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Agronegócio

Plantas transgênicas, mais uma inovação no combate aos nematoides

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Plantas transgênicas, mais uma inovação no combate aos nematoides

Produtores rurais que enfrentam problemas graves com nematoides em suas plantações devem contar com novas ferramentas para combater esta praga. As novidades foram apresentadas no 37º Congresso Brasileiro de Nematologia, no início do mês, por pesquisadores da Basf e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Pesquisadores desenvolveram uma planta transgênica com resistência aos principais nematoides que atacam a soja e protocolos para técnica LAMP (Loop-mediated isothermal amplification of DNA) na diagnose de nematoides Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares).

O fitopatologista e pesquisador da Basf, Rodrigo Moreira Saraiva, anunciou que a empresa desenvolveu uma planta geneticamente modificada com resistência a Heterodera glycines (nematoide de cisto da soja) e Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares), que estão entre os principais nematoides que atacam a cultura da soja. Segundo ele, já existe um acordo nos EUA para o lançamento do novo produto nos próximos dois ou três anos. “No Brasil, o time de marketing estratégico da Basf estuda a melhor alternativa porque entendemos que o produtor precisa desse trait para nematoide, mas ele também precisa de um pacote tecnológico maior. Para o nematoide do cisto, hoje conseguimos aumento de 8% de produtividade e, para P. brachyurus, o controle do nematoide chega a 90%. Este lançamento será um marco na nematologia, pois para cisto já existe variedade resistente, mas para o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) não temos nada, somente os nematicidas”, comemora Saraiva.

O estudo para um novo trait para resistência a nematoides foi iniciado em 2014. “Hoje, 10% do portfólio de variedades de soja da Basf traz resistência aos nematoides de galha (Meloidogyne incognita e/ou M. javanica) e para o nematoide de cisto, 65% no portfólio do Cerrado”, conclui.

No ano passado, a Basf também lançou as duas primeiras variedades de algodão com resistência a Meloidogyne incognita (nematoide de galha). Segundo Saraiva, a empresa selecionou a primeira pré-variedade de algodão com resistência Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme), que esse ano entra como pré-comercial e o ano que vem comercial.

A importância dessas descobertas fica mais nítida diante das pesquisas de projeções do avanço dos nematoides. Pesquisa encomendada pela Basf apontou que, em 2020, 48% do total de plantio de soja no País, que era de 36,8 milhões de hectares, estava contaminada com Pratylenchus spp., 12% por Meloidogyne incognita e/ou M. javanica e 9% com Heterodera glycines. Uma projeção para o ano de 2035 aponta aumento da produção de soja para 50,3 milhões de hectares, a contaminação por Pratylenchus passaria para 68%, Meloidogyne, 27% e Heterodera, 26%.

Nos EUA

O nematologista da Basf nos USA, Michael T. McCarville, pontuou a importância das pesquisas pois o que se observa ano após ano é que mesmo com o aumento de produtividade devido o melhoramento genético, as perdas dos produtores continuam aumentando devido a ação dos nematoides. Ele apresentou uma pesquisa feita no estado americano de Iowa que aponta que do triênio 2001-2003 para 2013-2015, as colheitas de soja caíram de 96% para 91%. A projeção para o triênio 2028-2030 é de colheita de apenas 87% da área plantada, em virtude dos estragos de nematoide de cisto. “Os produtores não estão conseguindo 100% de produtividade porque o nematoide está lá, basicamente o aumento que conseguimos com o melhoramento genético é o almoço dos nematoides”, avalia McCarville.

Segundo o especialista, os EUA têm problemas apenas com uma espécie, o nematoide de cisto, e ele infesta a grande maioria das áreas de produção de soja. São mais de 1 bilhão de dólares perdidos por ano em consequência dos nematoides. Perdas que poderiam ser de mais de 3 milhões de dólares, mas que os EUA conseguiu reduzir para 1/3 graças o melhoramento genético. McCarville recomenda que o Brasil invista em pesquisa a longo prazo, onde se pode observar as consequências desse problema. “Vemos agora uma resistência maior das variedades. Então, não cultive uma variedade suscetível, pois não vai dar certo. Para combater o Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares), que no Brasil é o nematoide predominante na cultura da soja, a Basf tem um trait que após 90 dias do plantio até o final do ciclo, vemos que o controle do nematoide chega a 90%. O mesmo acontece com o nematoide de cisto”, comenta.

Técnica LAMP

O engenheiro agrônomo, fitopatologista e especialista em nematologia molecular, Everaldo Antônio Lopes, da UFV, apresentou as pesquisas com a técnica LAMP para diagnose de nematoides. Segundo ele, esta testagem é até 100 vezes mais sensível, se comparada com a técnica PCR convencional. “Temos diversos métodos de diagnose de nematoides, mas o LAMP é um dos mais simples e acurados. No momento, estamos trabalhando com protocolos de diagnose LAMP para as espécies Meloidogyne exigua e M. graminis. Os próximos serão M. paranaensis e M.incognita. A grande promessa desta técnica é que ela possa ser usada em condições mais rústicas, até em campo, por isso, nossa intenção é desenvolver kits LAMP para diagnose rápida de nematoides em campo, inicialmente para lavouras de café”, afirma Lopes.

A técnica LAMP surgiu em 2000, no Japão, e é um método molecular mais acessível, utilizada para a identificação de vários agentes, como bactérias, fungos e vírus. Mas somente em 2009, foi publicado o primeiro artigo para diagnose de nematoides. Entre as vantagens deste método molecular, está o fato de ser acurado na identificação das espécies. “Outra vantagem é que podemos usar este método em qualquer estágio de desenvolvimento do nematoide, ou seja, eu posso fazer uma identificação do nematoide, usando um ovo, um juvenil ou uma fêmea. Isso é uma vantagem enorme. Além de não depender de equipamentos e reagentes caros, como em outros métodos moleculares”, explica.

Outra vantagem da LAMP é que existem protocolos onde não é necessário o uso de DNA purificado, e a amplificação ocorre em uma única temperatura, não demandando três temperaturas distintas, como na PCR. Assim, o processo pode ser feito em banho maria ou bloco de aquecimento. Além disso, é possível usar indicadores de cor para saber se ocorreu ou não a amplificação, o que pode dispensar o preparo e revelação de gel de agarose.

“Recomendamos o uso de técnica de tubo fechado para não correr o risco de falsos positivos. Algumas desvantagens incluem a maior complexidade para desenho manual de primers, a concentração da disponibilidade de reagentes em uma empresa e a dificuldade para multiplex”, finaliza Lopes.

Na avaliação do especialista, para se ter decisões assertivas sobre o tipo de manejo a ser adotado, é fundamental ter uma diagnose acurada dos nematoides, e isso pode ser obtido com o uso da técnica LAMP.

Aqueles que não conseguiram participar do 37º Congresso Brasileiro de Nematologia podem ter acesso às palestras fazendo a inscrição por R$ 300 pelo site do evento https://37cbn.com.br. As palestras, foram todas gravadas e ficarão disponíveis por até seis meses após a realização do evento, que ocorreu de 1 a 4 de agosto de 2022. Esta é uma ótima oportunidade para conhecer as melhores inovações e tecnologias aliadas ao manejo integrado de nematoides.

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