Já imaginou resolver todas as suas tarefas diárias – trabalho, compras, consultas médicas, lazer – em um raio de 15 minutos da sua casa, a pé ou de bicicleta? Parece um sonho distante, especialmente para aqueles que vivem em grandes cidades, mas é isso o que as “Cidades 15 minutos” propõem. Este modelo urbanístico promove o acesso a serviços e necessidades cotidianas a uma curta distância, em 15 minutos, seja a pé, de bicicleta ou utilizando o transporte público. Não seria maravilhoso se livrar do trânsito estressante apreciando a paisagem do seu bairro?
O conceito de “Cidades 15 minutos” é de 2016, definido pelo cientista franco-colombiano Carlos Moreno, mas a popularização veio durante a pandemia com Anne Hidalgo, prefeita de Paris. A ideia é criar comunidades mais compactas e sustentáveis, reduzindo a dependência de automóveis e promovendo estilos de vida saudáveis e conectados.
Os resultados dessa abordagem são positivos em diversas áreas. Primeiramente, há uma melhora significativa na qualidade de vida dos cidadãos, com acesso facilitado a serviços essenciais, aumento da atividade física, redução do tempo gasto em deslocamentos e, consequentemente, uma diminuição do estresse. Além disso, o modelo das “Cidades 15 minutos” promove a sustentabilidade ao reduzir a emissão de gases poluentes e o uso de carros, incentivando meios de transporte mais sustentáveis. Também fortalece a interação entre os moradores e o senso de comunidade.
Diversas cidades ao redor do mundo já estão implementando ou considerando políticas inspiradas nas “Cidades 15 minutos”. Por exemplo, Barcelona, na Espanha, está focando na criação de superblocos ou superilles (superilhas), áreas onde o tráfego de carros é restrito. Melbourne, na Austrália, está investindo em projetos de mixed-use, que combinam residências, comércio e serviços em um mesmo local. Portland, nos Estados Unidos, tem uma longa história de planejamento urbano voltado para a acessibilidade e mobilidade sustentável.
No Brasil, embora o conceito ainda não tenha sido adotado em larga escala, algumas cidades já consideram políticas alinhadas com os princípios das “Cidades 15 minutos”. São Paulo, por exemplo, tem discutido planos para revitalizar bairros e promover uma distribuição mais equitativa de serviços e infraestrutura. Curitiba também buscou a descentralização com as Ruas da Cidadania, que reúnem entidades de vários serviços públicos, e acabaram desenvolvendo forte comércio nessas regiões, atendendo bem sua população.
No entanto, ainda há muito a ser planejado e implementado nesse sentido. Para que o conceito seja efetivamente aplicado, a gestão pública desempenha um papel fundamental: incentivar a economia local e promover a participação ativa da comunidade no processo de planejamento e tomada de decisões.
Parques, áreas esportivas, shoppings e cinemas devem ser construídos onde as pessoas vivem, em vez de serem adicionados como elementos separados. Não necessariamente tudo precisa ser demolido e reconstruído; ao invés disso, o espaço público existente pode ser repensado para atender às necessidades da comunidade. É essencial adotar uma abordagem criativa para aproveitar ao máximo os recursos já disponíveis. Afinal, as “Cidades 15 minutos” representam um modelo mais sustentável, humano e resiliente.
Um modelo interessante e promissor para o futuro das cidades, em que a proximidade e a acessibilidade se tornam os pilares de uma vida mais equilibrada e satisfatória. Uma volta ao simples, como antigamente, em que “ir à cidade” (expressão usada aqui no Sul que se refere a ir a um centro comercial) jamais levaria alguém a ficar preso num congestionamento.
Fonte: gazzconecta