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Agronegócio

A Ambiguidade da Bioeconomia e os Riscos para a Amazônia: Entenda os Desafios

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A bioeconomia tem ganhado destaque na discussão sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas sua definição ainda carece de clareza, o que pode representar um risco para a preservação dos ecossistemas e das comunidades locais. Um estudo recente, publicado na revista Ecological Economics, aponta que o termo abrange uma variedade de conceitos, como biotecnologia, biorrecursos e biocombustíveis, mas essa amplitude pode gerar confusão e comprometer a eficácia das políticas públicas voltadas para a região.

Assinado por uma equipe de pesquisadores brasileiros e estrangeiros atuantes na Amazônia, o artigo intitulado “A lack of clarity on the bioeconomy concept might be harmful for Amazonian ecosystems and its people” ressalta que a bioeconomia pode atender a diferentes agendas, desde a promoção de monoculturas como soja e dendê até a valorização de produtos não-madeireiros. Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e primeira autora do artigo, enfatiza a necessidade de um entendimento mais claro sobre o termo, que deve incluir compromissos com o desmatamento zero, equidade social e valorização das culturas locais.

Para abordar a diversidade da Amazônia, os autores propõem o conceito de “sociobioeconomia”, que integra a economia da floresta e a diversidade sociocultural da região. Essa abordagem considera a interação entre a biodiversidade e as culturas humanas, valorizando economias indígenas e locais. Entretanto, a adoção desse termo deve ser acompanhada de princípios rigorosos, incluindo a proteção da biodiversidade e a promoção da justiça social.

A Amazônia é a região mais biodiversa do planeta, abrigando a maior floresta tropical e aproximadamente 30 milhões de habitantes na parte brasileira. Com 59% do território nacional e 70% das áreas protegidas, a região é vital para a regulação do clima global.

Sociobiodiversidade e suas Implicações

O conceito de sociobiodiversidade refere-se à inter-relação entre a diversidade biológica e os sistemas socioculturais. O grupo de pesquisadores discute como diferentes termos e narrativas impactam as decisões políticas na Amazônia. A trajetória do conceito de bioeconomia é dividida em três vertentes: a bioeconomia biotecnológica, centrada em tecnologias de alta intensidade científica; a bioeconomia de biorrecursos, voltada para o aumento da produtividade; e a bioeconomia ecológica, que prioriza a promoção da biodiversidade.

Organizações como a FAO definem bioeconomia como a utilização e regeneração de recursos biológicos para soluções sustentáveis, enquanto a Comissão Europeia a associa a todos os setores que utilizam recursos biológicos para produzir alimentos e serviços. A pesquisadora Joice Ferreira destaca que o entendimento da bioeconomia varia conforme as necessidades de cada região, e a construção de um consenso em torno dos termos é essencial para a definição de estratégias de desenvolvimento para a Amazônia.

Riscos e Oportunidades na Bioeconomia

A ambiguidade do termo bioeconomia pode levar a consequências negativas, como evidenciado pela produção do açaí, que, embora tenha ultrapassado um valor de mercado de US$ 1 bilhão em 2023, também provocou a superexploração das florestas. Ima Vieira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, alerta que a expansão da bioeconomia pode alterar drasticamente a dinâmica amazônica, ressaltando a importância de salvaguardas rigorosas para garantir resultados positivos.

Roberto Porro, também da Embrapa, reforça a necessidade de substituir o termo bioeconomia pela sociobioeconomia, que valoriza a participação de comunidades tradicionais na economia da floresta e a geração de valor a partir da sociobiodiversidade. Essa abordagem busca reposicionar a atuação da Embrapa na região, promovendo sistemas produtivos sustentáveis e garantindo equidade social.

Os pesquisadores concluem que o conceito de sociobioeconomia pode fomentar sistemas econômicos alternativos, alinhados a relações harmoniosas entre comunidades locais e o meio ambiente, desde que fundamentado em valores de justiça, inclusão social e conservação da biodiversidade.

Autores e Instituições Envolvidas

O artigo “A lack of clarity on the bioeconomy concept might be harmful for Amazonian ecosystems and its people” é assinado por Joice Ferreira e Roberto Porro (Embrapa Amazônia Oriental), Emilie Coudel e Marie-Gabrielle Piketty (CIRAD, França), Ricardo Abramovay (Universidade de São Paulo), Jos Barlow (Lancaster University, Reino Unido), entre outros.

Fonte: portaldoagronegocio

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