Agronegócio

5 Transformações Essenciais para Lidar com a Volatilidade no Sistema Alimentar Global

2025 word1
Grupo do Whatsapp Cuiabá

O sistema alimentar global passa por uma transformação profunda, marcada por crescentes incertezas e desafios. Segundo relatório da RaboResearch Food & Agribusiness, elaborado por especialistas como Harry Smit, Cyrille Filott, Marjan van Riel e Andy Duff, o setor enfrenta uma combinação de pressões: crescimento mais lento da demanda, limitações de produção, enfraquecimento dos acordos comerciais multilaterais, impactos sobre as cadeias de suprimentos e redistribuição de responsabilidades entre governos e empresas. O estudo mapeia cinco transformações principais que devem guiar o setor nos próximos anos.

1. Crescimento desacelerado da demanda por alimentos

Apesar de ainda estar atrelado ao crescimento populacional e econômico, o ritmo da demanda por alimentos está diminuindo em diversas regiões. Enquanto países da África e do Oriente Médio continuam com alta taxa de crescimento demográfico, regiões como China, Japão, Coreia do Sul e Europa enfrentam retração populacional. Com isso, mercados maduros tendem a priorizar qualidade e serviços, e não necessariamente volume.

O relatório também destaca a concorrência crescente entre alimentos, rações e biocombustíveis, cuja produção aumentou desde o início dos anos 2000. A redução do apoio político aos biocombustíveis, especialmente nos Estados Unidos, poderá afetar esse segmento, embora não se espere sua extinção, dado seu papel em metas ambientais e de segurança energética.

Além disso, doenças associadas à má alimentação têm alterado os hábitos de consumo. Regiões de alta renda convivem com altas taxas de obesidade e diabetes, o que pode reduzir a demanda por produtos como açúcar e proteínas animais — cujo consumo parece ter atingido o pico. Já em regiões de baixa renda, a desnutrição continua sendo o principal desafio.

2. Redução do ritmo de crescimento da produção agrícola

O avanço da produtividade agrícola vem perdendo força nas economias mais desenvolvidas. Fertilizantes sintéticos, sementes melhoradas e mecanização, outrora grandes propulsores, hoje oferecem retornos decrescentes. A aquicultura, contudo, destaca-se por seu rápido crescimento e menor demanda por recursos naturais.

Com o esgotamento de soluções convencionais, o setor aposta agora no uso estratégico de insumos, sustentabilidade e novas tecnologias como inteligência artificial (IA), fermentação de precisão e edição genética. Estas ferramentas prometem ganhos de produtividade, menor impacto ambiental e adaptação às mudanças climáticas — embora exigem alto investimento e digitalização no campo.

3. Volatilidade impulsionada pelo enfraquecimento do comércio multilateral

O sistema global de comércio agrícola, antes sustentado por acordos multilaterais, passa a ser influenciado por estratégias macroeconômicas nacionais. O estudo mostra que a América do Sul superou a América do Norte como maior exportadora líquida de produtos agrícolas, enquanto China, Japão, Oriente Médio e Coreia do Sul tornaram-se grandes importadores.

As tensões geopolíticas e novas barreiras comerciais aumentam a volatilidade. Como resposta, países têm buscado garantir autonomia estratégica, fortalecendo suas indústrias alimentares e reduzindo a dependência externa. Ainda assim, os desequilíbrios entre oferta e demanda locais tornam difícil a reversão completa da globalização do setor.

4. Cadeias de suprimentos cada vez mais vulneráveis

A desaceleração do crescimento da produção, aliada a riscos climáticos e aos limites planetários, tem ampliado a instabilidade nas cadeias de suprimentos. O aumento da frequência de eventos extremos — secas, enchentes, incêndios — agrava ainda mais o cenário. A produção agrícola, que crescia a taxas superiores a 3% na década de 1960, hoje avança menos de 2% ao ano.

Essa instabilidade força empresas do setor a adotar novas estratégias: equilibrar contratos de longo prazo para garantir o fornecimento e atuar no mercado à vista quando há abundância. Isso também pressiona por margens maiores para absorver oscilações nos preços de matérias-primas. A consolidação do setor, da produção à distribuição, tende a continuar, especialmente em mercados de baixo crescimento.

5. Redistribuição das responsabilidades entre os setores público e privado

Empresas do setor alimentício têm assumido metas voluntárias de sustentabilidade, muitas vezes em resposta a políticas públicas ou pressões de mercado. Grande parte das 15 maiores varejistas globais de alimentos já adota objetivos ambientais, que vão além de suas operações diretas e incluem toda a cadeia produtiva (emissões dos escopos 1, 2 e 3).

Contudo, observa-se uma racionalização dessas metas: algumas companhias estão reduzindo sua abrangência ou abandonando compromissos diante de dificuldades técnicas, custos elevados e resistência pública. Ao mesmo tempo, instituições como a Science Based Targets initiative (SBTi) e a metodologia Product Environmental Footprint (PEF) da União Europeia buscam padronizar essas metas.

Os provedores de capital também são pressionados a considerar riscos climáticos e regulatórios em seus investimentos. Entretanto, como muitos investimentos têm prazos curtos, nem todos os riscos são devidamente precificados. Há ainda movimentos de recuo, como o de bancos norte-americanos que deixaram alianças climáticas internacionais.

Na União Europeia e nos EUA, planos ambiciosos como o Green Deal e o Inflation Reduction Act estão sendo revistos, com foco em simplificação e competitividade. A tendência atual dos governos é reduzir sua atuação direta em sustentabilidade e transferir mais responsabilidades ao setor privado — alinhando essas metas à segurança estratégica e à realidade local, como escassez de água, solo e biodiversidade.

Conclusão

O sistema alimentar global caminha para uma nova fase, caracterizada por menor previsibilidade e maior volatilidade. O crescimento limitado da produção, aliado à fragilidade das cadeias logísticas e às mudanças nos padrões de consumo, impõe uma série de desafios à segurança alimentar. As cinco transformações mapeadas pela RaboResearch destacam a urgência de adaptação estratégica por parte de governos, empresas e produtores. Em um cenário de mudanças rápidas, decisões orientadas por inovação, sustentabilidade e resiliência serão cruciais para garantir o equilíbrio entre pessoas, planeta e lucros.

Fonte: portaldoagronegocio

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.