaya Mind, essa área colocaria o país entre as maiores potências mundiais no setor. A planta, que já registra grandes áreas de produção no Canadá, França, Lituânia, Chile, China e Rússia, produziu cerca de 275 mil toneladas de fibras de cânhamo em 2019, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Além de ser uma matéria-prima valiosa para a indústria têxtil, as sementes do cânhamo são ricas em proteínas e ácidos graxos essenciais, enquanto suas fibras são uma alternativa mais sustentável ao algodão. Outro destaque é a capacidade da planta de substituir o petróleo na fabricação de plásticos biodegradáveis e seu uso em materiais de construção, como o concreto de cânhamo, que oferece resistência ao fogo e melhor desempenho térmico, conforme explicado por Mercedes Ponce de León, cofundadora da Latinnabis e da ExpoCannabis Uruguay.
Desafios Regulatórios no Brasil
Apesar desse vasto potencial, o Brasil enfrenta desafios regulatórios que limitam o desenvolvimento do setor. A regulamentação do cânhamo poderia abrir espaço para novas práticas agrícolas e industriais, contribuindo para a revitalização de solos desgastados e a promoção de uma agricultura mais sustentável. Segundo Maria Eugenia Riscala, CEO da Kaya Mind, o mercado de cannabis medicinal já é regulado no Brasil, mas ainda há muito a avançar. A executiva ressaltou que, apesar das restrições, o setor tem crescido, especialmente na importação de produtos à base de cannabis, que aumentou 35% no último ano.
Atualmente, o Brasil conta com 550 mil pacientes em tratamento com cannabis medicinal, e o potencial é de atingir 6,9 milhões de brasileiros, com uma demanda que cresce de 15 a 20 mil novos pacientes por mês, segundo Maria Eugenia.
Perspectivas para o Futuro
Para Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil, o país tem condições de se tornar o maior produtor de cannabis do mundo, graças ao seu vasto território e clima favorável. A executiva ressaltou que o Brasil pode explorar não apenas o uso medicinal da planta, mas também sua aplicação nos setores alimentício, têxtil e de biocombustíveis, promovendo práticas mais sustentáveis.
A ExpoCannabis Brasil 2024 buscará ampliar o debate sobre as múltiplas utilidades do cânhamo e da cannabis, além de fomentar o conhecimento público e a aceitação da planta em diversas indústrias. O evento contará com conferências internacionais, abordando temas como saúde, pesquisa científica, regulamentação e sustentabilidade, promovendo a troca de experiências entre especialistas de diferentes áreas.
Com uma regulamentação adequada, o cânhamo pode se tornar uma ferramenta poderosa para a transformação do agronegócio brasileiro, impulsionando práticas mais sustentáveis e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A ExpoCannabis Brasil surge, portanto, como um marco importante nesse processo de conscientização e desenvolvimento do setor.
Fonte: portaldoagronegocio