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Agronegócio

Além de greening, sustentabilidade do setor citrícola norte-americano é ameaçada pelo clima

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Além de greening, sustentabilidade do setor citrícola norte-americano é ameaçada pelo clima

Colher a menor safra em quase 90 anos chama atenção, mas o que se destaca é que essa projeção foi realizada pelo USDA antes da passagem do furacão “Ian” pelo estado norte-americano – o fenômeno climático atingiu a Flórida no encerramento de setembro. O Departamento Norte-Americano deve divulgar uma nova estimativa em 9 de novembro, mas os dados do próximo mês serão focados em testes de maturidade e ainda não devem dimensionar os danos causados pelo furacão – isso deve ser verificado apenas no relatório de dezembro.

O furacão Ian, classificado como categoria quatro, trouxe ventos de até 160 km/hora e foi um dos mais fortes a atingir o estado norte-americano. Foram relatadas quedas de frutos das árvores e inundações, condições que podem trazer danos à citricultura local, tanto no curto prazo (safra 2022/23) como no médio (temporadas seguintes), já que muitas plantas foram arrancadas. Outras árvores, apesar de permanecerem em pé, ficaram parcialmente submersas, com possibilidade de as raízes apodrecerem, ocasionando a morte da laranjeira.

Diante disso, agentes locais acreditam que a produção do estado deve ser pelo menos 40% menor que a estimativa do USDA. Ou seja, isso significa que a safra somaria entre 16 e 17 milhões de caixas de 40,8 kg.

Vale lembrar que, em 2017/18, última vez que a Flórida foi atingida por um furacão (o “Irma”), a queda na produção foi de 34,6% frente à anterior, e agora é consenso de que o furacão Ian foi mais devastador que o Irma. E, além dos prejuízos na safra, houve também perdas em estrutura, como galpões e equipamentos.

Em 1997/98, a Flórida chegou a colher o recorde de 244 milhões de caixas, quando era a segunda maior produtora do mundo, atrás apenas do Brasil. O atual cenário traz ameaças para a sustentabilidade da atividade citrícola na Flórida. Mesmo antes do furacão, a produção já era prevista para ser menor, e a rentabilidade local já vinha sendo pressionada pelos altos custos de produção (tanto pela valorização dos insumos quanto pelos cuidados mais intensivos em decorrência do greening). Com a recente perda em produção, a diminuição na receita deve se intensificar.

Nos últimos anos, os Estados Unidos já vinham aumentando o volume de suco de laranja importado e, agora, as aquisições externas devem crescer ainda mais. O Brasil é o maior fornecedor de suco aos país norte-americano. No caso do FCOJ (suco de laranja concentrado e congelado), o Brasil foi responsável por fornecer 50,1% do volume importado pelos Estados Unidos na parcial de 2021/22 (outubro/21 a agosto/22), seguido pelo México, com 42,2%. Já para o NFC (suco de laranja não concentrado), o Brasil tem ainda mais notoriedade no mercado norte-americano, com78,6% de market share na safra passada, contra 20,5% do concorrente latino.

No campo brasileiro, a produção de laranjas na safra 2022/23 do estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro deve totalizar 314,09 milhões de caixas de 40,8 kg, segundo estimativa do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) no dia 12 de setembro, recuperação de 19,4% em relação à temporada 2021/22. A maior produção, contudo, não será suficiente para gerar excedentes, devido à elevada demanda industrial, em função dos baixos estoques de suco.

A previsão é de que os estoques de passagem fiquem bem abaixo do patamar estratégico, de 250 mil toneladas. A CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) estimou, em agosto, que o estoque de 2022/23 (em junho de 2023) deve fechar ao redor de 140 mil toneladas, considerando-se um aumento nos envios aos Estados Unidos nesta safra – mas não tão expressivo, já que a previsão foi feita antes da passagem do furacão Ian.

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