Um recente estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa e da Embrapa aponta que o uso de aditivos alimentares à base de hidrolisados de proteínas de fígado de aves pode melhorar a saúde de tilápias criadas em sistemas intensivos. O fato tem grande importância científica e econômica vez que o Brasil, como grande produtor de carne de frango, dispõe de abundante matéria prima para produção de hidrolisados proteicos.
Ao testar o uso dos hidrolisados na alimentação de tilapias criadas intensivamente em tanques, os pesquisadores detectaram uma redução na formação de proteínas carboniladas nos tecidos dos peixes. A presença de proteína carbonilada normalmente indica que está havendo lesões nas células de qualquer ser vivo.
A baixa presença da proteína carbonilada nos peixes alimentados com os hidrolisados de proteínas de fígado de frangos indicou aos pesquisadores que esses aditivos estavam fortalecendo a defesa celular dos peixes, prevenindo e reduzindo a ocorrência de danos celulares e eventualmente evitando a morte dos animais.
Lesões de células em peixes são comuns, porque, quando criados intensivamente em viveiros, passam por diversas situações estressantes, como durante o manejo de classificação, quando são expostos ao ar e deixam de respirar pelas brânquias, como explica Hamilton Hisano, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.
Segundo Hisano, situações de estresse como essas geram uma série de desordens metabólicas e uma delas é a produção de espécies de oxigênio reativo, que liberam radicais livres causando danos às suas células. O mesmo ocorre conosco quando estressados.
O hidrolisado inibe o aparecimento da proteína carbonilada: “Ele inibe, por conta da sua composição, a produção dessas proteínas que causam danos à estrutura das células dos peixes”, destaca Hisano.
A professora Juliana Gomes, da Universidade Federal de Viçosa, destaca que o uso de aditivos alimentares pode ser uma estratégia eficaz para ajudar a proteger os peixes desses estresses.
“Os aditivos alimentares são estratégias utilizadas para aumentar o consumo de ração, a eficiência de utilização de nutrientes e a tolerância ao estresse em condições de manejo intensivo”, explica Gomes. Este entendimento abre possibilidades para estratégias nutricionais inovadoras que possam otimizar a saúde e a produtividade dos peixes em aquicultura.
Os hidrolisados proteicos, aditivos avaliados no estudo, podem melhorar a capacidade do peixe de tolerar e se recuperar dos efeitos do manejo que leva à exposição ao ar. Esses aditivos são comumente utilizados em substituição à farinha de peixe, mas também têm sido avaliados por sua capacidade de modular processos fisiológicos.
A pesquisa destaca também a importância econômica dos aditivos, tendo em vista que a alimentação dos peixes pode representar até 70% dos custos totais de produção. Substituir os ingredientes tradicionalmente utilizados por outros menos onerosos, como os de origem vegetal, pode ser uma maneira eficiente de reduzir os custos.
Além disso, a pesquisa chama a atenção para o fato de que o Brasil, como um dos maiores produtores de carne de frango no mundo, dispõe de uma vasta matéria prima para a produção de hidrolisados proteicos. As vísceras das aves, como o fígado, representam cerca de 37% do peso vivo, o que torna este subproduto uma alternativa sustentável e econômica para a produção de aditivos.
Fabiana Dieterich, da Falbom Agroindustrial Ltda, reforça a importância dessa pesquisa. “Esse tipo de conhecimento gerado pela pesquisa evidencia que a interação entre as instituições públicas de pesquisa e a indústria pode contribuir com a solução de problemas na cadeia produtiva”, afirma.
Este estudo faz parte do projeto BRS Aqua, que investiga diferentes aspectos da aquicultura, incluindo a tilápia, tambaqui, bijupirá e o camarão marinho. O projeto é financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Secretaria Especial da Aquicultura e da Pesca (Seap) e a própria Embrapa.
O artigo completo publicado na Animal Feed Science and Technology, pode ser acessado aqui: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0377840123001451
Fonte: portaldoagronegocio