Foi na agregação de valor por meio da importação de matéria prima e da exportação de manufaturados, que o Japão saiu de uma situação de total destruição no pós-guerra, para uma das mais importantes potencias mundiais.
Com poucas áreas mecanizáveis e disponíveis para agropecuária, o Japão é importador líquido de alimentos. O arroz é a base da alimentação japonesa e, por questão de segurança nacional, esta cultura tem grandes incentivos governamentais para a sua produção. O Japão também é um dos maiores importadores de produtos lácteos no mundo. De acordo com o Internacional Farm Comparison Network (IFCN), em 2022 a indústria láctea japonesa produziu 7,41 bilhões de litros de leite conforme Tabela 1.
O movimento da cadeia produtiva do Japão segue acompanhando tendências mundiais na estrutura de produção. Menos animais, queda de 26,17% em relação ao ano de 2000, maior produtividade dos animais, crescimento maior que 25% na mesma comparação. O número de produtores é muito reduzido. Segundo a CLAL_IT, em 2021, o Japão tinha somente 14.000 produtores, uma redução de 6,6% em relação ao ano anterior. O consumo total tem estado estável ao longo dos anos estudados, notadamente se considerarmos que a população japonesa decresceu 1,22% no período analisado, o que dá uma redução média de 0,06% ao ano. O consumo per capita não é alto, mas tem se mantido estável com ligeiro aumento de 0,25% em 2021 na comparação com o ano de 2000. O consumo de queijo é o mais relevante e no ano de 2022 a sociedade japonesa consumiu 2,68 kg/capita, uma redução de 2,55% em relação ao ano anterior. Houve aumento de consumo de manteiga e de leite em pó desnatado, e em 2022 foi de 0,68 kg/capita e 1,34kg/capita, o que representou aumento em relação ao ano de 2000 de 3,03% e 3,08%, respectivamente.
O processamento do leite de vacas representou 99% da produção em 2021, bastante elevado, o que pese a ligeira redução em 2021 em relação ao ano anterior. A produção de leite é destinada majoritariamente para o mercado interno e as exportações são bastante tímidas, correspondendo a somente 1% de sua produção em 2021. Mas o volume de produção não atende ao consumo interno, sendo necessário a importação de lácteos. Em 2021 o país importou 26,90% em relação à sua produção, o que o tornou um dos maiores importadores de lácteos do mundo.
A produção de produtos lácteos aumentou ao longo do período estudado. Em 2022 foram produzidas 160 mil toneladas de queijos, aumento de 1,91% em relaçãoao ano anterior; 75 mil toneladas de manteiga, aumento de 15,38% e 158 mil toneladas de leite em pó desnatado, representando um aumento de 21,54% em relação à 2021.
A despeito do aumento da produção de derivados lácteos, o Japão continua sendo um dos maiores importadores de lácteos do mundo. Na Figura 1, observa-se evidente redução das importações em termos de volume, mas ainda bastante elevados.
Os maiores volumes importados são de queijos e de leite em pó desnatado. Segundo o USDA, por meio da GAIN, o Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pescas do Japão (MAFF) em 2018 lançou um programa de expansão do rebanho. Em novembro de 2022, o Japão produziu um excedente de leite, o que causou baixa nos preços internos. Além disso, até novembro de 2022, os preços do feno e dos alimentos compostos para animais, que representam cerca de metade dos custos de produção de leite, atingiram níveis recordes. Os preços do feno importado e ração completa aumentaram cerca de 56 e 24 por cento em relação ao ano de 2021. De acordo com o MAFF, a partir de janeiro de 2023, o número de fazendas no Japão caíu 7% em relação a 2022. As fazendas leiteiras dependem fortemente do comércio de rações e, devido ao forte aumento dos preços, em decorrência desse impacto no custo de produção de leite, muitos produtores deixaram a atividade.
Em dezembro de 2022, como incentivo à redução da produção excessiva de leite, o MAFF anunciou um programa emergencial para induzir o abate precoce de vacas leiteiras menos produtivas. Produtores de leite participantes que sacrificarem vacas receberá do MAFF um pagamento de até 150.000 ienes (US$ 1.154) para cada vaca abatida.
O Brasil possui autorização para exportar lácteos para o Japão desde 2017. Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) a negociação demorou dois anos e pelo certificado, poderão ser exportados produtos das áreas livres da febre aftosa com e sem vacinação.
Outro fator importante são as barreiras impostas, sejam elas tarifárias ou não tarifárias. As tarifas de importação do Japão chegam a 95%. O mercado lácteo é protegido em todo o mundo e acordos que reduzam ou retirem essas barreiras são fundamentais para ampliar a participação de produtos lácteos brasileiros no mercado internacional. Sem isso, o Brasil já entra em desvantagem, independente da qualidade da oferta e da enorme plataforma produtiva existente no país.
Fonte: portaldoagronegocio