O contrabando de defensivos agrícolas tem se consolidado como uma prática criminosa preocupante no Brasil, com estimativas indicando que cerca de 20% do mercado nacional é composto por produtos ilegais. Apesar das legislações rigorosas que regulam a compra e o uso desses insumos, a entrada clandestina, sobretudo a partir de países vizinhos como Paraguai e Uruguai, desafia a fiscalização e gera impactos graves na saúde pública, na economia e no meio ambiente.
Um Mercado Paralelo em Expansão
A diferença de preços e a menor rigidez das legislações em países vizinhos impulsionam o comércio ilegal. No Uruguai, por exemplo, apenas os defensivos mais perigosos exigem receita agronômica, ao contrário do Brasil, onde qualquer aquisição requer prescrição técnica. A facilidade de acesso, aliada ao custo reduzido, leva muitos produtores brasileiros a recorrerem a esses produtos, mesmo conscientes dos riscos.
Estudos indicam que 65% a 70% dos defensivos ilegais no Brasil são fruto de contrabando, enquanto o restante decorre de falsificações ou uso indevido. Os principais insumos contrabandeados incluem ingredientes ativos como imidacloprido, metsulfurom-metílico e benzoato de emamectina, sendo a China a principal origem dos produtos, com 77,1% das apreensões.
Impactos na Saúde e no Meio Ambiente
O uso de defensivos agrícolas ilegais representa sérias ameaças à saúde humana e ambiental. Produtos adulterados podem conter concentrações tóxicas ou serem ineficazes, aumentando a resistência de pragas e colocando em risco a segurança alimentar. Resíduos de substâncias proibidas, como carbofurano e aldicarbe, estão associados a danos neurológicos, problemas de desenvolvimento e riscos durante a gravidez.
Além disso, o impacto ambiental é significativo, com riscos de contaminação do solo e dos recursos hídricos, comprometendo ecossistemas e a qualidade da produção agrícola brasileira.
Prejuízos Econômicos e na Cadeia Produtiva
A entrada ilegal de defensivos também afeta a economia, causando sonegação fiscal e desvalorização dos produtos locais. Insumos falsificados podem gerar custos adicionais para os produtores, tanto pela ineficiência quanto pelos danos às lavouras. A credibilidade do agronegócio brasileiro no mercado internacional, um dos pilares econômicos do país, também é colocada em xeque.
Esforços Legislativos e Necessidade de Cooperação
No Brasil, a Lei nº 7802/89 regula rigorosamente o uso de defensivos agrícolas, classificando o comércio ilegal e o uso sem receita técnica como crimes ambientais. Regiões de fronteira, como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, são as mais afetadas pela entrada clandestina desses produtos.
Apesar das campanhas de conscientização e das apreensões realizadas pelas autoridades, o combate ao contrabando exige ações mais abrangentes, incluindo maior fiscalização nas fronteiras e políticas de educação voltadas para os produtores.
Uma Questão Global
O problema transcende fronteiras, afetando a imagem do Brasil como líder global no agronegócio e comprometendo a sustentabilidade e a segurança alimentar internacional. Investimentos em tecnologia, fiscalização integrada e cooperação entre países são indispensáveis para mitigar os impactos devastadores dessa prática ilegal.
A união de esforços entre governo, setor privado e sociedade civil é essencial para proteger a agricultura brasileira, o meio ambiente e a saúde da população, garantindo um futuro sustentável para o setor agrícola.
Fonte: portaldoagronegocio