O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, e o cientista Rattan Lal, enviado especial do IICA à COP 27, lideram o apoio do organismo aos esforços feitos pelos países das Américas para direcionar a voz da agricultura no cenário global das discussões sobre o clima.
As mais importantes realizações da agricultura das Américas no combate e na mitigação da mudança do clima e na proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, pontos comuns entre os países da região, estão sendo apresentadas ao mundo pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na 27ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-27), que acontece até o dia 17 de novembro, no Egito.
A COP-27 reúne chefes de Estado e de Governo, ministros e negociadores, ativistas climáticos, prefeitos, representantes da sociedade civil e de organizações privadas no encontro anual mais importante sobre ação climática, do qual se espera a adoção de medidas essenciais para o enfrentamento da emergência climática.
Nesse evento global, o diretor-geral do IICA, Manuel Otero, apresenta o documento “Marcos de uma agricultura sustentável nas Américas”, que descreve diversas experiências bem-sucedidas desenvolvidas nas zonas rurais nos últimos anos, narradas por seus protagonistas de maneira detalhada, didática e com rigor científico.
O objetivo do IICA com a apresentação das experiências é fazer com que o setor agrícola seja entendido como parte fundamental das soluções para enfrentar a mudança do clima e contribuir para a transformação dos sistemas agroalimentares mundiais por meio de um processo baseado na ciência e que tenha os agricultores como atores centrais.
Destinado ao público em geral e aos especialistas, o documento traz informações sobre o plantio direto ou agricultura de conservação, o sistema intensivo de cultivo de arroz (SRI), os sistemas agrossilvipastoris, as pastagens naturais, o aproveitamento dos subprodutos do café, a pecuária sustentável e as boas práticas que vêm sendo adotadas nos países do Caribe.
Trata-se de experiências bem-sucedidas do setor agropecuário do continente americano, que está embarcado na transição para sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e sustentáveis, com base no princípio de se produzir mais com menos.
“Sabemos que nossos sistemas agroalimentares são perfectíveis, mas também estamos convencidos de que não são sistemas malsucedidos. Estão sendo feitas muitas coisas boas em matéria de sustentabilidade ambiental, e esses casos, generalizados no continente, demonstram isso”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.
O importante papel dos solos
“A agricultura sustentável e os sistemas agroalimentares das Américas exercem uma função estratégica no nível global e no interior dos países da região: cumprem um papel insubstituível na recuperação e sustentabilidade socioeconômica e na segurança alimentar, e sua contribuição é decisiva para o desenvolvimento harmonioso no econômico e social”, afirmou Rattan Lal, diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC) da Universidade Estadual de Ohio, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo, e enviado especial do IICA à COP-27.
Ele explica que o solo também pode se converter em sumidouro de carbono atmosférico e limitar o aquecimento global, e para isso é necessário transformar a ciência em ação. “Esperamos que a COP27 nos ajude a alcançar isso”, complementou Lal, que recebeu o Prêmio Mundial da Alimentação de 2020.
Durante a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CMNUCC), Lal e Otero lideram o apoio do organismo aos esforços feitos pelos países das Américas para direcionar a voz da agricultura no cenário global das discussões sobre o clima.
Para o IICA, a agricultura é parte fundamental das soluções à mudança do clima, com base na gestão dos recursos naturais feita pelos agricultores e agricultoras e as ferramentas oferecidas pela ciência e a inovação para essa atividade.
“Os agricultores de todo o mundo são os maiores administradores da terra. Há mais de 500 milhões de pequenos produtores, sendo, portanto, os principais executores do conceito de como tornar a agricultura uma solução à mudança do clima. Nossas políticas, em todos os âmbitos, de distrito, de condado, estatal, nacional, regional e internacional, devem estar a favor dos agricultores, a favor da agricultura e a favor da natureza”, afirmou Lal.
O Enviado Especial do IICA à COP27 participou em setembro, na Costa Rica, da reunião em que os ministros de agricultura das Américas chegaram a um consenso sobre mensagens a serem levadas à COP27 com foco na relevância do setor agrícola e na necessidade de sua liderança nos esforços mundiais de adaptação, mitigação e resiliência perante à mudança do clima.
“O conceito que proponho é cultivar carbono. Então, os agricultores, os gestores da terra, os pecuaristas e os que administram as plantações podem cultivar carbono na terra, nas árvores e no solo e ser recompensados. Assim como podem vender leite, aves de granja, carne bovina, milho e soja, também deveriam ser capazes de vender o carbono, para que se transforme em um produto básico”, acrescentou o cientista.
“É possível dar ao produto básico do carbono no solo um preço que seja justo, transparente e voltado ao agricultor? A maior parte do dinheiro atribuído a esse preço deveria ser destinado efetivamente aos agricultores. Isso nos ajudaria a traduzir a ciência em ação e a transformar a agricultura em solução à mudança do clima”, sentenciou.
Em diferentes foros organizados pelo IICA nos últimos meses, Rattan Lal expressou a necessidade de que o trabalho dos agricultores seja respeitado como uma profissão indispensável para a segurança alimentar e nutricional no planeta.
Pavilhão
Na COP27, o IICA e parceiros internacionais mantém o pavilhão Casa da Agricultura Sustentável das Américas, com o lema “Alimentando o mundo, cuidando do planeta”, onde estão sendo realizados cerca de 60 eventos, até o fim da COP27, de alto nível político e técnico e serão compartilhados exemplos de boas práticas, experiências e lições aprendidas nas Américas para que a agricultura mundial seja mais sustentável.
Temas como resiliência climática, segurança alimentar e nutricional, saúde dos solos, sistemas de produção climaticamente inteligentes, soluções baseadas na natureza, pecuária sustentável, produção láctea climaticamente inteligente, o papel das mulheres e dos jovens em uma agricultura resiliente ao clima, biocombustíveis, tecnologias e produtividade, estarão presentes nos diferentes diálogos em formato híbrido (presenciais e virtuais).
“Vamos discutir todos os temas com senso de autocrítica, sabendo que os sistemas agroalimentares são perfectíveis, mas nunca são sistemas malsucedidos”, disse o diretor-geral do IICA, Manuel Otero.
Fonte: portaldoagronegocio