Para um grupo associativo que moeu em torno de 834 mil toneladas em uma safra inteira, coisa que qualquer usina do Centro-Sul é capaz de moer em menos de uma semana, ainda vem outra indústria pela frente.
A Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), de Sapucaia, vai botar para funcionar a coirmã Coagro Paraíso, ao custo – só industrial – de R$ 50 milhões. A empreitada vai ser para 2023.
Foi a única usina que restou, em condições minimamente operacionais, da bancarrota generalizada do setor no Norte fluminense, e, como a de Sapucaia, foi adquirida durante a recuperação pelos cooperados dali, diz o empresário Tito Inosoja, vice da cooperativa e presidente da Associação Norte Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucan).
As duas se confundem, como se confundem com a história da cana no Rio, onde a canavicultura brasileira teve início.
Já foram mais de 22 usinas e mais de 15 mil produtores. Hoje, a decadência se revela em três indústrias apenas, contando com a Agrisa, em Cabo Frio, e a Canabrava também na Baixada Campista.
No total, são de 70 a 80 mil hectares de cana, que, na média máxima, atinge apenas 50 toneladas/ha.
Micro produtores
São 10 mil pequenos produtores, de no máximo 15 hectares, salvo pouco maiores como o Inosoja, de família que começou produzindo em Alagoas e foi descendo até chegar em Campos. Seu pai, Evaldo Inosoja, foi presidente do Instituto Açúcar e Alcool (IAA), extinto por Fernando Collor em 1990.
A Asflucan, filiada à nacional Feplana, há 78 anos tenta manter a chama da produção no estado e foi a entidade que deu vida à Coagro Sapucaia.
A cana processada nesta safra (834 milt/t), que já terminou porque não tinha mais cana, foi 70% das 1,1 a 1,2 milhão de toneladas processas, em total estadual que não inclui Usina Agrisa (que tem cana própria) – e não inclui a Canabrava, grupo também antigo, cheio de complicações jurídicas, “e que não informa nunca nada”. A previsão para o ciclo era de 1,7 milhão/t de cana, como no ano anterior.
Tudo vai para a Coagro Sapucaia – cuja capacidade é de 1,5 milhão/t -, um pouco para uma usina no Espírito Santo e um pouco de cana “ruim, mais barata de produzir”, de produtores que ganham ainda por quilo e não por ATR, e entregam para a Usina Canabrava.
Do que a cooperativa trabalhou, 64% viraram açúcar e o resto etanol anidro.
Com arrendamento de terras em torno da Coagro Paraíso, cana nova sendo plantada, e a unidade entrando em operação “experimental em 2023 a já plena a partir de 2024”, Tito Inosoja acredita que possa haver alguma redenção.
Parte da decadência da produção ainda precisa ser reparada e já vem de décadas. Com uma rede de canais de mais de 1,4 mil kms deteriorados, os canavieiros não conseguem aguentar o clima errático.
Infraestrutura deteriorada
Quando não chove, os canais deveriam servir para irrigação, como neste ano, que, de acordo com o empresário, só choveu 48 mm durante a safra. Quando chove, os canais deveriam servir para escoamento das águas em uma planície sem vazão mais lisa que mesa de sinuca. Em 2021 choveu demais.
“Perdemos cana na enchente e neste ano na seca”, conta, lembrando que muitos financiamentos conseguidos, inclusive no exterior, para manutenção e ampliação morreram pelo caminho, em uma mistura de problemas políticos federal e estadual, com ex-governador e ex-prefeito de Campos, Anthony Garotinho (União Brasil), no meio. “Perseguiu muito a gente”, diz, sem explicar.
O resto dos problemas veio no embalo, com o fim do IAA, mais as políticas de congelamento de preços, do ministro da Fazenda Dílson Funaro (governo Sarney) ao último, do governo Dilma Rousseff.
Sim, o Rio ainda tem cana, e, na semana passada a Asflucan promoveu o 5° Seminário da Cana de Açúcar em Campos dos Goytacazes, com a presença de especialistas e lideranças que vão tentar ajudar a história da cana fluminense ser recontada.
Entre eles, Paulo Leal, presidente da Feplana, e Alexandre Lima, vice, e presidente da Coaf, a usina cooperativista do Norte de Pernambuco, que se espelhou na Coagro Sapucaia para levantar a antiga usina Cruangi, segundo Tito Inosoja, empresário também de soja e milho na Bahia.