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Agronegócio

Descubra como o Brasil está transformando a soja em etanol de maneira inovadora

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A cana é predominante no mercado brasileiro, o milho é a base da indústria nos Estados Unidos e também vem ganhando espaço no Brasil, a beterraba é a base do etanol europeu, e, em alguns lugares do mundo, também se produz o bicombustível a partir de resíduos agrícolas, como bagaço e palha. Até o trigo já é alvo de projetos no Rio Grande do Sul. Só faltava a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, entrar na lista. Não falta mais.

A gaúcha Olfar, empresa que tem a maior capacidade instalada para a fabricação de biodiesel do país, vai começar a produzir etanol a partir de melaço de soja, em conjunto com a proteína concentrada de soja (SPC, na sigla em inglês), destinada à ração animal. Para isso, a companhia vai utilizar uma tecnologia da Fermentec, que já está em uso em uma fábrica de SPC da CJ Selecta em Minas Gerais.

Com um dos maiores bancos privados de micro-organismos do mundo, a Fermentec selecionou uma levedura que é capaz de decompor os diferentes tipos de açúcares presentes no melaço de soja e que são típicos desse produto. Resultado do processo que transforma o farelo de soja comum no concentrado proteico SPC, o melaço de soja costuma servir para a complementação de ração animal, mas tem baixo valor de mercado.

A transformação do melaço em etanol representa, assim, um aumento do valor agregado do produto – e também uma oportunidade para a substituição de insumos na própria indústria de SPC, o que reduz custos e aumenta receitas. Hoje, para produzirem o concentrado proteico, as empresas precisam comprar etanol no mercado para utilizá-lo como solvente e eliminar, assim, açúcares que reduzem o teor de proteína. Com a produção própria de etanol, as indústrias de SPC conseguem eliminar a necessidade de compra do insumo.

A fábrica da CJ Selecta começou a utilizar a levedura da Fermentec em 2021, o que permitiu aos técnicos acumular alguns aprendizados desde então. Alexandre Godoy, vice-presidente da Fermentec, conta que, durante o início do processo de fermentação do melaço, apareceram mais leveduras capazes de decompor essa matéria-prima. Elas acabaram sendo incorporadas ao processo produtivo.

Por outro lado, também apareceram bactérias que concorreram com as leveduras e que contaminaram o processo, o que exigiu que a empresa melhorasse os procedimentos de assepsia para evitar o problema. “Passamos por desafios, mas agora a tecnologia está dominada”, assegura.

Com os ajustes, a fábrica da CJ Selecta consegue produzir atualmente 180 litros de etanol a partir de cada tonelada de melaço de soja. A fábrica da Olfar deverá ser capaz de converter 15 toneladas de farelo de soja em mil litros de etanol. Com os investimentos que estão sendo feitos na estrutura fabril de Erechim (RS), a empresa conseguirá produzir até 12 milhões de litros de etanol ao ano e 164 mil toneladas de SPC ao ano. Metade do etanol deverá abastecer a própria indústria de SPC, e o restante deverá ser vendido no mercado, seja de combustíveis, seja industrial. A planta deverá ficar pronta em meados de 2024.

Com as leveduras corretas, o leque de matérias-primas para a fabricação de etanol pode se expandir ainda mais. A Fermentec conta que já está em conversas com um cliente na Europa para empregar seus micro-organismos na produção do biocombustível a partir da cevada.

Na indústria de SPC, porém, o crescimento da produção de etanol é limitado pelo próprio tamanho ainda restrito desse segmento. O principal uso do produto é na ração de peixes criados em cativeiro, em substituição a outros pescados, que ainda dominam a alimentação na aquicultura. Esse é o mercado que a Olfar pretende atender, principalmente a indústria de peixes da Noruega e do Chile. Segundo Mateus Andrich, diretor industrial da companhia gaúcha, os clientes desse segmento costumam preferir produtos não-transgênicos, mas o aumento recente da demanda vem abrindo espaço para o SPC de soja transgênica, como será o da Olfar.

Demanda em alta

O aumento da mistura de biodiesel no diesel para 12% a partir de abril, determinado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), deve impulsionar os preços do biocombustível, avalia a consultoria StoneX. A indústria de soja tem afirmado que a oferta de soja é suficiente para atender os mercados interno e externo, mas a StoneX lembra que a quebra de safra na Argentina pode elevar a demanda pelo grão brasileiro no mercado internacional. No primeiro trimestre, os embarques cresceram 46%, para 654 mil toneladas. No mercado interno, a demanda por biodiesel vai crescer 18% em 2023, para 7,3 bilhões de litros, estima a consultoria. Com isso, o consumo doméstico de óleo de soja deverá ficar em 8,5 milhões de toneladas, levando a um excedente de 2,5 milhões de toneladas de óleo disponíveis para exportação e para os estoques de passagem.

Fonte: portaldoagronegocio

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