Sophia @princesinhamt
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de malhar em horário de refeição.

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Fecho o computador às 11h30 da manhã, como se as demandas não continuassem apitando no celular mesmo assim. Sinto uma certa culpa. Mas é sexta-feira, penso, e vou me dar ao luxo de um “almoço longo”.

No cardápio, nada de polvo com vinho branco. Na verdade, estou de bermuda ciclista, top, tênis e camiseta, e o almoço é um encontro com um professor de spinning e mais dezenas de semelhantes que devem pedalar nos próximos 45 minutos freneticamente.

Em uma sociedade cada vez mais atarefada, o prazer de fazer esporte e ganhar endorfina acaba virando apenas mais um tópico na lista de afazeres. Nas redes sociais, a expressão “tá pago” ilustra bem isso. Atividade física é algo que a gente sempre está devendo e precisa pagar.

Se não dá para fazer logo cedo e não sobra energia para o fim do expediente, que seja no almoço.

Penso então: será que é certo usar um horário de alimentação e descanso para me cansar ainda mais?

Com certeza o ruim é não realizar nenhum tipo de atividade física. O sedentarismo é uma das maiores causas da sensação de cansaço, de doenças metabólicas e cardíacas, menor rendimento escolar e laboral, dentre outros malefícios. Paulo Henrique Azevedo, profissional de educação física da Unifesp

A Velocity, a academia de spinning em que fiz minha aula vespertina, ferve na hora do almoço. Muita gente dá um tempinho no home office em busca de endorfina e melhor aproveitamento do tempo.

Ana Paula Simões, diretora técnica da franquia, afirma que cada organismo reage de uma forma diferente em diferentes períodos do dia. “Uma aula no meio do dia pode contribuir diretamente até como benefício estratégico, como uma pausa ativa para um bom gerenciamento de estresse e ganho no bem-estar”, ela diz.

Comprovo: por vários momentos dos 45 minutos em que pedalei na penumbra, com luz neon pontual e música muito alta, achei que estava próxima do óbito. Mas, de fato, quando saí cambaleante de uma das bicicletas, troquei a sapatilha que me deram por meus tênis e voltei para minha rotina, estava me sentindo melhor. O “tá pago” tira uma pressão da agenda e traz também uma satisfação grande.

Sem culpa de malhar

Virginia Todeschini, personagem de VivaBem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Virginia usa o almoço para malhar com o personal: “Sem culpa”

Imagem: Arquivo pessoal

“Qualquer horário disponível é recomendado para a realização da atividade física. Talvez o maior cuidado em um país tropical como o Brasil seja o de evitar realizar exercício físico em horários muito quentes. Se for a única opção, deve-se procurar por ambientes climatizados ou arborizados”, diz Azevedo, que afirma que isso vale para qualquer tipo de treino: aeróbico, força, alongamento.

A advogada Virginia Todeschini, 40, aprova: escolheu o horário das 13h para fazer musculação com um personal duas vezes por semana, na academia do prédio. Nos outros dias, faz apenas aeróbico, já que sem supervisão teme sofre lesões ao fazer os exercícios com peso.

“Não sinto culpa nenhuma de pausar e usar meu almoço assim. Tenho que pensar em minha saúde. Quando volto, me sinto melhor, mais concentrada e com energia”, ela conta. Aí, come rapidinho uma salada, torta ou tapioca “que já estejam no jeito” e volta ao trabalho.

Para driblar a culpa dos alunos de terem “abandonado” o trabalho, os professores na Velocity orientam a desligarem os telefones ou a deixá-los no modo avião. A ideia é aproveitar a aula tanto física como mentalmente.

“Damos estímulos de consciência corporal e postura para prestar atenção na execução do movimento, estar atento à respiração, e ficar no momento presente”, conta Ana Paula. A sala escura com música muito alta contribui para manter a atenção na prática.

Mas que horas almoça?

Salada com tiras de frango - iStock - iStock
Imagem: iStock

Várias pessoas adeptas da malhação no almoço foram ouvidas pela reportagem: algumas se irritam com a pressa de terminar tudo em uma hora, outras com a falta de tempo para tomar um banho tranquilamente. Todos concordam que é melhor resolver a necessidade de fazer esporte na hora do almoço do que deixar para depois e não fazer nada. Mas o almoço acaba ficando mesmo para segundo plano.

Aqui, um alerta dos especialistas. Comer rápido porque foi malhar não é a condição ideal.

O que dá para fazer é aumentar as calorias ingeridas no café da manhã para que o almoço seja mais leve. “A alimentação feita de forma rápida não permite a trituração adequada dos alimentos na mastigação, prejudicando a absorção de macro e micronutrientes.

Outro problema é que não há liberação adequada de leptina, reduzindo a sensação de saciedade: assim a pessoa ficará com fome novamente mais rapidamente”, afirma Azevedo.

Daniel Venâncio, professor de fisiologia do Centro Universitário FMABC, garante que se este é o único horário disponível para a atividade física, é melhor aproveitar.

“Logo após o exercício físico, ocorre uma redução do apetite. Mas aí a pessoa pode deixar para comer um pouco depois. Certamente não fazer exercício é pior, pois o sedentarismo pode acarretar em inúmeras doenças e prejuízos à saúde, incluindo obesidade e doenças cardiovasculares”, ele afirma.

Mariana de Rezende Gomes, nutricionista e coordenadora do nosso curso de nutrição na FMABC, não vê o costume com bons olhos.

“Uma refeição precisa ser um momento calmo. É preciso de pelo menos 20 minutos para prestar atenção no que se está comendo, ou isso interfere na digestão, na absorção de nutrientes, e até no estado emocional da pessoa”, afirma.

Sua sugestão é comer algo leve antes de fazer exercício, como frutas ou barra de cereal e, depois do exercício, almoçar adequadamente.

Mas, antes de arrumar qualquer desculpa para não fazer atividade física, vale ler os conselhos dos especialistas:

A realização de atividade física é fundamental para a melhora da saúde e do condicionamento físico.

Tudo isso melhorará a disposição para realizar todas as atividades do dia, melhor rendimento escolar e de trabalho, menor percepção de cansaço, melhora da saúde metabólica e mental.

Tenha cuidado para não realizar atividade física em ambientes muito quentes.

Procure um profissional de educação física para que faça uma avaliação física e assim possa prescrever a melhor quantidade (volume), frequência semanal e intensidade do esforço a ser realizado de acordo com o objetivo e capacidade de cada pessoa.

Fonte: uol
Colunista: @chefcarlosmiranda

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Carlos Miranda

Business consultant | Gastronomo | Chef Executivo | Pitmasters | Chef proprietário OSSOBUCO Outdoor Cooking