Os preços da cenoura continuam em queda na região de São Gotardo (MG), tendência que se intensifica desde meados de outubro e tem surpreendido produtores e agentes do setor hortícola. A informação é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que monitora semanalmente o comportamento do mercado. Segundo a equipe de Hortifrúti, a expectativa dos produtores era de que o retorno das chuvas em novembro reduzisse a oferta nas lavouras e pudesse, assim, sustentar as cotações. Entretanto, a produtividade se manteve elevada, contrariando as previsões e ampliando o cenário de desvalorização.
Nos últimos anos, São Gotardo se consolidou como um dos principais polos de produção de cenoura do país, abastecendo diferentes estados e influenciando o comportamento nacional do mercado. Em 2024, fatores como avanço tecnológico, manejo eficiente, uso de sistemas de irrigação e adoção de variedades de maior rendimento têm contribuído para manter níveis consistentes de produtividade. Com o volume colhido acima do esperado, a oferta se mantém superior à demanda, pressionando os valores para baixo.
Na semana de 10 a 14 de novembro, o preço médio da cenoura “suja” comercializada na praça mineira foi de R$ 18,00 por caixa de 29 kg, queda de 10% frente ao período anterior. A tendência de desvalorização não se limita a uma semana: até o dia 14, a parcial de novembro mostra que o valor médio negociado está 24% abaixo de outubro, reforçando a dificuldade de recuperação dos preços mesmo com o avanço das chuvas e com o início do período tradicionalmente marcado por maior oscilação climática.
Pesquisadores do Cepea destacam que o movimento está diretamente ligado ao equilíbrio entre oferta e demanda. A cenoura tem consumo relativamente estável ao longo do ano, com variações menores do que outros hortaliças sujeitas a sazonalidades mais acentuadas. Com isso, qualquer aumento significativo de produção tende a provocar recuo imediato nas cotações. Além disso, o mercado atacadista, que absorve grande parte do volume enviado por São Gotardo, tem relatado estoques confortáveis, reforçando que a pressão de queda parte do campo e se prolonga até os centros de distribuição.
Entre os produtores, o clima é de preocupação. Muitos afirmam que, neste ano, o custo de produção — influenciado por fertilizantes, mão de obra, embalagens e transporte — permanece alto, enquanto o preço de venda recua de forma contínua, reduzindo as margens e dificultando o planejamento da safra. Alguns agricultores também relatam que o alinhamento simultâneo entre bom desenvolvimento das lavouras e clima favorável prolongou o período de colheita, aumentando ainda mais o volume disponível no mercado.
Outro ponto destacado por analistas é que, historicamente, novembro marca uma fase de transição entre períodos de seca e chuva, podendo exigir ajustes na oferta ao longo das semanas seguintes. No entanto, até o momento, as condições climáticas não provocaram perdas relevantes, mantendo a qualidade da cenoura elevada e contribuindo para o excesso de produto em circulação. Por isso, o setor monitora possíveis impactos das chuvas mais intensas previstas para o fim do mês, que podem diminuir a produtividade e alterar o padrão de oferta.
Enquanto isso, atacadistas e varejistas têm relatado estabilidade nas vendas, sem aumento significativo de consumo que possa absorver o volume adicional vindo de São Gotardo. Esse cenário de pressão prolongada indica que a recuperação dos preços da cenoura pode depender de uma redução efetiva da oferta nas próximas semanas ou de alterações climáticas capazes de influenciar diretamente o ritmo das colheitas.
Produtores aguardam novas avaliações do Cepea para entender se a tendência de queda deve se estender até dezembro ou se há possibilidade de mudança no comportamento do mercado. Por ora, o setor segue atento às condições climáticas, ao ritmo das colheitas e à capacidade de absorção dos mercados consumidores nacionais.
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Fonte: cenariomt






