O Brasil tem se consolidado como um dos principais fornecedores globais de commodities agrícolas ao longo dos últimos 50 anos. Com uma população de pouco mais de 200 milhões de habitantes, o país atualmente produz alimentos suficientes para atender às necessidades calóricas de cerca de 900 milhões de pessoas, representando aproximadamente 11% da população mundial, conforme apontado por relatório do BTG Pactual, que descreve o Brasil como o “celeiro do planeta”.
No entanto, a falta de rastreabilidade nas commodities agrícolas brasileiras, como soja e milho, tem gerado sérios problemas. A adulteração e o desvio de cargas estão prejudicando a reputação do país no comércio internacional, com perdas de até R$ 5 bilhões por safra, de acordo com a Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Esses problemas incluem divergência de classificação, alteração de peso, roubo de carga, e até a adulteração de produtos com a adição de materiais como cascas, pedras e areia.
A Tecnologia Como Solução para a Rastreabilidade
A solução para esses desafios está na implementação de tecnologias avançadas de monitoramento. Roland Klein, especialista em logística e consultor da Bindflow, destaca que o processo logístico das commodities pode envolver múltiplos pontos de contato, como caminhões e armazéns, criando oportunidades para desvios e erros. Para resolver essa questão, a empresa BindTrack, do grupo Bindflow, desenvolveu o sistema BTrack, que utiliza a Internet das Coisas (IoT) para monitorar mercadorias em tempo real, garantindo maior transparência e confiabilidade.
Por meio de antenas e tags, o sistema emite frequências que permitem rastrear a localização exata da carga durante todo o seu trajeto. “A solução assegura que a certificação do produto na origem permaneça intacta até o destino final, fundamental para garantir a qualidade e a conformidade exigida pelos compradores internacionais”, afirma Klein.
Com o BTrack, é possível coletar dados em tempo real sobre o tempo de permanência em locais específicos, o tempo de deslocamento e a rota seguida, permitindo a personalização do processo logístico e a detecção de anomalias. “A instalação de tags em veículos ou cargas oferece informações detalhadas sobre a localização, e essas antenas podem ser ajustadas para representar pontos importantes no fluxo logístico, como balanças e portarias”, explica Cesar Villela, gerente de TI da BindTrack.
Rastreabilidade e o Acordo Mercosul-União Europeia
A rastreabilidade se torna ainda mais crucial com a iminente assinatura do Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que aumentará o fluxo de negócios entre os dois blocos. A União Europeia tem se mostrado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade, especialmente no que diz respeito à origem dos produtos agrícolas e sua relação com o desmatamento.
Roland Klein aponta que o setor enfrenta dificuldades para garantir a segregação de produtos provenientes de áreas desmatadas e não desmatadas, especialmente nos casos de clientes indiretos. “Nos clientes diretos, o controle já é feito, mas é complicado rastrear a origem nos clientes indiretos, onde a mistura de produtos pode ocorrer em várias etapas do processo, desde as fazendas até os armazéns”, destaca.
A atenção das autoridades brasileiras, como o Ministério da Agricultura (MAPA) e a Polícia Federal, é constante no combate a esses crimes. A combinação de controles rígidos com tecnologias avançadas, como o BTrack, será essencial para garantir a rastreabilidade total das commodities agrícolas e assegurar a confiança internacional no Brasil como fornecedor global.
Fonte: portaldoagronegocio