Depois de ter alcançado recorde no início do ano, o abate de bovinos tende a desacelerar a partir do segundo semestre. De acordo com analistas, o preço dos bezerros está ensaiando uma recuperação, o que aumenta a atratividade da cria e estimula a retenção de fêmeas pelos produtores, embora a oferta de gado para a indústria siga elevada.
Esse deve ser o ponto de partida para uma virada no ciclo pecuário, em 2025, passando de alta na disponibilidade de animais para um volume mais restrito.
De acordo com o diretor da HN Agro, Hyberville Neto, o patamar de oferta de gado é definido pela quantidade de fêmeas para abate, que, por sua vez, é influenciada pela atratividade da etapa de cria — a produção de bezerros. “Quando o preço do bezerro começa a se firmar, o pecuarista tira a fêmea do gancho [deixa de mandar para abate] e o mercado começa a subir”, disse.
Com essa lógica, a expectativa do analista é de que o preço da arroba bovina possa parar de cair a partir de julho ou agosto.
A cotação da arroba já recuou 14,19% desde o início do ano, de acordo com o indicador Cepea/B3 para o boi gordo, que ficou ontem em R$ 219,25. Em contrapartida, o indicador Esalq/BM&FBovespa para o bezerro com referência em Mato Grosso do Sul acumula alta de 1,56% no ano — ontem, o índice ficou em R$ 2.092,18 por unidade.
“Alguns Estados já estão diminuindo o envio de fêmeas para abates. O ágio do bezerro está começando a sinalizar que a rentabilidade da cria está um pouco melhor, com uma expectativa mais promissora. Nada muito otimista, mas é um início”, afirmou.
Em maio, os abates de bovinos bateram recorde em Mato Grosso, com 627,49 mil cabeças. Porém, a redução no volume de fêmeas abatidas fugiu do “padrão” para esse período do ano.
“Os pecuaristas reduziram o ímpeto de abater fêmeas e, pela primeira vez desde 2018, o volume de fêmeas abatidas em maio foi menor que em abril”, informou o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) em relatório. O recuo no volume de matrizes em relação a abril foi de 6,03%.
Também diminuiu a participação relativa das fêmeas nos abates do Estado, que detém o maior rebanho bovino. Em maio, essa fatia ficou em 51,49%. Nos três meses anteriores, essa participação havia superado os 55%.
“Apesar do volume abatido ainda estar elevado, esses dados mostram uma possível ‘redução’ na intensidade dos abates de fêmeas. A tendência no curto prazo é de uma redução gradual na participação das fêmeas nos abates”, indicou o instituto.
Hyberville Neto ressaltou que, sazonalmente, o segundo semestre já costuma ser um período em que os pecuaristas preferem reter as fêmeas em vez de enviá-las para abate. Porém, neste ano, os sinais de elevação do preço do bezerro podem intensificar essa estratégia de retenção.
Para Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, o descarte de fêmeas ainda está muito “agressivo”. Ele acredita que o processo de inversão do ciclo pecuário começará de maneira mais contundente somente no fim do ano, e principalmente em 2025.
Com isso, na visão do analista, os preços da arroba bovina só devem se recuperar no último trimestre. “E o mercado não reúne as condições necessárias para altas explosivas”, avaliou.
Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o abate de bovinos no país teve um recorde no primeiro trimestre de 2024, de 9,3 milhões de cabeças, aumento de 24,6% em relação ao mesmo período de 2023.
Fonte: portaldoagronegocio