A Hedgepoint Global Markets aborda, em relatório, o cenário atual e futuro para a soja no Brasil. “Analisando os números publicados pela Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais), podemos chegar a algumas conclusões relacionadas ao ritmo de esmagamento da soja, ao nível de estoques e à atividade que podem nos ajudar a explicar o que vai acontecer com os preços locais da soja nos próximos meses”, observa Ignacio Espinola, analista Sênior de Grãos da Hedgepoint.
“Antes de começarmos, vamos levar em consideração que, para este estudo, usaremos a média dos últimos 3 anos como um indicador dos números de que precisamos para projetar o que provavelmente acontecerá em um futuro próximo”, explica.
O mercado brasileiro de soja tem exportado muito nos últimos meses. A China tem sido muito ativa, comprando muitos grãos do Brasil devido a sua política de formação de estoques.
“Como isso afeta o mercado local do Brasil? Os preços locais devem subir? Até quando as esmagadoras terão estoques para usar? Vamos tentar descobrir isso”, diz Ignacio.
Disponibilidade de soja, números de esmagamento e muito mais
De acordo com a Abiove, até o final de junho, o Brasil esmagou 26,9 milhões de toneladas de soja. Para determinar o número de esmagamento para julho, a Hedgepoint considera a média dos últimos 3 anos, que é igual a 4,8 milhões de toneladas. “Isso nos leva a um total de 31,7 milhões de toneladas de soja esmagadas até o final de julho, o segundo maior número desde 2017”, ressalta.
Com relação aos números de exportação, o Brasil já exportou um total de 75,4 milhões de toneladas até julho. “Vamos supor que o Brasil exportará um total de 92,4 milhões de toneladas, que é o mesmo número que a CONAB divulgou em seu último relatório. O Brasil deveria exportar 17 milhões de toneladas de soja no restante de 2024”, analisa.
E prossegue: “Considerando todos os números mencionados anteriormente, chegamos à conclusão de que, em 1º de agosto, havia 44,4 milhões de toneladas de soja disponíveis no Brasil”.
Qual é a quantidade de soja disponível para as esmagadoras?
Se considerarmos que, de acordo com a Abiove, as esmagadoras compraram até o final de junho um total de 39,6 milhões de toneladas e considerarmos as compras para julho em um total de 0,6 milhão de toneladas (considerando a média dos últimos 3 anos), isso significa que as esmagadoras compraram até o final de julho um total de 40,2 milhões de toneladas.
“Seguindo esse raciocínio, concluímos que a moagem total até o final de julho seria de 31,7 milhões de toneladas (26,9 milhões de toneladas até junho mais 4,8 milhões de toneladas para julho), o que significa que as esmagadoras ainda têm cerca de 8,5 milhões de toneladas de soja disponíveis para moagem (40,2 milhões de toneladas compradas – 31,7 milhões de toneladas moídas)”, conclui.
“Se projetarmos de agosto a dezembro, deveremos ter 20,9 milhões de toneladas processadas, ou o que equivale a um total de 4,19 milhões de toneladas trituradas por mês. Considerando os 8,5 milhões de toneladas de estoque, isso significa que as esmagadoras estão cobertas para os próximos dois meses”, projeta.
Isso também significa que, para chegar até o último dia de dezembro e atender às suas necessidades de esmagamento, o setor precisará de 12,4 milhões de toneladas extras e, provavelmente, já está comprando para outubro-novembro-dezembro e, se adicionarmos um estoque de segurança de dois meses, o número volta para 20,9 milhões de toneladas.
O que acontecerá no futuro próximo com o basis de soja brasileira?
Está claro que cada triturador tem sua própria estratégia. Alguns estarão comprando com 2 a 3 meses de antecedência; outros podem estar olhando para uma janela mais ampla ou para um curto período. Independentemente da estratégia, o setor como um todo no Brasil está coberto por quase dois meses de antecipação.
Considerando o ritmo de compra dos três anos anteriores, em que, durante a segunda metade do ano, o setor estava comprando a um ritmo médio de 1,8 milhão de toneladas por mês, isso nos daria um total de 8,9 milhões de toneladas, o que não é suficiente para cobrir os 12,4 milhões de toneladas de que o setor precisará para corresponder aos números esperados de esmagamento e não é suficiente para cobrir o esmagamento mais o estoque de segurança.
“Além disso, é preciso considerar algum estoque de passagem para o próximo ano. Se assumirmos os números da CONAB, o estoque deve ser de cerca de 3,1 milhões de toneladas”, diz.
Por fim, se considerarmos que as esmagadoras usam uma política de estoque de 2 meses de esmagamento, e tomarmos a média dos últimos 3 anos para a atividade de esmagamento em jan-fev, isso nos dá um total de 3,25 milhões de toneladas a cada mês.
“Portanto, as esmagadoras devem comprar um total de 20,9 milhões de toneladas de agora até o final do ano, o que é quase 2,5 vezes a média dos últimos 3 anos. Também é importante observar que 2024 tem o menor ritmo de compra desde 2020 até junho, portanto, os esmagadores devem se recuperar na segunda metade do ano para ter os grãos físicos para esmagar”, acredita.
Toda essa situação deve exercer alguma pressão sobre os preços da soja no mercado local, o que deve elevar os preços e tornar mais atraente para os agricultores a venda de soja para esmagamento do que para exportação.
Tendo em vista o fato de que agora o Brasil entra em ritmo de programa de exportação de milho, o aumento dos preços dos grãos a serem usados em atividades de esmagamento não deve ser uma surpresa. Além disso, há o efeito da China, embora os asiáticos estivessem comprando muita soja brasileira, parece que estão mudando para grãos de origem americana, como normalmente acontece nesta época do ano.
“Dito isso, os esmagadores terão de ser mais agressivos em suas compras ou adotar uma estratégia de estoques de segurança mais baixos, que já são baixos considerando apenas dois meses de estoque. Deveremos ver alguma pressão sobre os preços locais devido à maior concorrência pela soja restante. Por fim, há sempre a possibilidade de que, se o mercado ficar muito caro, as esmagadoras decidam fazer sua manutenção anual durante o segundo semestre do ano para ajustar a planta e para evitar esmagar soja cara”, aponta.
Aqui está um exemplo de basis que está sendo construído em Mato Grosso. Vamos esperar para ver.
Fonte: portaldoagronegocio