CENÁRIO AGRO

Tarifa de 50% dos EUA representa desafio para fruticultura brasileira

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Desde 6 de agosto, entrou em vigor a tarifa total de 50% (resultado da soma da já antiga taxa de 10% à sobretaxa de 40% anunciada em julho) imposta pelos Estados Unidos às exportações de frutas frescas brasileiras àquele país, o que representa um dos maiores desafios recentes ao setor nacional. A edição de agosto da revista Hortifruti Brasil/Cepea, publicação do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, aponta que, apesar da forte pressão sobre a competitividade, a manutenção parcial dos embarques das principais frutas e derivados para o mercado norte-americano afasta, no curto prazo, um cenário de colapso na cadeia produtiva.

A Equipe de Hortifrúti do Cepea, responsável pelo estudo, avaliou os principais produtos exportados para os Estados Unidos e entrevistou agentes estratégicos das cadeias produtivas. O levantamento concentrou-se em três produtos-chave da pauta exportadora: suco de laranja, manga e uva. Apenas o suco de laranja – mas não seus subprodutos – foi isento da sobretaxa de 40%, permanecendo sujeito à tarifa de 10% acrescida da taxa fixa de US$ 415/tonelada. Já manga e uva seguem com tributação total de 50%, encarecendo o produto no destino e comprimindo diretamente as margens de exportadores e produtores brasileiros.

Entrevistas realizadas pela equipe do Cepea com as principais exportadoras de manga e uva revelam que parte dos embarques será mantida no segundo semestre para honrar contratos estratégicos e minimizar perdas comerciais imediatas. Como o anúncio da sobretaxa ocorreu após a definição logística e o fechamento de acordos, há pouca margem para redirecionar vendas nesta safra. Ainda assim, permanece incerta a dimensão do excedente que deixará de ser exportado e o impacto sobre a capacidade de reinvestimento nas próximas safras, especialmente no Vale do São Francisco.

No caso do suco de laranja, a isenção da sobretaxa resultou de articulação institucional e da comprovação da interdependência Brasil-EUA: a indústria norte-americana depende majoritariamente do produto brasileiro, enquanto empresas nacionais mantêm investimentos bilionários em fábricas e terminais nos EUA. A CitrusBR destacou ao Cepea que esses fatores foram determinantes para a exclusão do produto da medida tarifária.

A Abrafrutas, que também participou do estudo, declarou que o momento exige uma dupla estratégia: negociar com importadores para diluir o impacto tarifário e preservar contratos; e acionar o governo brasileiro para adotar medidas emergenciais, como prorrogação de custeios, crédito a juros reduzidos, antecipação de créditos à exportação e restituição acelerada de ICMS. Sem esse suporte, alerta a entidade, há risco de queda acentuada de preços, erosão de margens e perda de capacidade de investimento futuro, afetando cadeias como açaí, gengibre, manga e uva.

A revista Hortifruti Brasil aponta três frentes prioritárias de ação, são elas:

  • Mobilização internacional – Negociar ajustes com importadores e pleitear isenção tarifária para frutas não cultivadas nos EUA ou em janelas específicas do mercado norte-americano.
  • Ações governamentais – Criar linhas emergenciais de crédito, prorrogar financiamentos e acelerar a restituição de tributos.
  • Gestão estratégica – Escalonar colheitas, reduzir custos logísticos e diversificar mercados, com foco em Europa, América do Sul e Ásia.

Segundo Margarete Boteon, coordenadora da Hortifruti Brasil, “a manutenção parcial dos embarques aos EUA, aliada a medidas emergenciais e à diversificação de mercados, será determinante para preservar não apenas a competitividade, mas também a rentabilidade e a capacidade de investimento da fruticultura brasileira — especialmente das cadeias mais vulneráveis, que geram emprego, renda e valor agregado no campo e na indústria”.

Fonte: cenariomt

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