O possível aumento da mistura de etanol na gasolina, de 27% para 30%, em discussão pelo governo federal, tem efeitos diversos para o setor, mas o principal deles seria a contribuição para a descarbonização.
Do ponto de vista de mercado, analistas ouvidos pela Globo Rural acreditam que a mudança na mistura pode reduzir os preços da gasolina nas bombas e, com isso, beneficiar o consumidor. Por outro lado, o etanol hidratado corre o risco de perder níveis de competitividade que já vêm em trajetória decrescente.
“Assim como está acontecendo na Índia, Estados Unidos e outros países com mandatos para ampliação nos percentuais de etanol, o intuito é gerar mais renováveis para a matriz energética, diminuir as emissões, esse é um fator muito positivo”, disse Henrique Penna, diretor comercial da usina Jalles Machado.
O executivo lembrou também que o Brasil importa de 15% a 20% da gasolina que é consumida, e a diminuição nesse percentual teria relevância para a balança comercial.
Penna admitiu, no entanto, que existe a possibilidade de perda de competitividade do hidratado nas bombas. Isso levaria a alterações na estratégia da indústria.
“A possibilidade existe, mas isso vai depender de como a oferta vai se desdobrar daqui para frente (…) Se vier muita produção de etanol, isso vai afetar o hidratado e beneficiar o consumidor. Porém, no longo prazo, isso também pode fazer com que as usinas optem por enxugar a produção, e irem mais para o açúcar, para ajustar a oferta de etanol”.
Bruno Serapião, CEO da Atvos, também destacou a questão ambiental como ponto forte do aumento na mistura na gasolina.
“O maior percentual de mistura traz uma série de benefícios para o Brasil (…) estimula o desenvolvimento sustentável no campo, por meio da geração de empregos e, não menos importante, contribui para a transição energética do país, incrementando o uso de combustíveis renováveis, que reduzem as emissões de CO2 em até 90% em relação à gasolina, quando analisado o ciclo de vida completo do etanol”, afirmou.
Nos cálculos de Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, a medida deve gerar um crescimento anual de 1,3 bilhão de litros no consumo anual de etanol anidro — variedade que é misturada à gasolina.
Sobre a diminuição das importações de gasolina, ele acredita que isso, inclusive, deveria ser um elemento importante para a decisão do governo sobre ampliar a mistura de etanol.
Mas, para Nastari, uma queda efetiva nos preços da gasolina, decorrente da mistura só viria na hipótese de a Petrobras voltar a praticar uma política alinhada à paridade de importação, ou seja, seguindo o movimento das cotações internacionais.
“Se o preço da gasolina fosse ‘real’, misturar mais anidro contribuiria para uma redução. Mas como os valores estão sendo subsidiados, em um patamar abaixo da paridade, então a mistura não reduziria tanto o valor da gasolina”, afirmou o especialista.
Considerando um cenário para a oferta e demanda até a safra de 2029/30, e a eventual aprovação da medida com início na temporada de 2024/25, a consultoria StoneX projetou uma demanda para a gasolina comum com avanço de 1% ao ano e a produção de anidro com aumento de 1,5% ao ano.
De acordo com Filipi Cardoso, especialista de inteligência de mercado da StoneX, haveria uma redução de 4,3% na cobrança dos impostos federais e a participação do anidro cresceria de 13% para 14,5%.
“Assim, o preço médio da gasolina comercializada nos postos de revenda — considerado a média de R$ 5,63/litro, passaria para R$ 5,60/litro, registrando uma queda de R$ 0,03/litro”, estimou o analista da StoneX.
Fonte: portaldoagronegocio