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Agronegócio

Estudo inédito revela valorização do carbono na citricultura brasileira: US$ 7,72 por tonelada

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O valor do indicador para a produção de laranjas estimado pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono. Foto: Carlos Ronquim

O valor do carbono na citricultura brasileira foi recentemente estimado em US$ 7,72 por tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e). Esta é a primeira vez que se define um preço para esse indicador na produção de laranjas, o que poderá servir de referência tanto para o mercado voluntário de carbono quanto para outras iniciativas voltadas à sustentabilidade, como o pagamento por serviços ambientais. A estimativa foi elaborada pela equipe da Embrapa Territorial (SP) e apresentada no 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober).

Segundo a analista da Embrapa, Daniela Tatiane de Souza, ainda há poucos estudos científicos no Brasil que tratam da precificação do carbono na agricultura, e nenhum deles até então havia focado no setor citrícola, uma das principais cadeias exportadoras do agronegócio brasileiro. Além disso, não existe um mercado regulado de carbono em operação na agricultura que permita uma mensuração precisa dos valores praticados. “Estamos realizando um trabalho pró-ativo para traçar perspectivas e estabelecer referências, baseando-nos em metodologias reconhecidas internacionalmente,” explica Souza.

O Gás Carbônico como Referência Ambiental

O gás carbônico, sendo o gás de efeito estufa (GEE) mais emitido desde o início da industrialização, tornou-se o principal indicador ambiental para medir e comparar impactos no mercado. A geração de outros GEE e de agentes poluentes é convertida em toneladas de CO2 equivalente, facilitando a mensuração e valoração de impactos. A estimativa do preço do carbono em econômicas, como a citricultura, cria um incentivo financeiro para investimentos em tecnologias e práticas mais sustentáveis, como a melhoria nas técnicas de adubação, que visam reduzir o uso de nitrogênio e a emissão de óxido nitroso, um importante GEE.

“Como a redução das emissões de GEE e a remoção de CO2 da atmosfera acarretam custos sociais, econômicos e ambientais, a precificação é essencial para determinar o valor de uma tonelada de CO2 equivalente que foi evitada ou removida. Esse valor serve como referência tanto para recebe quanto para quem paga. Embora seja apenas uma base inicial, quando há um certificado de emissão reduzida (CER), é possível negociar valores mais altos do que para quem está apenas começando um projeto,” detalha o pesquisador da Embrapa, Lauro Rodrigues Nogueira Júnior. Ele também destaca que essa referência é útil para programas governamentais de redução de emissões e para iniciativas de pagamento por serviços ambientais que estão sendo implementadas no Brasil.

Proximidade com o Mercado Internacional

O valor estimado para o carbono na citricultura está alinhado com os preços observados no setor agrícola do mercado voluntário de carbono internacional. Nos últimos três anos, o preço médio do carbono no mercado voluntário na agricultura global, conforme dados do Eurosystem Marketplace, variou entre US$ 6,61 e US$ 11,02 por tCO2e. Como não havia estimativas comparáveis no Brasil, a equipe da Embrapa utilizou um anterior que forneceu um valor médio para o preço do carbono na agricultura e pecuária nacionais, ajustando-o monetariamente para aproximadamente US$ 7 por tCO2e – valor que se aproxima dos US$ 7,72 por tCO2e estimados para a citricultura.

Metodologia do Cálculo

Os cálculos para a citricultura foram realizados com base em dados socioeconômicos e ambientais, combinando dois conjuntos de fatores: o “custo social do carbono” e o “custo marginal de abatimento”. O primeiro atribui valor monetário às consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas, enquanto o segundo considera o custo tecnológico da redução dessas emissões. “Realizamos uma modelagem e simulação para estimar o preço do carbono na citricultura brasileira, considerando um conjunto de fatores que impactam o preço do carbono na agricultura,” detalha Souza.

A estimativa abrange 297 municípios do cinturão citrícola, que inclui o estado de São Paulo e o sudoeste/Triângulo Mineiro. Os cálculos utilizaram dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa. Quanto maior o PIB de uma localidade, maior tende a ser o valor do carbono, uma vez que um dinamismo econômico elevado geralmente está associado a maiores emissões de GEE.

Impacto do Carbono na Citricultura e Biodiversidade

Este estudo faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvido pela Embrapa e pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que avalia a dinâ dos estoques de carbono e a biodiversidade da fauna em áreas citrícolas de São Paulo e Minas Gerais. Financiado pelo Fundo de para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido, o projeto visa promover a transição para uma agricultura de baixo carbono, aumentar a biodiversidade e implementar práticas agrícolas sustentáveis.

A pesquisa estimou que os estoques de carbono no cinturão citrícola alcançam 36 milhões de toneladas, considerando pomares, solo e áreas com vegetação nativa dentro das propriedades. “Hoje sabemos que um hectare de citros pode armazenar cerca de duas toneladas de carbono por ano, o que equivale a 7,32 tCO2,” afirma Nogueira Júnior. Este trabalho inédito coletou dados que permitiram estimar o volume de carbono armazenado nas laranjeiras brasileiras, chegando a uma média de 50 quilos de carbono por árvore.

Além disso, o projeto identificou 314 espécies de animais silvestres no cinturão citrícola brasileiro, incluindo 268 aves, 28 mamíferos e 18 anfíbios e répteis. Entre os animais de grande porte registrados estão a onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará, capturados por câmeras com sensores. Outros foram avistados, fotografados ou identificados por pegadas, fezes e outros vestígios.

A Importância da Citricultura para o Brasil

O Brasil é o maior produtor mundial de suco de laranja, sendo responsável por 35% da produção global e por 75% das exportações internacionais do produto. Na última safra, a produção alcançou 307,22 milhões de caixas, e a exportação de suco ultrapassou 2,8 milhões de toneladas. O cinturão citrícola, a principal região produtora, conta com 463 mil hectares de pomares e concentra as principais indústrias processadoras de suco e subprodutos, movimentando cerca de US$ 14 bilhões por ano.

Fonte: portaldoagronegocio

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