Os atrasos no plantio e as incertezas em relação ao desenvolvimento das lavouras constituem as principais preocupações sobre o impacto das condições climáticas na safra de trigo de 2024. As chuvas fora de época em maio prejudicaram o calendário agrícola em regiões como o Rio Grande do Sul, resultando em um plantio tardio, enquanto geadas e precipitações irregulares afetaram a qualidade do grão em várias fases de crescimento. Esse cenário de incertezas climáticas e seus efeitos sobre a safra no Brasil foi discutido no webinar “Safra de Trigo Nacional 2024”, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) no dia 8 de outubro.
Situação do Setor Moageiro no Sul do Brasil
O operador de Mercados da Solo Corretora de Cereais, Indio Brasil dos Santos, explicou que as chuvas em maio atrasaram o plantio, que ocorreu na segunda quinzena de junho, resultando em uma colheita mais lenta no Rio Grande do Sul. Apesar das adversidades, o especialista observou que 85% das lavouras estão em boas ou excelentes condições, embora haja crescente preocupação com chuvas excessivas, que já afetaram 2% das áreas cultivadas. Santos também destacou que muitos produtores enfrentam dificuldades financeiras e podem não conseguir armazenar suas produções por muito tempo, o que poderia pressionar o mercado. “Isso pode levar a uma queda nos preços, especialmente se houver um grande volume de vendas concentradas após o pico da safra, previsto para o fim de outubro”, acrescentou.
Em Santa Catarina, o diretor-executivo da Copercampos, Rosnei Soder, afirmou que, apesar da redução na área plantada para a safra de 2024, as condições das lavouras são promissoras. “As plantações estão muito bonitas, mas continuamos preocupados com as chuvas que estão por vir”, ressaltou Soder, prevendo uma colheita de até 400 mil toneladas, caso as condições climáticas permaneçam favoráveis. Entretanto, ele reiterou que a colheita ainda depende do volume e da duração das chuvas.
Cenário em Paraná e Minas Gerais
O coordenador da Divisão de Conjuntura do Departamento de Economia Rural do Paraná (DERAL-PR), Carlos Hugo Godinho, apresentou um panorama similar, destacando mudanças significativas nas práticas de plantio. Ele informou que, enquanto o sudoeste paranaense enfrentou chuvas intensas em maio, a metade norte do estado sofreu um déficit hídrico severo, com 40 a 45 dias sem chuvas em junho, resultando em produtividades alarmantemente baixas, com algumas regiões colhendo menos de 2 mil quilos por hectare. A previsão de produção, inicialmente de 3,6 milhões de toneladas, foi revisada para 2,6 milhões de toneladas, uma queda de 32% em relação às expectativas iniciais. “Mesmo com os preços reagindo, a maioria dos produtores deve ter prejuízo ou, no máximo, empatar os custos do trigo”, destacou Godinho.
Em Minas Gerais, Eduardo Ellas Abrahim, presidente da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg), relatou que a produção de trigo deve cair para cerca de 250 mil toneladas, uma redução de 50% em relação ao ano anterior, que registrou 470 mil toneladas. “Tivemos lavouras que não se estabeleceram devido à falta de chuvas, inclusive no Sul de Minas, que normalmente tem um clima mais favorável”, afirmou.
Apesar da queda na produção, o preço do trigo se manteve estável em Minas Gerais, com algumas variedades, como o trigo branqueador, sendo negociadas a até R$ 1.600, impulsionadas pela demanda de moinhos específicos. Abrahim expressou otimismo em relação ao próximo ciclo de plantio, com produtores buscando informações sobre preços de sementes.
Cenário Promissor em São Paulo e Goiás
O gerente de Suprimentos da Anaconda S.A., Nelson Montagna, apresentou um panorama positivo para a safra de trigo em São Paulo, com uma produção estimada em torno de 360 mil toneladas. Ele ressaltou que 80% a 90% da colheita já foi realizada, indicando que a safra está praticamente concluída. “Apesar das dificuldades climáticas no início do plantio, o clima se estabilizou, resultando em uma safra normalizada”, definiu Montagna.
Ele também observou a tendência de crescimento na produção do estado ao longo dos anos, passando de 140 mil toneladas em 2013 para uma estimativa de 320 mil toneladas neste ano, com potencial para alcançar meio milhão de toneladas no futuro. Montagna finalizou ressaltando que, embora a chegada do trigo russo aos portos brasileiros apresente um desafio, a baixa qualidade do produto limita seu impacto no mercado.
No estado de Goiás, a produção de trigo tem apresentado um crescimento expressivo, superando as 300 mil toneladas pela primeira vez, principalmente devido ao aumento das áreas irrigadas, enquanto Minas Gerais ainda depende em grande parte do cultivo de sequeiro.
Fonte: portaldoagronegocio