Um biotecido de laboratório, semelhante ao tecido humano, tem se tornado uma boa promessa para testes de cosméticos e medicamentos. A pele artificial, criada por cientistas da USP (Universidade de São Paulo), ajudará a avaliar a segurança e a eficácia desses produtos, além de substituir o uso de animais nos testes, que divide opiniões há décadas.
A criação é uma conquista do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, que utilizou técnicas da bioengenharia para o desenvolvido do projeto.
Os testes apontaram resultados bastante satisfatórios e todo o estudo foi publicado na revista científica Bioprinting.
Para ter a pele artificial, os cientistas utilizaram bioimpressoras de última geração, pelo mecanismo de extrusão, que é o mais utilizado e permite uma reconstrução mais representativa da pele humana. O tecido é tão real que contém, na epiderme, toda a estrutura de uma pele natural, com as camadas basal, espinhosa, granulosa e córnea.
Pele in vitro
A Silvya Stuchi Maria-Engler, professora titular do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, disse em nota que, apesar de o tecido ser chamado de “pele artificial”, não se trata de algo sintético.
“É um tecido humano, extremamente semelhante à pele natural. Por isso se presta tão bem a testes de segurança e eficácia de compostos bioativos”, afirma a pesquisadora no artigo.
Antes de a ser liberada para venda, ela vem passando por avaliações para atestar a resistência e qualidade do tecido. Padrões de controle de qualidade e desempenho estabelecidos por instituições internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), foram utilizados como critérios de validação.
No estudo, publicado na Bioprinting, a autora do artigo, Denisse Esther Mallaupoma Camarena, disse que a pele in vitro contém as mesmas funções que pele humana.
“Isso indica que a pele reconstruída in vitro apresentará as mesmas funções da nossa, que conta com uma barreira seletiva contra o meio externo, protegendo de estressores químicos [poluição, produtos tópicos aplicados] e físicos [radiação solar], exercendo também a sua função de retenção hídrica”, diz a cientista no artigo.
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Proteção aos animais
A criação da pele artificial para e medicamentos também foi celebrada por profissionais da área animal.
O uso de animais em testes desses produtos divide opiniões e, com a chegada desse novo tecido, o risco de morte dos bichinhos diminui consideravelmente.
“A gente sabe que muitos testes são seguros, seguem protocolos dos órgãos fiscalizadores, mas o risco ainda existe e, enquanto existir esse risco, as discussões serão grandes”, observa ao Só Notícia Boa Juliana Ribeiro, médica veterinária.
Para a médica veterinária, é preciso redobrar a atenção: “Testes com resultados inesperados podem não só levar o animal ao óbito, mas deixá-lo com problemas de saúde para o resto da vida”.
Juliana diz que a luta de muitos protetores e profissionais da área é para que os testes não comprometam a saúde do animal.
“Muitos laboratórios têm o acompanhamento de veterinários e poucas pessoas sabem disso. A luta da gente para que esses testes acabem não é porque não acreditamos neles, é pela criação de meios, como essa pele artificial, que poupe os animais de problemas no futuro”, analisa.
Cuidado
A Natura, que sempre demonstrou cuidado com os testes, foi uma das empresas incentivadoras do estudo. A empresa idealizou o uso da bioimpressora para fabricação de pele e financiou parte do desenvolvimento.
“A disseminação de parte dos métodos desenvolvidos favorece no setor de cosméticos o uso de testes alternativos, que não envolvam animais, o que amplia ainda mais o nosso compromisso com a causa”, avalia Juliana Lago, gerente científica da Natura em um artigo.
Os próximos passos dos pesquisadores é criar modelos mais complexos, com as três camadas (epiderme, derme e hipoderme) e células representativas da pele humana, aproximando mais o modelo da realidade.
Com informações do ScienceDirect
Fonte: sonoticiaboa