As chuvas intensas do início do ano provocaram um atraso na colheita da primeira safra de grãos no Brasil. O ritmo lento da colheita da soja trouxe preocupação para os produtores, diante da redução da janela para o plantio da segunda safra, que deverá ter o milho como principal lavoura. No entanto, a Emater-MG estima que, em 2023, a segunda safra de milho poderá ser uma das maiores dos últimos anos.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devido às chuvas, até o dia 18 de fevereiro, apenas 23% das lavouras de soja tinham sido colhidas no país, sendo que, no mesmo período de 2022, esse número chegava a 33% do total. “Em Minas Gerais, também houve um atraso, mas ocorreu uma recuperação dos trabalhos na segunda quinzena de fevereiro. O plantio está indo bem e deve haver um aumento da área de plantio da segunda safra do milho. Os produtores estão motivados pelos bons preços da soja, escolhendo a oleaginosa como cultivo de verão e agora o milho em sequência”, conta o coordenador estadual de Culturas da Emater-MG, Sérgio Brás Regina.
Rotação de culturas
Dados preliminares do acompanhamento de safras da Emater-MG mostram que a previsão da segunda safra de milho é de cerca de 454 mil hectares plantados, com uma produção estimada de 2,3 milhões de toneladas do grão. “A segunda safra de milho promete ser uma das maiores safras mineiras do grão. Além do aumento de produtividade, as áreas cultivadas na safrinha vêm crescendo de forma sensível nos últimos anos. Os produtores optaram pelo cultivo da soja na safra de verão e agora sucedem a oleaginosa com a cultura do milho, que também está com boas perspectivas de mercado”, comenta Sérgio.
De acordo com o coordenador da Emater-MG, a rotação de culturas é muito positiva para o solo. “A primeira planta é uma leguminosa de ciclo mais curto, que deixa no solo um residual de nitrogênio para a cultura subsequente”, explica. Sérgio destaca ainda que em Minas Gerais, a maior parte dos produtores vem adotando o sistema de plantio direto (a semente é colocada no solo não revolvido, sem aração), que também é muito benéfico para o solo e as águas.
O coordenador de Cultura da Emater-MG diz que, apesar da forte alta dos custos de produção, os produtores têm investido na lavoura, usando boas sementes, fertilizantes e muita tecnologia. “Os agricultores estão fazendo sua parte, mas a boa lucratividade vai depender do clima e de fatores externos. A seca na Argentina, o avanço da gripe aviária, o aumento do uso do biodiesel e as opções de plantio na América do Norte são fatores que podem influenciar nas cotações. Mas de uma maneira geral, o produtor está otimista”, salienta Sérgio.
Boa produtividade
Já a safra de verão deve chegar a 5,8 milhões de toneladas de milho em Minas Gerais, segundo os números levantados até agora pelo acompanhamento de safras da Emater-MG, numa área cultivada de 829,9 mil hectares. A produtividade estimada é de 5,8 mil quilos do grão por hectare. No caso da soja, a produtividade estimada é de 3.642 quilos por hectare, com 2,1 milhões de hectares plantados, e uma produção total prevista de 7,9 milhões de toneladas.
O gestor do acompanhamento de safra da Emater-MG, Thiago Emmanuel de Almeida, chama a atenção para o fato de que, em Minas Gerais, não está havendo uma concorrência entre as lavouras de milho e soja. “De acordo com o acompanhamento realizado, em Minas Gerais, a área em produção de milho primeira safra e a área em produção de soja vem aumentando. Isso ocorre, principalmente, porque o cultivo da soja está entrando em áreas de pastagens degradadas ou em desuso”, justifica Thiago.
Um exemplo de expansão das lavouras pelo Estado, em áreas que não tinham tradição no cultivo de grãos, é Madre de Deus, no Campos das Vertentes. O município tinha uma produção de 4 mil toneladas de soja e 30 mil toneladas de milho, em 2012. Uma década depois, o salto na produção é de impressionar. Em 2022, a colheita de soja foi de 36 mil toneladas e a de milho de 108 mil toneladas. “Entrou muita área de pastagem degradada em produção em Minas, porque os preços estão muito remuneradores e o sistema de integração lavoura pecuária (ILP) está sendo mais utilizado. Tudo isso é muito positivo, pois envolve recuperação ambiental e mais renda para o produtor”, salienta Sérgio.
Fonte: portaldoagronegocio