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A crise hídrica global já compromete de maneira significativa a produção de alimentos, colocando em risco mais de 50% do abastecimento mundial. O agravamento dessa situação é impulsionado pela combinação das mudanças climáticas, gestão inadequada dos recursos hídricos e aumento da demanda por água, resultante do crescimento populacional. A Comissão Global sobre Economia da Água (GCEW) alerta que, sem ações urgentes, o ciclo global da água poderá sofrer danos irreversíveis, com graves consequências econômicas previstas para 2050.
Gustavo Defendi, empresário da Real Cestas, que atua há mais de duas décadas no setor de cestas básicas, acompanha de perto os desafios enfrentados por produtores e fornecedores. Ele destaca que as culturas mais prejudicadas pela falta de água são as que dependem de irrigação, como o cultivo de grãos e a pecuária. “Se medidas urgentes não forem adotadas, a segurança alimentar global ficará seriamente comprometida nas próximas décadas”, alerta Defendi.
Diante desse cenário, ele reforça a importância de investimentos em tecnologia e em uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos no campo. “A crise hídrica impacta diretamente a segurança alimentar global. É crucial que os produtores adotem práticas de uso eficiente da água, tanto na pecuária quanto no cultivo de vegetais, para assegurar uma produção sustentável e responsável”, afirma Defendi. Ele também salienta que essas práticas não apenas preservam os recursos hídricos, mas também protegem o futuro da produção em regiões já afetadas pela escassez de água.
Medidas globais e desperdício de água
Diversos países já adotam políticas para promover o uso racional da água na agricultura e incentivam práticas de agricultura regenerativa, fundamentais para enfrentar a crise hídrica e assegurar a continuidade da produção nas regiões mais afetadas. “O equilíbrio entre a produção agrícola e a preservação ambiental é a chave para enfrentar os desafios futuros”, afirma Gustavo, reforçando a necessidade de colaboração entre governos, empresas e produtores para mitigar os impactos dessa crise.
Um estudo divulgado pelo instituto Trata Brasil em junho de 2023 revelou que, em 2022, 37,8% da água produzida no Brasil foi desperdiçada antes de chegar às residências, uma leve melhora em relação aos 40,3% registrados em 2021. Embora tenha havido progresso, o índice ainda está longe da meta de 25% estabelecida pelo Ministério do Desenvolvimento Regional para 2034. O desperdício de água no país em 2022 somou 7 bilhões de metros cúbicos, o equivalente a 7,6 mil piscinas olímpicas perdidas diariamente devido a vazamentos, desvios e erros de medição.
Gustavo Defendi também ressalta o potencial das tecnologias avançadas, como big data, inteligência artificial e internet das coisas (IoT), para otimizar a gestão hídrica. “Essas tecnologias, conhecidas como ‘águas inteligentes’, podem revolucionar a maneira como gerimos nossos recursos hídricos, reduzindo desperdícios e promovendo uma gestão mais eficiente, sustentável e resiliente”, destaca o empresário.
Somente as perdas por vazamentos em 2022 corresponderam a 3,6 bilhões de metros cúbicos de água tratada, o suficiente para abastecer 54 milhões de pessoas por um ano, ou suprir as necessidades de todos os 32 milhões de brasileiros sem acesso à água potável, com sobra para abastecer cinco vezes a população do estado do Rio Grande do Sul, que recentemente enfrentou problemas de abastecimento devido a enchentes.
“A crise hídrica global é um desafio urgente que exige mudanças profundas tanto nos sistemas de produção quanto nos hábitos de consumo da população. O papel de cada indivíduo, ao repensar sua alimentação e seu consumo de água, pode ser determinante na construção de um futuro mais sustentável, com acesso garantido aos alimentos e uso eficiente da água”, conclui Gustavo.
Fonte: portaldoagronegocio