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Agronegócio

Envirômica vai ajudar a desenvolver cultivares de feijão específicas para cada região

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Envirômica vai ajudar a desenvolver cultivares de feijão específicas para cada região
  • Estudo da Embrapa com aplicação da envirômica aponta novos caminhos para o progresso genético do feijão.
  • Trabalho abre caminho para o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas aos locais onde a leguminosa é plantada no Brasil, e assim aprimorar a produtividade.
  • Embrapa analisou 424 experimentos de campo, entre 2011 e 2018, com os grãos carioca e preto, e avaliou a produtividade das plantas sob o de variáveis ambientais.
  • Na Região Centro-Oeste, radiação solar e as temperaturas mínima e máxima são as variáveis climáticas com maior impacto na produtividade da cultura. Já na Região Sul, a precipitação pluvial acumulada é mais influente.

A pesquisa em melhoramento de plantas pode se beneficiar de um campo chamado envirômica. Essa área do conhecimento vem ganhando relevância nas últimas duas décadas por permitir o processamento de dados em larga escala e aprofundamento da análise sobre como o ambiente influencia as lavouras. Estudo da Embrapa Arroz e Feijão (GO) com aplicação da envirômica aponta novos caminhos para o progresso genético do feijão, levando em conta condições climáticas específicas de determinada região do Brasil e épocas de cultivo. O resultado desse tipo de pesquisa é o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas aos locais onde a leguminosa é plantada no Brasil, o que pode facilitar a vida dos agricultores brasileiros. 

Em artigo publicado na revista científica Field Crops Research, os autores apontam faixas limite de tolerância das plantas de feijão a estresses, para cada região do Brasil e épocas de cultivo. Eles ainda sugerem situações específicas que podem direcionar testes de adaptação e a geração de cultivares mais adequadas ou até mesmo “personalizadas”. 

Na pesquisa, foi realizado um estudo com a cultura do feijão (grãos carioca e preto) considerando diferentes safras e a utilização da base de dados de registros históricos de campos de melhoramento da Embrapa e parceiros nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o que representa uma cobertura de 98% da área de produção da leguminosa no Brasil.

Ao todo, foram analisados 424 experimentos de campo, provenientes do programa de melhoramento do feijoeiro, entre 2011 e 2018, sendo 241 com o grão carioca e 183 com o grão preto, avaliando a produtividade das plantas sob o impacto de variáveis ambientais como temperatura e umidade do ar, radiação solar e precipitação pluvial. Essas informações climáticas foram coletadas na plataforma de dados coordenada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e no banco de informações Nasa Power, da agência espacial norte-americana.

Um dos desse trabalho indica, por exemplo, que na Região Centro-Oeste, para as três safras de cultivo (verão, seca e inverno), as variáveis climáticas com maior impacto na produtividade do feijão são a radiação solar e as temperaturas máximas e mínimas nas fases vegetativa e reprodutiva da lavoura. Comparativamente, na Região Sul, para as duas safras de cultivo (verão e seca, pois não há plantio no inverno) as variáveis climáticas de maior relevância são a precipitação pluvial acumulada e as temperaturas máximas e mínimas nas mesmas fases.

Pesquisa estima valores ótimos por região

Complementarmente, foram previstos os valores ótimos para essas variáveis climáticas que permitem o melhor desempenho da cultura e as faixas de estresse, por exemplo ao , que as plantas de feijão podem suportar em cada região sem que ocorra dano ao rendimento médio da lavoura. Isso abre espaço para que os melhoristas de feijão possam estimar o potencial produtivo da variabilidade genética do feijão em situações favoráveis ou em condições adversas.

O pesquisador da Embrapa Alexandre Bryan Heinemann é um dos autores desse estudo e comenta que esses resultados podem aprimorar o melhoramento da leguminosa ao customizar novos materiais às características regionais. “Uma decorrência desse trabalho é a possibilidade de os melhoristas desenvolverem ideótipos (cultivares) adaptados aos diferentes ambientes de produção do feijoeiro. Isso permitirá o desenvolvimento de cultivares que aproveitem ao máximo as condições climáticas locais. Assim, o material poderá expressar todo seu potencial genético em termos de produtividade”, detalha Heinemann.

O pesquisador aponta, ainda, outra contribuição do estudo realizado para o melhoramento de plantas. “A envirotipagem (a aplicação das ferramentas da envirômica) permite a criação do que podemos chamar de cultivares climaticamente inteligentes. Por exemplo, para a Região Centro-Oeste, no cultivo da safra da seca (entre janeiro e abril), a precipitação pluvial acumulada é um fator limitante, especialmente, na fase reprodutiva da lavoura. Além disso, a partir do fim de março, as temperaturas máximas e mínimas caem, o que alonga o ciclo da cultura. Em nosso trabalho, essas variações climáticas e sua caracterização, com o estabelecimento de faixas limite de adaptação para plantas, podem servir para embasar o teste e a seleção de genótipos com potencial para gerar uma cultivar focada em responder de forma satisfatória nessas condições”, complementa Heinemann.

O pesquisador considera a envirômica um campo promissor do conhecimento em pleno desenvolvimento e que pode contribuir, principalmente, para o aprimoramento das decisões que são tomadas pelos geneticistas em programas de melhoramento para a seleção de novas cultivares. 

Conforme relata o cientista, “trata-se de uma área de trabalho que possibilita o refinamento de dados para o lançamento de cultivares voltadas não apenas para macro-regiões, mas também para localidades específicas, ambientes-alvo determinados, principalmente, quando aliam-se dados espaciais e de geoprocessamento às análises climáticas”.

Big data tornou a envirômica possível

A maioria das características agronômicas que os geneticistas buscam nas plantas (tolerância ao déficit hídrico, resistência a doenças, maior produtividade) é advinda da de múltiplos genes. Essa interação é avaliada em laboratório com ferramentas da biotecnologia e por análises conduzidas pelo estudo dos fenótipos, da expressão dos genes das plantas decorrente dos ambientes de cultivo. 

A esse trabalho do melhoramento de plantas começou a ser agregada uma nova forma de análise. Com a evolução de ferramentas de monitoramento sensorial de ambientes e a geração de séries históricas de dados, ocorreu a formação de repositórios de grandes conjuntos de informação ambiental. Isso possibilitou emergir uma nova em pesquisa que é a envirômica (aportuguesamento da palavra inglesa enviromics) e que está se associando às bases tradicionais do estudo em melhoramento de plantas. 

A envirômica permite tratar de modo relacional e em sobreposição uma multiplicidade de informações estruturadas em big data, gerando novas análises sobre a adaptação de plantas aos ambientes de cultivo.

Fonte: portaldoagronegocio

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