O baruzeiro (Dipteryx alata Vogel) é uma espécie nativa do Cerrado que vem sendo estudada há mais de 20 anos por universidades e instituições de pesquisa brasileiras. Apesar disso, ainda é pouco conhecida tanto dentro quanto fora do bioma. Essa árvore sustenta muitas famílias agroextrativistas e tem um potencial econômico, nutricional e ecológico ainda subexplorado. Quase todas as partes da planta são aproveitadas, desde a amêndoa nutritiva até a polpa e a madeira.
Importância e reconhecimento necessários
Embora pertença à família das leguminosas — como feijão e soja — o baruzeiro é frequentemente confundido com uma palmeira. Para valorizar sua relevância, é urgente popularizar a espécie e seus diversos usos, que vão desde a alimentação humana e animal até benefícios medicinais e ecológicos. Além de contribuir para a segurança alimentar, o baruzeiro é fundamental para a conservação do Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do país.
Potencial nutricional ainda pouco explorado
A castanha de baru é menos conhecida que outros frutos nativos, como pequi, cupuaçu, castanha-do-brasil e açaí. Contudo, seu valor nutricional é comparável, e em alguns aspectos, superior, por ser rica em proteínas, fibras, antioxidantes e gorduras saudáveis. Em cidades como Alto Paraíso (GO), Montes Claros (MG) e Palmas (TO), a castanha já integra a alimentação escolar, combinada com outros produtos regionais, como farinha de jatobá e mel de aroeira, fortalecendo a valorização dos alimentos locais.
Inclusão escolar como caminho para democratização do consumo
A entrada do baru nas refeições escolares, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), é vista como uma estratégia promissora para ampliar seu consumo e promover o letramento ambiental nas escolas, incentivando o uso de alimentos regionais. Ainda assim, o desafio é alcançar o mesmo reconhecimento de outros superalimentos brasileiros.
Cadeia de valor: desafios e oportunidades
A cadeia produtiva do baru envolve desde pesquisas científicas sobre botânica, agronomia e ecologia, até aspectos práticos como colheita, processamento e comercialização. Também há questões sociais e culturais relacionadas às comunidades que dependem da coleta e cultivo do baruzeiro para sua subsistência.
Regiões produtoras no Cerrado enfrentam falta de conexão e investimentos, dificultando o mapeamento das safras e pesquisas mais aprofundadas. Como se trata de uma espécie perene, os resultados dos plantios comerciais e manejos aparecem a longo prazo, o que demanda planejamento e suporte contínuos.
Pesquisa e sistemas de produção sustentável
Estudos recentes buscam formas de aproveitar melhor o baru na alimentação e desenvolver tecnologias para incluir a espécie em sistemas agroflorestais (SAFs) e na substituição do eucalipto em sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), ampliando a sustentabilidade das propriedades rurais.
Necessidade de políticas públicas e parcerias
Para fortalecer o setor, é essencial promover políticas públicas e parcerias que garantam financiamento a pesquisas, mapeamento das áreas nativas, identificação de regiões ameaçadas pelo desmatamento e estratégias para proteger e ampliar o cultivo do baruzeiro.
A colaboração entre órgãos governamentais, institutos de pesquisa, prefeituras, cooperativas e comunidades é fundamental para melhorar a coleta de dados, divulgar resultados, incentivar o consumo e valorizar os múltiplos usos do baru.
Resgate do patrimônio alimentar do Cerrado
O baruzeiro representa uma das muitas espécies nativas do Cerrado que foram esquecidas ao longo do tempo, substituídas por frutas exóticas. Em um contexto de crescimento populacional, insegurança alimentar e busca por sustentabilidade, o resgate dessas espécies é urgente.
Além do baru, frutas como araticum, mangaba, gabiroba e cajuzinho-do-cerrado podem diversificar a alimentação e contribuir para a preservação ambiental do bioma mais ameaçado do Brasil.
Um convite para a valorização do baru
Popularizar a castanha de baru vai além de uma escolha gastronômica: trata-se de garantir a sobrevivência das comunidades agroextrativistas, preservar o Cerrado e fortalecer a segurança alimentar nacional.
Apoiar iniciativas que promovam o consumo do baru e divulgar seus benefícios é um passo fundamental para transformar essa castanha em símbolo de sustentabilidade e resgate do patrimônio alimentar brasileiro. O Cerrado agradece, e o futuro também.
Fonte: portaldoagronegocio