Desde o término do El Niño em junho de 2024, a região central do Pacífico equatorial permanece em estado de neutralidade climática, sem a influência de fenômenos significativos. Inicialmente, instituições como a Organização Meteorológica Mundial (WMO) e a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) projetavam a chegada do La Niña no segundo semestre deste ano. Contudo, segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), essa condição deve persistir pelo menos até março de 2025.
De acordo com a NOAA, a última previsão divulgada em 14 de novembro indicava 57% de probabilidade para o estabelecimento do La Niña até dezembro. No entanto, Humberto Barbosa, meteorologista e fundador do Lapis, considera essa possibilidade improvável. “Para que o La Niña se forme, é necessário que as temperaturas do Pacífico tropical fiquem consistentemente mais frias que o normal por pelo menos três meses consecutivos, o que não tem ocorrido”, explica Barbosa.
As temperaturas na região do Pacífico tropical variam atualmente entre -0,5 °C e +0,5 °C em relação à média histórica, insuficientes para caracterizar o La Niña. Além disso, áreas localizadas de aquecimento no Pacífico sugerem até mesmo a chance de um novo episódio de El Niño em 2025. Embora dois eventos consecutivos desse fenômeno sejam raros, as mudanças climáticas trazem incertezas sobre o comportamento climático global.
Seca e aquecimento oceânico preocupam
Enquanto o Pacífico apresenta incertezas, o Atlântico Norte e a maior parte do litoral brasileiro exibem condições anômalas de aquecimento, exceto na costa leste do Nordeste, onde as águas estão mais frias. Essa diferença térmica tem gerado bloqueios atmosféricos que favorecem secas e altas temperaturas, especialmente no Norte e Nordeste.
O Laboratório Lapis mapeou uma piora no cenário de seca desde setembro, destacando que regiões do Norte setentrional e do Nordeste, incluindo o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), sofrem com chuvas irregulares e prolongada ausência de precipitação. A formação de uma massa de ar seco intensifica o bloqueio atmosférico, interrompendo a formação de áreas de instabilidade e deixando o céu predominantemente claro.
Impactos na produção agrícola
A seca e as temperaturas elevadas já afetam a produtividade agrícola em várias partes do Brasil, segundo Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima. Ele alerta que as chuvas permanecem escassas em regiões marginais do país, como o extremo Norte, o Nordeste, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o oeste do Paraná e o sul do Mato Grosso do Sul.
“No Rio Grande do Sul, há áreas onde a quebra da safra de milho já chega a 100%”, afirma Santos. A safra de soja também pode sofrer perdas significativas devido à irregularidade das chuvas nessas regiões. Enquanto algumas áreas centrais do país devem registrar super safras com precipitação abundante, regiões mais marginais enfrentam longos períodos sem chuva, variando entre 15 e 20 dias, acompanhados de temperaturas elevadas.
“A falta de uma definição clara de La Niña é o que contribui para essa irregularidade”, explica Santos. Assim, enquanto algumas regiões colherão resultados excepcionais, outras terão perdas severas, evidenciando o impacto desigual do atual padrão climático sobre a agricultura brasileira.
Fonte: portaldoagronegocio