Ao longo da temporada, boa parte das usinas, sobretudo as de pernambuco e de Alagoas, esteve focada nas produções do açúcar para exportação e do etanol anidro, diminuindo a oferta do hidratado no spot nacional. Além disso, os negócios de anidro na modalidade de contratos cresceu, limitando os volumes destinados ao mercado spot. Assim, a demanda bastante enfraquecida nos postos foi o fator determinante para a queda nos preços dos etanóis no balanço da safra.
Levantamentos do Cepea mostram que, para o anidro, o preço médio da safra 2022/23 (em termos reais – os valores foram deflacionados pelo IGP-M de março/23) foi de R$ 3,3668/litro em Alagoas, de R$ 3,3619/litro em Pernambuco e de R$ 3,4295/litro na Paraíba, considerando-se os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais de agosto/22 a março/23. Na comparação com as médias da temporada anterior, as retrações foram de 17,65% em Alagoas, de 18,21% em Pernambuco e de 17,75% na Paraíba.
No caso do etanol hidratado, as médias da safra 2022/23 foram de R$ 2,6279/litro em Alagoas, baixa de 18,58% frente à da temporada 2021/22, em termos reais. Em Pernambuco, a média fechou a R$ 2,6938/litro, retração de 16,36%, e, na Paraíba, de R$ 2,7350/litro, queda de 16,72%, também em termos reais. Destaca-se que, na Paraíba, a metodologia de cálculo dos preços considera também os contratos firmados e o etanol com origem do Centro-Sul colocado em Cabedelo (PB).
O ano-safra 2022/23 de cana-de-açúcar no Norte-Nordeste – e também no Centro-Sul do Brasil – foi marcado por mudanças políticas e por incertezas tributárias. As alterações especialmente tributárias e econômicas ocorridas durante o período impactaram sobre o setor e exigiram adaptações nos diferentes elos da cadeia.
No âmbito tributário, houve alteração em alguns impostos. A alíquota do ICMS sobre as operações internas do etanol hidratado foi reduzida no Nordeste. Na Paraíba, a alíquota, que antes era de 23%, passou para 15,33%, de acordo com o decreto n. 42.725, de 21 de julho de 2022. Em Pernambuco, foi para 15,52%, segundo a lei n. 17.898, de 15 de julho de 2022; e, em Alagoas, para 19%, segundo o decreto n. 83.840, de 23 de junho de 2022.
Quanto às importações, a taxação (de 18%) sobre o etanol trazido do exterior ao Brasil voltou a ser implementada desde o dia 1º de fevereiro de 2023. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu não renovar a isenção da taxação do etanol importado, com o objetivo de valorizar o setor produtivo brasileiro.
No-safra de 2022/23, as importações caíram bruscamente frente às da temporada passada. De agosto/22 a março/23, foram importados apenas 60,31 milhões de litros, contra 316,82 milhões de litros no mesmo período de 2021/22, forte baixa de 80,96%, segundo dados da Secex. Aqui ressalta-se que, desde 2017, observa-se recuo nas importações brasileiras de biocombustível.
No campo, o desenvolvimento da safra de cana-de-açúcar foi favorecido pelo clima, e as expectativas positivas do setor foram confirmadas, sobretudo na Paraíba. Além do fator climático, os investimentos feitos pelas usinas também justificam os aumentos na produção. Até a primeira quinzena de março (dados mais atuais), a moagem da safra 22/23 no Norte e Nordeste somava 96% da cana-de-açúcar estimada para a temporada, com processamento totalizando 55,97 milhões de toneladas, aumento de 5,5% frente à temporada passada. A previsão é de que a moagem some recorde de 58 milhões de toneladas de cana, superando em 8% o total da safra 21/22.
Na Paraíba, a moagem em 22/23 já superou o total processado na safra 21/22, chegando a 6,75 milhões de toneladas (até 28 de fevereiro), 23,04% superior ao mesmo período da safra passada. A produção de etanol total (anidro e hidratado) soma 424,94 milhões de litros.
Em Alagoas e Pernambuco, as chuvas acabaram atrapalhando e atrasando a moagem em alguns períodos, estendendo o período de safra até o mês de abril. Em Alagoas, a moagem de cana chegou a 16 milhões de toneladas até o fim de fevereiro (dados mais recentes), retração de 5,84% frente ao mesmo período da safra passada. A produção de etanol, por sua vez, caiu 12,78% na comparação com o mesmo período de 21/22, atingindo 351,64 milhões de litros (anidro e hidratado). Em Pernambuco, por sua vez, foram esmagadas (até 28 de fevereiro) 12,57 milhões de toneladas de cana, quantidade 2,67% superior à registrada no mesmo período da safra passada. A produção de etanol total recuou 15% neste ano-safra frente ao anterior, somando 302 milhões de litros.
Talita Costa Negri – Pesquisadora do Cepea – cepea@usp.br
Fonte: portaldoagronegocio