Hoje (11), os moradores do Rio Grande do Sul foram surpreendidos com uma chuva diferente: é o raro fenômeno da chuva preta. As imagens que circulam em redes sociais mostram baldes e piscinas cheios de um líquido escuro.
Não é difícil imaginar que isso acontece por causa das queimadas que assolam o Brasil: mais de 60% do país está coberto por fumaça. No começo desta semana, São Paulo chegou a ser a metrópole com a pior qualidade do ar do mundo.
A situação é mais grave em toda a fronteira oeste do país, como é possível ver no mapa abaixo, gerado pelo site IQ Air. As cores representam a qualidade do ar, em que verde é boa, amarela é moderada, laranja é insalubre para grupos sensíveis, vermelho é insalubre, lilás é muito insalubre e o roxo escuro é perigoso.
A massa de ar insalubre (de cor vermelha e lilás) cobre principalmente o Sul e o Centro-oeste do país, mas também partes das regiões Norte e Sudeste. Segundo as previsões meteorológicas, é possível que chuvas pretas também sejam registradas em breve no Mato Grosso do Sul e em São Paulo.
Como se forma a chuva preta?
É um fenômeno semelhante ao da chuva ácida: a imensa quantidade de gases e partículas de poluentes no ar se une às partículas de água das nuvens. Quando chove, a chuva arrasta as partículas junto. Se por um lado a atmosfera pode ficar mais limpa e a qualidade do ar, melhor, a água preta causa bastante estranhamento.
Não é a primeira vez que o fenômeno acontece por aqui. Em 2019, a fumaça dos incêndios na Amazônia viajou o país em uma massa de ar e acabou se precipitando em São Paulo. Naquela ocasião, a chuva preta e com cheiro de fumaça que caiu na capital foi estudada por uma equipe de pesquisadores das Universidades de São Paulo e São Caetano do Sul.
“Essas amostras escurecidas de água da chuva apresentaram alta turbidez e estruturas fibrosas foram observadas juntamente com material particulado com aspecto queimado.”, eles escreveram no estudo, que foi publicado na revista Atmospheric Environment.
A água escura tinha resquícios vegetais que mostraram que a poluição vinha da queima de biomassa, ou seja, da queima da floresta. Essas moléculas são muito maiores do que as moléculas de gases comuns e, segundo os pesquisadores, podem modificar a dinâmica das nuvens e fazer chover antes da hora.
A chuva preta oferece risco à saúde?
Embora uma ou outro fenômeno de chuva preta isolado seja relativamente inofensivo para a saúde humana, é importante tomar cuidado. A água não deve ser consumida nem oferecida aos animais. Se possível, também não é hora de tomar banho de chuva.
A composição exata dessa chuva não é conhecida, mas é provável que ela contenha algumas substâncias que são prejudiciais para a saúde. “Estudos anteriores descobriram que as emissões da queima de biomassa na estação seca da Amazônia podem causar efeitos adversos à saúde humana da população local exposta;” escreveram os autores. “Observou-se que o material particulado é mutagênico e carcinogênico, com o risco potencial de danos ao DNA, mutação e câncer.”
Depois da chuva, é claro, essa água vai parar no solo e na vegetação. Assim como a chuva ácida, ela pode trazer prejuízos e danificar a estrutura das plantas e minerais. Tudo depende da quantidade, da composição da água, e outros fatores que variam de caso a caso. Resumindo: a chuva preta não é completamente inofensiva.
Os autores do estudo de 2019, que analisou várias amostras de chuva preta coletadas ao redor de São Paulo, consideram os resultados “muito preocupantes”. Especialmente porque, com as mudanças climáticas, o número de queimadas tende a aumentar – e isso pode ter impactos na saúde pública.
Fonte: abril