Foto:
APRE
Tarifa dos EUA afeta diretamente o setor florestal brasileiro
O governo dos Estados Unidos anunciou, em 30 de julho, a aplicação de uma tarifa de 50% sobre a importação de produtos florestais processados provenientes do Brasil. A medida atinge especialmente o Paraná, maior produtor nacional de madeira de pinus, que já sente os efeitos da decisão com férias coletivas e revisão de investimentos no setor.
Produtos como madeira serrada, painéis, portas, móveis e molduras — todos processados a partir de florestas plantadas de pinus e eucalipto, base da silvicultura paranaense — são diretamente impactados pela sobretaxa.
Fabio Brun, presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas), alerta:
“É uma notícia muito ruim. Justamente onde o Paraná é destaque, seremos taxados de forma tão severa. O impacto pode ser profundo para as operações e os empregos em todo o Sul do país.”
Celulose e ferro-gusa ficam fora da tarifa
O decreto dos EUA exclui da tarifa produtos como a celulose química (solúvel, soda, sulfato, sulfito), a celulose semiquímica, e a celulose produzida a partir de papel reciclado ou bambu — segmentos que o país norte-americano não produz. Destaca-se a celulose de fibra curta à base de eucalipto, utilizada para fabricação de itens como papel higiênico e guardanapos.
Outro produto da base florestal isento da tarifa é o ferro-gusa, que no Brasil é parcialmente fabricado com carvão vegetal, substituindo insumos fósseis.
Impactos imediatos: férias coletivas e retração nas exportações
Antes mesmo da confirmação oficial da tarifa, empresas do setor já adotavam medidas de contenção, como suspensão de exportações para os EUA, redução de estoques e férias coletivas para preservar empregos.
Com a medida oficializada, a situação se agrava. Brun explica que o mercado americano é o principal destino das exportações e que redirecionar esses volumes para outros compradores é um processo lento e difícil, que muitas vezes requer a redução de preços para se manter competitivo.
Setor florestal lidera as exportações do agronegócio brasileiro
Os produtos florestais são os maiores responsáveis pelas receitas de exportação do agronegócio brasileiro, com faturamento de US$ 3,7 bilhões. Cerca de US$ 1,7 bilhão desse total vem dos estados do Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O Paraná, por sua vez, responde por metade da produção nacional de pinus e gera cerca de 15% dos empregos do setor florestal no país.
Brun ressalta a importância da cadeia produtiva para a economia e para as comunidades do interior do estado, destacando que as indústrias florestais também mantêm projetos sociais e de saúde, que podem ser afetados com a retração do setor.
Contradição com tendências globais de sustentabilidade
A sobretaxa dos EUA ocorre em um momento em que o mundo valoriza cada vez mais as florestas plantadas como solução sustentável para o combate às mudanças climáticas. A madeira oriunda dessas áreas é renovável e contribui para a mitigação dos gases de efeito estufa.
“O setor florestal plantado é um dos pilares da sustentabilidade global. É difícil entender por que estamos sendo penalizados dessa forma, numa decisão que parece política, sem base técnica ou comercial”, critica Brun.
Incertezas e apelo por ação diplomática urgente
A falta de uma resposta diplomática forte do governo brasileiro preocupa o setor. Segundo Brun, faltou uma condução adequada para enfrentar a crise e agora é urgente buscar alternativas para minimizar os danos.
Para isso, a APRE vai apresentar ao governo do Paraná, nos próximos dias, um conjunto de medidas, entre elas:
- liberação de linha de financiamento subsidiado via Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE) para pagamento de folha;
- antecipação de créditos de ICMS para exportadores de madeira;
- programas de incentivo ao uso da madeira em diversas aplicações.
Fonte: portaldoagronegocio