Com a aproximação da temporada de divulgação de balanços do terceiro trimestre de 2024, o mercado financeiro brasileiro se prepara para avaliar os resultados das principais empresas do país. As expectativas são elevadas em relação ao desempenho de setores estratégicos, como commodities, bancos e consumo, em um cenário econômico que ainda apresenta desafios, incluindo oscilações nos preços de insumos e o impacto das altas taxas de juros.
Especialistas enfatizam a importância de monitorar tanto os resultados apresentados quanto as projeções para o futuro, que podem sinalizar as direções do mercado nos próximos meses. Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, afirma que os resultados das empresas brasileiras serão observados com atenção redobrada devido à complexidade do ambiente econômico atual. “O mercado está ansioso para ver como as empresas se saíram em meio a um cenário repleto de desafios”, ressalta.
Silva destaca que setores como commodities, bancos e consumo estarão no centro das atenções dos investidores. “Empresas como Vale e Petrobras terão seus resultados acompanhados de perto, especialmente porque seus lucros são fortemente impactados pela oscilação nos preços de commodities, como minério de ferro e petróleo, que dependem da demanda da China”, explica.
No setor bancário, que abrange grandes instituições como Bradesco e Santander, a principal preocupação será avaliar a qualidade das carteiras de crédito em um contexto de juros elevados. “Com as taxas de juros ainda altas, o que o mercado busca saber é se a inadimplência está controlada e qual o desempenho das receitas com serviços e produtos financeiros”, comenta o especialista.
Já no segmento de consumo e varejo, os investidores avaliarão como a alta dos juros e a inflação impactaram o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, as vendas e lucros dessas empresas. Silva sugere que os investidores fiquem atentos a três fatores principais nos balanços: margens de lucro, endividamento e previsões futuras. “É essencial verificar se as empresas estão conseguindo manter suas margens, mesmo diante do aumento dos custos e da menor demanda por parte dos consumidores”, observa. Quanto ao endividamento, o especialista alerta para os riscos associados a empresas altamente alavancadas em um ambiente de juros altos. “Companhias com dívidas elevadas podem sentir com mais intensidade o impacto dos custos financeiros”, afirma. Ele também ressalta a importância das projeções das empresas para os próximos trimestres, que podem indicar como elas estão se preparando para os desafios futuros.
Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, acredita que há sinais globais indicando que as economias estão começando a sair ou a reduzir os efeitos do processo inflacionário, com pacotes de estímulos econômicos implementados na China, Europa e EUA. Alves acredita que essa tendência contribui para a melhoria do sentimento de confiança entre consumidores e investidores, aumentando o apetite por riscos. “Até mesmo a situação fiscal brasileira, que vinha afastando investidores, começa a ser revista com possíveis cortes pela frente, o que alivia a pressão nas contas públicas sobre tributos e, consequentemente, sobre a inflação. Tudo isso deve ter um efeito positivo”, afirma.
O especialista também ressalta que o ambiente macroeconômico sugere um “pouso suave” para a economia global, que, após um período de intensa pressão inflacionária e aperto monetário, demonstra sinais de resiliência. “Diversas variáveis poderiam influenciar os preços de forma estrutural, como conflitos, crise climática e competitividade no ambiente de negócios, que atualmente têm adicionado volatilidade e feito os índices oscilarem. Contudo, temos uma perspectiva de melhora na economia global que deve se manter nos próximos meses.”
Em relação aos setores que podem apresentar um desempenho inferior ao do trimestre anterior, Alves aponta para o varejo, que continua enfrentando desafios significativos, especialmente devido à concorrência com grandes players globais e fornecedores de marketplaces. “Em uma guerra de preços, normalmente o menor vence, o que comprime as margens e exige esforços crescentes para obter lucro”, observa.
Por outro lado, setores considerados mais defensivos, como energia elétrica, seguros, bancos e saneamento básico, tendem a apresentar resultados mais consistentes. “Essas empresas, que historicamente pagam dividendos, agregam valor ao portfólio por serem menos voláteis e conseguirem repassar aumentos de preço ao consumidor”, acrescenta.
Uma possível surpresa nesta temporada, segundo Alves, poderia ser a estabilização dos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, além de uma maior previsibilidade em relação ao dólar e à política fiscal brasileira. “Essas variáveis têm trazido muita volatilidade ao mercado local e, se houver maior previsibilidade, poderíamos ter um cenário mais claro para a tomada de decisões”, analisa. Ele recomenda que os investidores revisem suas teses de investimento para garantir que suas carteiras estejam preparadas para enfrentar eventuais tempestades econômicas.
Para os iniciantes no mundo dos investimentos, os especialistas concordam em recomendar a diversificação e o foco nos fundamentos das empresas, ao invés de se deixarem levar pelas oscilações diárias do mercado. “A diversificação é essencial para reduzir riscos e garantir uma carteira mais equilibrada”, sugere Silva, que também enfatiza a importância de estudar o mercado e cultivar a paciência para alcançar resultados a longo prazo. Alves concorda e destaca que “a bolsa de valores não é um lugar para ganhar dinheiro rapidamente. Os melhores resultados surgem com uma visão de longo prazo”.
Fonte: portaldoagronegocio