A agricultura familiar é mesmo diversa. Em Bom Despacho, Região do Alto São Francisco, a agricultora Raquel Aparecida tem se destacado produzindo pão de queijo e biscoitos de batata e mandioca para fornecer para a merenda escolar, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A pequena fábrica funciona em parte da cozinha da casa da mãe, na zona rural do município, que foi completamente adaptada para atender às exigências sanitárias. Raquel começou a produzir em 2022, depois da morte do pai. Essa foi a forma que encontrou de ter renda, trabalhando na roça da família, ficando assim mais próxima da matriarca.
“Eu tinha uma vontade muito grande de produzir aqui na roça da minha mãe, porque eu amo, eu falo que aqui é um cantinho do céu. Eu fui criada aqui, tive que ir para Bom Despacho para trabalhar, assim que concluí o ensino médio. Trabalhei, casei-me, até que perdi meu pai. Então eu senti a necessidade de ficar mais perto da minha mãe e procurei a Viviane”, conta Raquel.
A Viviane Helena de Melo é a extensionista de bem-estar social do escritório local da Emater-MG. Foi ela quem sugeriu para Raquel investir na produção de pão de queijo e biscoitos para atender à demanda das escolas municipais e estaduais do município. “Num primeiro momento ela pensou na produção de ovos, eu cheguei a mostrar pra ela qual caminho teria que seguir, o que precisaria fazer de melhorias e ela viu que teria que ter um investimento maior, que não poderia naquele momento”, relata.
Diante desta dificuldade, a Viviane logo pensou em incluir a Raquel dentro de um novo programa desenvolvido pela Emater-MG, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação, iniciado em 2022, que qualificou produtores rurais para fornecerem alimentos para a alimentação escolar, já que as escolas públicas devem adquirir ao menos 30% de seus alimentos da agricultura familiar.
“Primeiro eu verifiquei com a nutricionista das escolas se haveria demanda de pão de queijo para merenda, eu já sabia que a Raquel tinha esta vocação. Com essa afirmativa, eu a procurei e perguntei se toparia atender a essa necessidade e ela amou”, recorda.
A extensionista da Emater-MG deu todas as orientações para que Raquel pudesse começar a produzir, de forma regularizada, como agroindústria da agricultura familiar, com investimento relativamente baixo. Além de instruir como seria todo o processo para vender para as escolas. Ainda em 2022, a Raquel vendeu 890 quilos de biscoitos para as escolas do Estado e 2 mil quilos para as escolas do município. No primeiro semestre de 2023, ela já fechou contrato para fornecer 1,4 mil quilos de biscoitos para as escolas estaduais e está em processo para fornecer volume semelhante para as municipais. Além da Raquel, a agroindústria familiar também gera renda para suas duas cunhadas e a mãe, que ajudam na produção.
Boa parte dos produtos utilizados para fazer os biscoitos e pães são também produzidos na propriedade, como os ovos e a mandioca. “A gente tem as galinhas, eu colho a mandioca daqui, uso leite e queijo daqui e também compro de vizinhos. Eu fico muito satisfeita e feliz por oferecer um produto que é feito com tudo da roça, que não tem nenhum ingrediente que possa agredir a saúde.
Segundo a extensionista da Emater-MG, o Pnae é um mercado interessante para os agricultores familiares, com grande demanda especialmente na área de panificação. Ela explica que como se trata de agricultura familiar, o processo de regularização das agroindústrias é simplificado. “Com pouco investimento as famílias já conseguem acessar este mercado, inclusive aqui no município mesmo tem demanda para outros produtos de panificação”, afirma.
Fonte: portaldoagronegocio