Condenada em um lote com outros 14 réus pelo 8 de janeiro, a professora aposentada Iraci Nagoshi se destacou nesta semana, em virtude da idade e da pena a qual terá de cumprir, pelo 8 de janeiro.
A mulher foi detida no interior do Palácio do Planalto, onde se refugiou das bombas de efeito moral, durante a baderna na Praça dos Três Poderes naquele dia. Conforme a defesa de Iraci, a ex-docente não cometeu vandalismo.
Moradora de São Caetano do Sul (SP), Iraci é ex-professora de português e diretora aposentada. A idosa ficou oito meses detida na Colmeia. Desde agosto, ela usa tornozeleira.
Um dia antes do 8 de janeiro, Iraci pegou um ônibus com um grupo de pessoas e viajou a Brasília, onde acabou encarcerada. Ela achou que a manifestação seria pacífica.
Segundo a defesa, nas primeiras semanas em que ficou presa, Iraci teve de dividir uma cela pequena com mais de dez pessoas, além de tomar banhos frios e se alimentar mal.
Iraci tem ainda transtornos passivos, diabetes, hipertireoidismo e dislipidemia. Após conseguir a liberdade condicional, teve uma paralisia em um dos lados do rosto, que precisou de tratamento.
Em 4 de março deste ano, a defesa de comemorou a autorização do para remover a tornozeleira, a fim de a aposentada fazer uma cirurgia delicada, em virtude de uma queda em que quebrou o fêmur esquerdo quatro dias antes.
O advogado Jaysson França, contudo, foi surpreendido ao saber que horas depois, naquela mesmo data, o STF condenara a idosa de 71 anos a passar os próximos 14 anos de sua vida na cadeia, por cinco crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa. Iraci terá ainda de pagar cem dias-multa, cada dia-multa no valor de um terço do salário mínimo.
Em menos de 24 horas depois da cirurgia bem-sucedida, agentes do Centro de Detenção Provisória de Santo André (SP) foram à unidade de saúde recolocar o equipamento na mulher, relatou o consultor de empresas Newton Nagoshi, um dos filhos de Iraci, que luta contra um câncer desde 2019.
A família preferiu ocultar de Iraci a sentença que ela recebera, com receio de interferir no procedimento médico que ocorreria dali a três dias. Apenas no domingo 17 é que Iraci soube do veredito do STF. “Ela já esperava”, disse Nagoshi a . “Pois é o que está acontecendo com todos os presos.”
Fonte: revistaoeste