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Agronegócio

Simpósio FACTA sobre Salmonella avalia impactos da contaminação em frigoríficos e granjas e destaca manejos para evitá-la

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Simpósio FACTA sobre Salmonella avalia impactos da contaminação em frigoríficos e granjas e destaca manejos para evitá-la

O último dia do Simpósio FACTA sobre Salmonella nesta quarta-feira (19) trouxe debates sobre os cuidados para a evitar a contaminação no abate, em frigoríficos, os cuidados com o manejo de camas nos aviários e o importante destaque sobre um correto processo de monitoria e biossegurança. 

O médico-veterinário sueco, Martin Wiruep, deu início aos trabalhos técnicos desta quarta-feira com o tema “Fábrica de Rações: medidas de prevenção, monitoria e controle”. Segundo ele, a ração contaminada com Salmonella é uma importante fonte de introdução desta na produção animal. “Os animais infectados por Salmonella são a principal fonte de infecções de origem alimentar em humanos”, alertou.

Segundo ele, a prevenção e o controle de Salmonella em fábricas de ração devem ser baseados nos princípios HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). “A razão é que em todos os países existe um risco continuamente alto de introdução de Salmonella nas fábricas de ração, especialmente a partir de ingredientes de ração contaminados. O conceito de HACCP é detectar essa contaminação o mais rápido possível para facilitar a ação corretiva para alcançar as condições do processo visando reduzir a contaminação microbiana”, afirmou.

A estratégia anterior, que ainda pode ser aplicada, é limitar o controle ao teste do feed final. Essa abordagem deve ser abandonada, segundo ele. “A detecção de Salmonella, em primeiro lugar, é tarde demais porque não há tempo para correção. Devido à grande quantidade de ração a ser testada, a probabilidade de detectar uma contaminação por Salmonella, se não muito alta, é limitada. Portanto, um teste negativo de Salmonella do alimento acabado fornece apenas uma garantia limitada de segurança contra Salmonella. Isso foi claramente demonstrado durante um surto de Salmonella na Suécia na década de 1980, antes da introdução do HACCP. Apesar dos testes intensivos da ração acabada com resultados negativos para Salmonella, lotes de frangos de 15 produtores usando a ração, durante um período de 7 meses, foram repetidamente infectados com o sorovar de Salmonella posteriormente isolado na fábrica de ração”, afirmou.

Na sequência, a médica-veterinária, Letícia Dalberto, abordou o tema “Pré-abate e carregamento seus impactos na contaminação por Salmonella no abate”. Ela detalhou que apesar do rigoroso controle durante todo processo de criação dos frangos nas últimas oito horas antes podem comprometer e aumentar consideravelmente a prevalência de Salmonella no abatedouro. “Isto, claro, caso não tenhamos cuidados básicos como tempo de retirada de ração e boa ambiência na área de espera no abatedouro”, disse.

O objetivo, segundo Letícia, é reduzir o risco ao máximo. “Temos que diminuir a carga infectante em todas as fases, no manejo pré-abate, tempo de jejum, controle de equipes, análise de equipamentos, veículos e caixas e a área de espera”, explicou. “Assim, conseguimos atender o cliente com produtos dentro das especificações de qualidade física, química e microbiológica”, apontou. “Já somos os melhores em produtividade e nossa meta é também ser o melhor em qualidade microbiológica”, afirmou.

Dando continuidade, o médico veterinário Jaap Obdam falou sobre os pontos críticos de controle para Salmonella. Ele destacou importantes fatores, como os motivos principais para eliminar, reduzir e controlar a Salmonella na avicultura, pontos críticos de controle de Salmonella no abatedouro, higiene e biossegurança, amostragem por lote, carregamento e transporte, escaldagem, depenagem, módulos do departamento de evisceração e resfriamento. “Fazem parte deste processo também a seleção dos pesos, os processos de cortes e a desossa, assim como a limpeza e desinfecção e a definição dos requisitos do laboratório para amostragens”, detalhou.

Logo após, foi a vez da médica-veterinária da Food Safety Solutions, Simone Machado, levantar o questionamento “A positividade do campo reflete no abatedouro?”. Segundo ela, depende. “Cabe sempre repetir que a Salmonella não surge no abatedouro por geração espontânea, tendo sido carreada para o abatedouro albergadas junto as aves em algum momento. Desta forma, o monitoramento de carcaças no abatedouro irá refletir sempre o efeito acumulativo das diferentes fontes de contaminação e de possíveis pontos de contaminação cruzada, assim como o efeito das medidas de mitigação de risco aplicadas ao longo da cadeia produtiva e durante o processamento”, apontou.

Tendo-se em consideração que estamos falando sobre efeito acumulativo, é necessário considerar, de acordo com ela, que o nível de contaminação, particularmente no ceco das aves e nas carcaças, seja o grande referencial para o impacto na positividade das carcaças.

“Relevante citar ainda, a importância da representatividade e confiabilidade dos resultados do monitoramento pré-abate e o real status dos lotes ao chegarem na plataforma, principalmente quando temos lotes com baixos níveis de contaminação que podem determinar resultados falso negativos, assim como intercorrências após o monitoramento das aves que possam positivar os lotes”, afirmou.

Por fim e não menos importante, ela destacou que alguns sorovares de Salmonella sabidamente possuem uma maior capacidade de persistirem nos ambientes, principalmente na forma de biofilmes. “Onde esses sorovares se tornam dominantes, a correlação entre os resultados de campo e abatedouro normalmente se apresentam de forma mais evidente, diante da disseminação, resistência e persistência no ”, destacou. “O sucesso de qualquer programa de prevenção e controle de Salmonella depende de uma gestão integrada, onde todos os elos da cadeia produtiva se interrelacionam como uma engrenagem e buscam um resultado em comum”, finalizou.

Dando sequência, foi a vez da pesquisadora da Embrapa, Clarissa Vaz, questionar “O manejo de cama que realizamos realmente funciona?” De acordo com ela, pelo contato estreito com os frangos desde o alojamento dos pintinhos até o carregamento do lote para o abate, a cama acumula diversos tipos de resíduos da produção, como penas, restos de ração, insetos, excretas e secreções respiratórias. Isso contribui para estabelecer o diversificado microbioma da cama, que é influenciado pelo reuso entre lotes e pode atuar positivamente ou negativamente na saúde das aves, rendimento dos lotes e segurança da carne de frango. 

“Tipicamente, a cama nova contém maiores níveis de bactérias ambientais, enquanto a cama usada apresenta níveis maiores de bactérias intestinais provenientes da deposição das excretas dos frangos”, explicou. 

De modo geral, segundo ela, há menor carga de enterobactérias no alojamento dos pintinhos em cama reutilizada quando comparado ao momento do carregamento, resultado do acúmulo durante o período de criação. “Notadamente, a média de enterobactérias na cama reduz linearmente ao longo do reuso entre lotes sucessivos de frangos criados sobre a cama reutilizada”, disse.

Clarissa Vaz trouxe para sua apresentação um estudo em granjas de frangos nos Estados Unidos sobre fatores de risco relacionados à probabilidade de detectar Salmonella em cama reutilizada que, após o intervalo entre lotes, identificou maior número de variáveis significativas dentro das seguintes categorias: entorno da granja,  tipo de galpão e suas condições gerais no momento do alojamento do lote e biosseguridade. “Com destaque, a probabilidade de detectar Salmonella na cama foi associada à reposição parcial nos pinteiros ou troca total por cama nova”, afirmou. 

Nesse sentido, conforme ela destacou, a experiência de extensionistas e veterinários sanitaristas brasileiros reporta redução do número de amostras de cama de frango positivas para salmonelas ao longo do reuso entre lotes e cujas camas passaram por algum tipo de intervenção para reduzir ou até inativar patógenos residuais no período de vazio sanitário. 

“A avaliação de estabelecimentos de frangos de corte regularmente monitorados para salmonelas no estado de Santa Catarina permitiu associar a capacidade de alojamento acima de 50 mil aves, galpões com mais de 10 anos, e mais do que três pessoas trabalhando na granja como fatores de risco para a detecção dessa bactéria”, detalhou. “Esses fatores parecem predispor a maior chance de falhas nos procedimentos de biosseguridade, ressaltando sua importância na prevenção das salmoneloses”, ressaltou Clarissa.

Concluindo, segundo ela, é preciso encontrar um balanço entre o número de lotes criados na cama reutilizada e o menor risco para a saúde avícola. “O reuso da cama tem sido praticado por mais de dois anos, considerando que reduz a detecção de salmonelas ao longo do tempo”, exemplificou.

Continuando, o Professor aposentado da Federal de Uberlândia, Paulo Lourenço da Silva, apresentou as principais falhas nas medidas de biossegurança na avicultura.  Ele destacou que o setor precisa melhorar sempre. “O segmento acerta muito também, porém os ajustes são sempre necessários”, disse.

A avicultura precisa estar atenta às principais áreas de risco dentro do sistema de produção, como ele destacou. “O perigo é o setor cair na ‘zona de conforto’, que ‘ronda’ vários países. Temos a responsabilidade de ser exemplo, pela importância econômica da avicultura brasileira”, afirmou.

Paulo Lourenço ressaltou ainda a importância da educação continuada e do treinamento para os trabalhadores do segmento. “É preciso preparar as pessoas para os problemas existentes e também para os que estão por vir e que podem comprometer o sistema de produção avícola”, avaliou. “É importante detectar onde estão os elos mais fracos do sistema pois, afinal, as doenças se instalam por falhas em biossegurança”, disse. 

O início do trabalho, segundo ele, é estabelecer, por escrito um programa de biossegurança. “Seus princípios básicos são dizer o que é feito, fazer o que se diz e comprovar o que é feito”, detalhou. “Aponto como potencial significativo de disseminação de doenças a movimentação de pessoas, transporte de aves e ovos, ração, esterco, caixas, animais selvagens e domésticos, pragas, entre outros riscos”, afirmou.

Na sequência, a médica-veterinária do Ministério da Agricultura, Daniela Baptista, apresentou os dados de controle oficial de Salmonella no Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA).

Ela iniciou dando detalhes sobre o PNSA. “Os principais objetivos são prevenir e controlar as enfermidades de interesses em avicultura e saúde pública, favorecer a elaboração de produtos avícolas saudáveis para o mercado interno e externo e definir ações que possibilitem a sanitária do plantel avícola nacional”, detalhou. “A sanidade é o que mantém nosso ativo. É preciso fazer, garantir e comprovar a sanidade do plantel”, ressaltou.

As salmonellas, segundo ela, de controle oficial, representam uma pequena parte dos sorovares isolados. “É importante o mapeamento dos sorovares circulantes dentro do conceito de saúde única, com o direcionamento dos programas de controle. Lembro que a notificação é o que gera a credibilidade, pois há uma responsabilidade compartilhada na manutenção de mercados”, disse.

Finalizando o programa técnico do Simpósio, a médica-veterinária do Ministério da Agricultura, Suzana Bresslau, trouxe o tema “Políticas públicas para a prevenção da resistência aos antimicrobianos (AMR) – monitoramentos de isolados de Salmonella spp. do Brasil”. 

Ela abordou a importância da AMR, as recomendações dos organismos de referência, os compromissos assumidos, os resultados de AMR na avicultura de corte de isolados do Brasil, os desafios e oportunidades. “Este é um problema de saúde única, uma abordagem integrada e unificada que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e ecossistemas”, ressaltou. “O uso inadequado e excessivo de medicamentos por humanos e animais deve ser repensado.  É preciso reduzir a necessidade de uso de antimicrobianos”, disse. 

Segundo Suzana, o uso prudente, responsável e racional deste tipo de medicamento está dentro de um conceito amplo e faz parte das boas práticas veterinárias e agropecuárias. “Por isso é tão importante a implementação de medidas práticas e recomendações para melhorar a saúde e -estar dos animais. O objetivo é prevenir e reduzir a seleção, o desenvolvimento e a disseminação de bactérias resistentes em animais e humanos”, afirmou.  

No encerramento do evento, o Presidente da FACTA, Ariel Mendes, destacou o alto nível dos debates. “Realizamos periodicamente eventos sobre Salmonella e vemos que sempre temos o que aprender. Destaco aqui a participação das duas médicas-veterinárias do MAPA, o que fortalece a importância do tema no que se refere à prevenção e notificação com o objetivo de ampliar as ações oficiais para proteger e garantir o status sanitário da avicultura brasileira”, disse. “Aproveito aqui para convidar a todos para o próximo evento da FACTA, o Simpósio Nordestino de Atualização em Produção, Processamento e Comercialização de Ovos, entre os dias 23 e 25 de novembro”, disse.

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