Fruticultores dos municípios de Belo Vale, Jeceaba e Moeda completaram um ano de assistência técnica e gerencial, oferecida pelo Sistema Faemg Senar, por meio da Associação dos Produtores Rurais de Belo Vale e Região (Aprovale). Ao longo deste tempo, os produtores seguiram as orientações e conquistaram resultados positivos, além de terem sido beneficiados com parcerias com o poder público que visaram ao fortalecimento da atividade na região.
O diagnóstico inicial da técnica de campo Liliane Santana apontou que os produtores tinham conhecimento insuficiente sobre técnicas de manejo e pouco ou nenhum gerenciamento sobre gastos e preço do produto. Após perceber essas dificuldades, novas atitudes foram tomadas para melhorar a produtividade.
“Identificamos as principais pragas e doenças do pomar, fizemos análise de solo para trabalhar a fertilidade, levantamos as principais dores dos produtores com relação à atividade, coletamos dados, incentivamos a gestão financeira e propomos mudanças de hábitos e ajustes técnicos de manejo. Tudo isso para a melhoria contínua da produção e da qualidade de vida da família”, explicou a técnica.
Uma das frentes de trabalho para otimizar a produção do grupo foi levar cursos sob demanda. Foi assim que o instrutor Lucas Gonçalves conheceu o grupo. Ele ministrou o curso de Cultivo de árvores frutíferas (citrus), em que apresentou medidas que devem ser tomadas na lavoura, como poda, correção de solo, adubação, técnicas de colheita e pós-colheita.
“O que percebi em Belo Vale é que todos estão com a cabeça aberta para questões como análise de solo e adubação com calcário. O Programa ATeG está melhorando muito nesse sentido e quebrando tabus. Nos cursos na área de frutas, vemos que, muitas vezes, a pessoa quer adubar a planta, mas, quando falamos de análise de solo e correção de acidez, vemos muita resistência. Lá, eles já estão com a ideia de que essas técnicas são um investimento e não um gasto”, afirmou o instrutor.
Parcerias fortalecem ATeG
Um dos objetivos do Programa ATeG é atualizar os produtores sobre novas técnicas de manejo, tratamento de solo e controle de pragas. Para mitigar gastos e diminuir custos, a Aprovale firmou parcerias com a Prefeitura de Belo Vale e a Secretaria Municipal de Agricultura, que culminaram na compra de calcário sem o custo do frete; no programa Solo Fértil, que faz análises de solo gratuitas; e no programa Unidos pelo Greening, que disponibiliza o maquinário necessário para o manejo da doença, uma praga que atinge todos os tipos de citros, não tem cura nem tratamento e causa baixa produtividade e morte da planta afetada.
A mobilizadora pela Aprovale, Márcia Perígolo, também é atendida pelo ATeG. Ela tem cerca de 27 hectares de mexerica plantada, com mais de 5.500 pés. Além do entendimento sobre o manejo, ela acredita que o Programa ATeG levou aos produtores ideias atuais sobre sustentabilidade e uso da terra.
“O ATeG foi um divisor de águas. A cada visita da agrônoma, entendo melhor minhas práticas. Fazemos uma análise das consequências e dos próximos passos, além de medir o custo de cada ação. Tenho dois pomares, que estão sendo adaptados para práticas mais sustentáveis, com manejo de agroflorestas. Pouco a pouco, vamos fazendo essa mudança, mas sem esquecer o olhar estratégico e gerencial sobre o custo. Sem o ATeG, eu não saberia fazer essa mudança de maneira tão lúcida, fazendo o planejamento estratégico”, contou.
Moacir César de Oliveira tem uma propriedade com cerca de 11 hectares, seis de mexerica ponkan e cinco divididos entre jiló, berinjela, maracujá e abóbora. O ano de 2021 foi difícil até ele começar a participar do grupo de ATeG. Ele vinha pensando em desistir da atividade, mas agora está investindo em novas ideias e trabalhando formas de mitigar prejuízos e melhorar a produtividade.
“Antes eu anotava poucas coisas, não fazia tão certinho como faço hoje, de colocar tudo que estou gastando e tudo que vai entrar depois. Não sabia o custo do meu produto. O frete grátis me ajudou demais. Fiz um seguro da minha plantação de mexerica, pois o momento ainda não está fácil. Estamos tendo muitas pragas e muita chuva de granizo”, relatou Moacir.
Valorização da pessoa no campo
A técnica de campo Liliane Santana fez um trabalho de escuta dos produtores, que envolve muito mais do que a ATeG, mas o entendimento das necessidades do dia a dia. “A compreensão daquilo que realmente causa uma dor nesse produtor é essencial para que a gente possa prestar um atendimento que vá suprir as necessidades dele”, explicou.
Essa escuta se tornou parte da rotina. “Em locais onde há predominância da agricultura familiar, os assuntos se misturam, transformando as relações”. É dessa maneira que a mobilizadora Márcia analisa a relação que se desenvolve entre a técnica de campo e os participantes do grupo.
De acordo com Márcia, muitos tabus precisaram ser quebrados, com reconhecimento da importância do trabalho feminino, entendimento de dificuldades domésticas e um trabalho como ouvinte, que possibilitou uma relação de confiança entre os envolvidos. “Temos muita sorte de ter alguém com a sensibilidade da Liliane. Se o produtor não confiar no técnico, ele não abre a porteira na próxima visita. Por isso, o trabalho precisa ser de compreensão e acolhimento, para entender realmente o que aquelas pessoas precisam”.
Fonte: portaldoagronegocio