Vivemos em uma sociedade que nos ensina a romantizar as relações tóxicas e o relacionamento abusivo, mascarando atitudes, comportamentos e sentimentos nocivos com o nome de amor.
Com certa frequência temos visto figuras públicas trazendo à tona a realidade vivida em seus relacionamentos quando identificam o abuso e uma coisa sempre fica evidente em suas falas “eu acreditava que isso era amor…”
Recentemente mais um caso de figuras públicas veio à tona e tomou conta das redes sociais na última quarta-feira (8). Dessa vez, a vítima é a comediante alemã Lea Maria, que acusa o marido, também humorista, Juliano Gaspar de violência doméstica física e psicológica. A seguir falaremos mais afundo sobre o caso.
Outros casos que ficaram famosos foram de Duda Reis e Nego do Borel e Karol Conká. Mas por que será que isso acontece? Se repete mesmo com tanta informação circulando por ai e acessível para qualquer pessoa?
É preciso propor a reflexão sobre relacionamentos para identificar e desmistificar crenças e conceitos.
A cultura é responsável pela disseminação desse conceito de relacionamento?
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As crenças que carregamos em nome desse amor romântico vêm disfarçadas da esperança de que esse comportamento irá mudar, ou pior, que o nosso amor pelo outro fará que com que ele mude, reforçando a crença que através desse amor somos capazes de reabilitar aquele ser, tornando-o um parceiro melhor.
Renegamos o histórico de comportamento, todas as evidências e também os conselhos dos amigos e familiares, acreditando que com a gente será diferente. Afinal, é a nossa história de amor, o nosso romance, a nossa chance, e merecemos um final feliz, assim como nos livros, séries, músicas e filmes perpetuados na nossa cultura.
E por falar em cultura, ela é a grande responsável pela disseminação desse conceito de relacionamento abusivo travestido de amor romântico; já que eles são um sucesso – praticamente inegável, embora inconsciente.
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Desde a saga Crepúsculo (voltada ao público adolescente), o casal sensação Chuck e Blair de Gossip Girl, a trilogia de Cinquenta Tons de Cinza, para os adultos com a sua idolatria pelo poderoso Sr. Grey e a frágil Anastácia.
Nem mesmo os personagens da (maravilhosa!) série Greys Anatomy, Meredith Grey e Derek Shepherd, que inspiraram tantas frases e votos de casamentos ficaram isentos de viver por várias temporadas o relacionamento abusivo mais uma vez disfarçado – no inconsciente – de amor.
Toda relação abusiva é tóxica, mas nem toda relação tóxica é abusiva
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Toda relação abusiva é tóxica, mas nem toda relação tóxica é abusiva. O relacionamento abusivo pode ser enquadrado como algum tipo de crime, já que frequentemente evolui para a agressão física.
Mas se você não consegue perceber a diferença, não se culpe. É mais difícil do que parece, já que a diferença entre relacionamento tóxico e abusivo é tênue.
Porém ambos fazem mal para a saúde física e emocional dos envolvidos e se não tratados seu impacto pode ser sentido também no desempenho acadêmico, profissional e familiar, fragilizando a autoestima, roubando a energia e vitalidade, perdendo sua autenticidade e levando ao isolamento.
Fases do relacionamento abusivo
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O relacionamento abusivo tem fases que chamamos de ciclo da violência: a pessoa abusiva tende a ser incrível, depois passa a ter explosões de raiva, ciúme, controla seu comportamento, monitora seu telefone e suas redes sociais e acredita que foi o outro que provocou essas atitudes e passa a agredi-la verbal e fisicamente.
A melhor forma de entender a diferença entre relacionamento saudável, tóxico e abusivo é observar como as pessoas reagem em cada situação, como por exemplo no caso do ciúme – que por muito tempo foi visto como demonstração de interesse pelo outro e agora já se sabe que ciúme é manifestação de insegurança.
Em um relacionamento saudável o ciúme é tratado como uma emoção comum; a pessoa que sente consegue fazer autocritica e conversar sobre o assunto com calma e transparência para amenizar esse sentimento.
Na relação tóxica, a pessoa acredita que o ciúme demonstra o quanto ela ama e valoriza o outro e usa dessa justificativa para controlar sutilmente a vida do parceiro.
Na relação abusiva, a pessoa é possessiva, distorce situações e duvida constantemente do parceiro. Assim, pode proibir determinados comportamentos do outro, ter crises de raiva e se tornar verbal e fisicamente agressiva.
Esse é somente um dos exemplos onde os comportamentos podem ser observados de forma mais explícita, mas não raro relacionamentos abusivos se transformam em dependência emocional: um transtorno psicológico que ainda é visto como prova de amor.
Sinais de um relacionamento abusivo
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Pessoas vítimas de relacionamentos abusivos com frequência se tornam dependentes emocionais dos seus parceiros. Essa dependência faz com que muitos permaneçam nesses relacionamentos entendendo que apesar da violência, ela é uma forma de atender a necessidade de ser amado.
A pessoa com autoestima fragilizada não tem forças para sair desse labirinto emocional; assim, entrega sua vida e sua felicidade nas mãos de seu parceiro, independente de como ele se comporte.
A pessoa que está enfrentando esse tipo de situação em um relacionamento não deve ser julgada ou criticada, mas amparada por seus amigos e familiares.
Saliento também que a ajuda de um profissional é fundamental nesse processo de fragilidade. Pois assim, a pessoa pode receber o suporte e conseguir o empoderamento emocional necessário para sair desse relacionamento, ressignificar suas emoções e estar preparada para um relacionamento saudável no futuro.
Medo: um sinal claro de que há um relacionamento abusivo
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O medo é talvez o sinal mais óbvio de que estamos enfrentando abusos. Às vezes é um medo severo e óbvio: a pessoa fica muito tensa na presença do outro e constantemente pensa em “punições” ou nas consequências que o ato de antagonizar aquela pessoa pode ter.
Controle excessivo sobre tudo que você faz
Em um relacionamento abusivo, um deles tem que dar aos outros contas constantes de tudo o que está fazendo e até mesmo o que está pensando ou sentindo. Você sente que não tem liberdade para se mover ou agir sem primeiro consultar ou informar a outra pessoa. Por exemplo, a Karol Conká durante o reality insinua que o Arcrebiano não pode falar com a Juliette.
Ameaça e compulsão estão presentes no relacionamento abusivo
Em um relacionamento abusivo, a pessoa acaba forçando o outro a fazer algo que ele não quer. Isso pode ser feito por meio de agressão direta ou por meio de ameaças e coerções mais sutis.
Nesse caso, é muito claro de onde vem seu poder. Se isso for devido à dependência econômica, ameaças imediatas ou ocultas se concentrarão lá.
Você não pode mais conversar com alguns amigos
O isolamento é um sinal de que você está em um relacionamento emocionalmente abusivo. É terrível que sua sanidade esteja sendo tirada de seus amigos porque seu parceiro não os “aceita”.
Extremo ciúme no relacionamento abusivo
Um pouco de ciúmes é perfeitamente normal. Você se preocupa com seu parceiro e nunca quer que outra pessoa o atraia. Porém, se há ciúmes extremo, isso é um abuso.
Ficar preso em um relacionamento abusivo pode ser muito difícil se você nem sabe que é um abuso. Com essas dicas, você pode descobrir o relacionamento emocional abusivo e encerrá-lo o mais rápido possível.
O que houve entre Lea Maria e Juliano Gaspar?
O casal conhecido pelos vídeos de humor que viralizaram nas redes sociais e estouraram com suas apresentações de stand-up comedy em todo Brasil e também no exterior.
A denúncia chocou amigos, familiares e seus seguidores que relataram como o casal parecia ter um relacionamento perfeito, leve e descontraído durante os 6 anos em que estiveram casados.
Lea Maria Jahn que morava em Berlim, veio para o Brasil acompanhar a carreira do marido Juliano em 2017 e desde então eles se apresentavam juntos no show “Bad Trip”. Ela ficou famosa com seus vídeos e falas peculiares sobre a cultura brasileira e a língua portuguesa.
Lea, registrou o boletim contra Juliano no dia 03 de fevereiro, já fez o exame de corpo delito e acusa Juliano de violência doméstica, psicológica e patrimonial – na violência patrimonial o abusador controla
a vítima usando dinheiro, bens e documentos.
Lea, publicou um vídeo nas redes sociais com o braço imobilizado falando sobre a violência sofrida e diz que está recebendo o apoio da família e orientações médicas e psicológicas. No vídeo Lea agradece aos fãs e seguidores pelas mensagens de preocupação.
Violência contra mulher não é só física
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é a principal legislação brasileira para a enfrentar a violência contra a mulher. A norma é reconhecida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência de gênero.
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Além da Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 2015, colocou a morte de mulheres no rol de crimes hediondos e diminuiu a tolerância nesses casos.
Mas o que poucos sabem é que a violência vai muito além da agressão física ou do estupro. A Lei Maria da Penha classifica os tipos de abuso contra a mulher nas seguintes categorias: violência patrimonial, violência sexual, violência física, violência moral e violência psicológica.
Conheça outros 10 tipos de abuso
1. Humilhar, xingar e diminuir a autoestima
Agressões como humilhação, desvalorização moral ou deboche público em relação a mulher constam como tipos de violência emocional.
2. Tirar a liberdade de crença
Um homem não pode restringir a ação, a decisão ou a crença de uma mulher. Isso também é considerado como uma forma de violência psicológica.
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3. Fazer a mulher achar que está ficando louca
Há inclusive um nome para isso: o gaslighting. Uma forma de abuso mental que consiste em distorcer os fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida sobre a sua memória e sanidade.
4. Controlar e oprimir a mulher
Aqui o que conta é o comportamento obsessivo do homem sobre a mulher, como querer controlar o que ela faz, não deixá-la sair, isolar sua família e amigos ou procurar mensagens no celular ou e-mail.
5. Expor a vida íntima
Falar sobre a vida do casal para outros é considerado uma forma de violência moral, como por exemplo vazar fotos íntimas nas redes sociais como forma de vingança.
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6. Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
Nem toda violência física é o espancamento. São considerados também como abuso físico a tentativa de arremessar objetos, com a intenção de machucar, sacudir e segurar com força uma mulher.
7. Forçar atos sexuais desconfortáveis
Não é só forçar o sexo que consta como violência sexual. Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, como a realização de fetiches, também é violência.
8. Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar
O ato de impedir uma mulher de usar métodos contraceptivos, como a pílula do dia seguinte ou o anticoncepcional, é considerado uma prática da violência sexual. Da mesma forma, obrigar uma mulher a abortar também é outra forma de abuso.
9. Controlar o dinheiro ou reter documentos
Se o homem tenta controlar, guardar ou tirar o dinheiro de uma mulher contra a sua vontade, assim como guardar documentos pessoais da mulher, isso é considerado uma forma de violência patrimonial.
10. Quebrar objetos da mulher
Outra forma de violência ao patrimônio da mulher é causar danos de propósito a objetos dela, ou objetos que ela goste.
Por Camila Custódio do Consultório Emocional editado por
Fonte: fashionbubbles