Oscilação nas cotações: o que está acontecendo?
Durante o mês de abril, o algodão operou em um intervalo de variação relativamente estreito, de 2%, com preços oscilando entre R$ 4,16 e R$ 4,24, segundo o Sinap (Sistema de Informações de Negócios com Algodão em Pluma). Desde janeiro, a valorização acumulada já chega a 4%.
Vale lembrar que o indicador da BBM leva em consideração a média dos preços informados pelas corretoras associadas, sempre tomando como base o algodão tipo 41-4, posto em São Paulo.
Por que o algodão brasileiro está tão sensível?
Segundo a corretora Laferlins, o preço do algodão nacional está cada vez mais atrelado ao mercado internacional. Fatores como a taxa de câmbio e as cotações futuras nos Estados Unidos acabam puxando o valor pago no Brasil. Não é exagero dizer que o nosso algodão dança conforme a música tocada lá fora.
Fechamento: 24/04/2025 em Mato Grosso
Praça | Preço Compra (R$/@) | Variação (%) |
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Alto Garças | 137,03 | +0,89 |
Campo Novo do Parecis | 136,80 | +0,90 |
Campo Verde | 137,28 | +0,89 |
Diamantino | 137,39 | +0,89 |
Itiquira | 135,76 | +0,90 |
Nova Mutum | 136,53 | +0,90 |
Rondonópolis | 136,29 | +0,90 |
Sorriso | 135,98 | +0,89 |
Abastecimento doméstico: um mercado globalizado
Hoje, estima-se que mais da metade do abastecimento interno seja realizado por tradings internacionais. Isso gera uma comparação direta entre os preços praticados no Brasil e os de exportação, pressionando ainda mais o mercado interno.
Oferta restrita e qualidade: dois ingredientes que pesam
Outro ponto crucial: a oferta de algodão de boa qualidade está cada vez mais escassa. Grande parte da produção brasileira já foi exportada ou está comprometida para embarque. Isso faz com que quem detém estoques premium possa cobrar preços mais altos, enquanto compradores menos favorecidos correm atrás do que restou no mercado.
“Neste cenário, os detentores dessas qualidades oferecem o algodão a preços mais elevados e os que precisam comprar, precisam buscar onde comprar”, relatam operadores de mercado.
Guerra comercial: impacto direto no mercado
As tensões comerciais entre Estados Unidos e China, reacendidas pelas novas tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump, também mexem no tabuleiro. A expectativa é que a China importe menos algodão dos EUA, o que poderia abrir espaço para o algodão brasileiro no mercado asiático.
Mas calma lá: o impacto imediato deve ser pequeno. Isso porque a China, na safra 2024/25, está aumentando sua própria produção de algodão, que deve alcançar 27,1 milhões de fardos, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Produção nacional em alta: boas e más notícias
Se por um lado o mercado internacional impõe desafios, por outro a produção brasileira caminha para um recorde histórico. Segundo a última estimativa da Conab, a safra 2024/25 de pluma deve ser 5,1% maior do que a anterior, totalizando impressionantes 3,89 milhões de toneladas.
Essa alta é boa para os produtores, mas também exige cuidado: uma oferta interna muito elevada, sem escoamento adequado para o exterior, pode pressionar os preços para baixo no futuro.
Expectativas para os próximos meses: volatilidade à vista
De acordo com a Laferlins, o curto prazo promete ser de forte volatilidade, influenciado pelas oscilações da guerra comercial e pela dança dos preços das commodities agrícolas no mercado internacional.
No médio prazo, porém, a corretora aposta em uma recuperação gradual dos preços internacionais, impulsionada pela concorrência de área plantada com grãos como soja e milho, que podem “roubar” espaço do algodão em várias regiões produtoras.
Resumo da ópera:
- Preços atuais: Em alta, mas instáveis;
- Oferta interna: Boa, mas com risco de sobrecarga se exportações não forem rápidas;
- Mercado internacional: Volátil, com impacto direto da guerra comercial EUA-China;
- Expectativa para o médio prazo: Tendência de recuperação, mas com muitas variáveis em jogo
No mundo do algodão, o vento que sopra no Texas também balança as plantações no Mato Grosso. O cenário internacional continua sendo o principal termômetro para os preços internos, e a tensão comercial entre gigantes como EUA e China adiciona uma boa dose de adrenalina aos negócios.
Para produtores e comerciantes, o recado é claro: olhos atentos no câmbio, nos embarques e, claro, nas próximas jogadas da guerra tarifária. Quem souber surfar nessa onda de incertezas pode sair no lucro — mas é preciso agilidade, estratégia e, acima de tudo, informação na ponta da língua.
Fonte: cenariomt